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DEBATE INTERNO
Líder do governo no Senado afirma que tema será submetido ao CMN em junho; ministro Palocci nega
Mercadante diz que meta de inflação de 2005 pode mudar
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O líder do governo no Senado,
Aloizio Mercadante (PT-SP), disse ontem à Folha que o CMN
(Conselho Monetário Nacional)
"poderá mudar a meta de inflação
do ano que vem para até o limite
deste ano, que é de 5,5%".
Traduzindo: a meta de inflação
definida para 2005 é de 4,5% no
ano, mas poderá ser elevada para
até 5,5% (meta de 2004), mantendo-se a variação de 2,5 pontos
percentuais (banda) para cima ou
para baixo. "Quem vai decidir isso é o CMN, mas há hoje no governo um forte consenso de que
poderá fazê-lo", disse.
A meta de inflação deverá entrar na pauta do CMN de junho,
quando será definida a meta para
2006. Na ocasião, a meta do próximo ano poderia ser alterada. O
CMN é composto pelos ministros
Guido Mantega (Planejamento) e
Antonio Palocci Filho (Fazenda),
além do presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles.
O ministro da Fazenda, porém,
negou que houvesse um debate
sobre o tema dentro do governo.
"Isso [a mudança da meta para
2005] não está na pauta. O que está na pauta é o combate à inflação
e isso está tendo resultados excelentes", disse o ministro Palocci.
Se confirmada, a mudança da
meta de 2005 seria uma inflexão
importante na política econômica
de Palocci, que prefere não mexer
nesta meta e, eventualmente, se
necessário, usar o intervalo de 2,5
pontos percentuais. Uma eventual mudança tem como objetivo
se precaver contra uma piora do
cenário externo e o conseqüente
efeito negativo sobre a economia
brasileira.
De acordo com Mercadante, a
alteração da meta de inflação, cujo índice oficial é o IPCA (Índice
de Preços ao Consumidor Amplo), foi debatida pelo presidente
Luiz Inácio Lula das Silva em reunião anteontem no Palácio do
Planalto com vários ministros,
entre eles Palocci, Mantega, José
Dirceu (Casa Civil), Ciro Gomes
(Integração Nacional), Luiz Roberto Furlan (Desenvolvimento)
e Celso Amorim (Relações Exteriores).
"O superávit primário não será
alterado. A âncora fiscal será usada ao máximo", disse o líder do
governo no Senado. A meta de superávit primário (economia do
setor público para o pagamento
de juros da dívida) é de 4,25% do
PIB (Produto Interno Bruto).
Cenário internacional
Mercadante disse que o presidente deu início a um processo de
consulta "mais amplo, ouvindo
mais gente do que o chamado
"núcleo duro'". Nesse sentido, fez
longa reunião anteontem no Palácio do Planalto, numa continuação da discussão da LDO (Lei de
Diretrizes Orçamentárias), na
qual debateu o cenário econômico deste e do próximo ano.
A LDO não foi enviada com
mudança da meta de inflação para 2005 porque cabe ao CMN tomar uma decisão nesse sentido.
Nos bastidores, porém, a decisão
será do presidente da República.
Na reunião de anteontem, Mercadante disse que o atual câmbio
(cotação do real em relação ao dólar) é visto como "confortável",
permitindo boa competitividade
ao exportadores brasileiros no cenário internacional. Logo, está
descartada qualquer hipótese de
intervenção via câmbio.
Disse que a dívida pública "tem
tido melhora no seu perfil, com a
diminuição de papéis indexados
ao dólar de 49% para 17% do total". Afirmou que todos concordaram que o superávit comercial,
cuja previsão para 2004 é de US$
24 bilhões, tem tranqüilizado o
governo.
De onde então viria um problema capaz de justificar um ajuste
no regime de metas de inflação?
Para Mercadante, esse problema
viria do cenário internacional.
Na reunião, todos concordaram
que há tendência de alta dos juros
norte-americanos (atualmente
em 1% ao ano), o que deve acontecer, previram, após a eleição
presidencial de novembro.
Falou-se ainda que pressões inflacionárias na China poderiam
reforçar a piora do cenário internacional, atingindo principalmente países emergentes como o
Brasil.
É por isso, diz Mercadante, que
o Conselho Monetário Nacional
poderá mudar a meta de inflação.
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