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ARTIGO
Entreguismo neoliberal
JOSÉ CONRADO DE SOUZA
O atual Congresso, formado em
sua maioria por neoliberais, aprovou a flexibilização do monopólio
do petróleo da União, porque, segundo eles, os preços cairiam e seriam gerados novos empregos. Para evitar reações da sociedade, difundiram seus chavões: "o mundo
mudou", "caiu o muro de Berlim", "o monopólio não é da Petrobrás, é da União", "a Petrobrás
não tem recursos para investir no
petróleo brasileiro".
Deixando de lado esses sofismas
neoliberais, vejamos os fatos.
O monopólio do petróleo sempre foi da União. É do Estado brasileiro. Ele é seu. É do cidadão. É
de 160 milhões de brasileiros. É
nosso, de nossos filhos, de nossos
netos. Temos a obrigação de deixar para eles um país rico e não
uma terra saqueada.
Agora, quem é a Petrobrás? A
Petrobrás é a empresa que foi criada para executar o monopólio do
petróleo da União.
E os objetivos desse monopólio
foram alcançados?
Com toda a certeza, podemos dizer que sim. A Petrobrás recolhe
aos cofres do governo US$ 6 bilhões/ano em impostos e outro
tanto na forma de dividendos
-que não voltam, uma vez que os
US$ 80 bilhões investidos por ela
no desenvolvimento do petróleo
brasileiro foram oriundos da parcela que recebe dos preços dos
combustíveis.
Assim, a Petrobrás construiu 11
refinarias, dez grandes terminais
marítimos, vários terminais terrestres, centenas de quilômetros
de oleodutos, a segunda maior
frota de petroleiros do mundo.
Descobriu 15 bilhões de barris de
reservas petrolíferas e, nos seus 43
anos, sempre vendeu combustíveis a preços inferiores aos praticados por refinadores estrangeiros, propiciando uma economia
de divisas de US$ 200 bilhões.
A revista "Petroleum Intelligence Weekly", editada nos EUA,
avaliando vários parâmetros (número de empregados, faturamento, aumento das reservas, capacidade de refino etc.), desde 1987
vem considerando a Petrobrás como a empresa de petróleo que
mais cresce no mundo.
Não há dúvida: a Petrobrás dispõe de técnicos dotados de notória
competência e é respeitadíssima
no contexto internacional.
Nesse ponto, eu indagaria: você
escolheria um pedreiro para presidir um hospital? Ou um mecânico
para reitor de uma universidade?
É claro que não! O hospital e a universidade fracassariam.
No entanto, FHC nomeou o genro e outros apadrinhados do poder para gerir a Agência Nacional
de Petróleo -todos desconhecendo o que vem a ser uma refinaria,
um poço de petróleo...
O objetivo dos neoliberais é destruir a Petrobrás. O ministro Sérgio Motta acusou a empresa de
importar US$ 9 bilhões em petróleo. Por isso, a empresa deve ser
desossada -osso a osso. Ou seja,
"privatizada". Vejamos os fatos.
Os EUA consomem 16 milhões
de barris de petróleo/dia. Nos últimos cinco anos, o preço médio,
no mercado internacional, foi de
US$ 22/barril. Os EUA importam
9,6 milhões de barris/dia (60% da
demanda) -US$ 77 bilhões/ano.
Porém, se considerarmos o custo despendido para manter no
Golfo Pérsico o formidável aparato bélico, o preço do petróleo importado pelos EUA subiria para
US$ 90/barril e o custo anual seria
de US$ 315 bilhões.
No entanto, o governo norte-americano parece convencido de
que essa é a mais correta decisão,
porque preserva as reservas de petróleo dos EUA para as gerações
futuras de norte-americanos.
No Brasil, os neoliberais pensam
o oposto. O genro de FHC, em seu
discurso de posse, entre outras
sandices, afirmou: "Nos últimos
40 anos, a Petrobrás esteve incumbida de explorar as 29 bacias sedimentares conhecidas no país. Nenhuma outra empresa do mundo
jamais teve sob sua responsabilidade uma área tão grande a explorar".
Na verdade, o governo criou o
monopólio do petróleo da União
em 1954. Por outro lado, a descoberta de petróleo no mundo ocorreu em 1859.
Portanto, as 29 bacias mencionadas pelo genro de FHC estiveram à disposição de qualquer empresa durante 95 anos (1859 a
1954). A única conclusão a que
chegaram foi a de que no Brasil
não havia petróleo, gerando o espetacular movimento "O petróleo
é nosso", que transformou a Petrobrás em uma das maiores empresas do setor no mundo.
Agora, descoberta a riqueza, o
genro de FHC, sob a alegação de
atrair o capital multinacional, afirmou: "O petróleo não é mais nosso. É vosso".
Porém algumas perguntas precisam de respostas urgentes. De
quem será o petróleo descoberto
pelo capital multinacional? Das
empresas multinacionais? O que
poderão fazer com o petróleo brasileiro? Vender para a Petrobrás
ou exportar?
A que preço? Ao preço pelo qual
a Petrobrás é remunerada (US$
10/barril)? Ou será ao preço do
mercado internacional (US$
22/barril, preço médio dos últimos cinco anos)? Quem embolsará a diferença (US$ 22 - US$ 10)?
As multinacionais? A ANP?
Quem? Isso é livre mercado ou negociata?
José Conrado de Souza, 51, é engenheiro do
Departamento de Abastecimento da Petrobrás e
diretor de comunicações da Associação dos Engenheiros da Petrobrás.
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