São Paulo, segunda-feira, 17 de maio de 2004

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TENSÃO PRÉ-COPOM

Mercado está dividido, mas maioria dos analistas ainda estima corte de 0,25 ponto da taxa Selic nesta semana

Dólar e petróleo põem o Copom em xeque

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central se reúne amanhã e na quarta-feira para decidir sua taxa de juros dividido entre dois riscos: o primeiro, parecer imprudente ou sujeito a pressões políticas ao promover uma queda em meio às recentes turbulências do mercado; o segundo, contribuir para o clima de pessimismo ao manter os atuais 16% ao ano.
A perspectiva cada vez mais palpável de alta dos juros nos EUA e a escalada das cotações do petróleo, que fecharam a semana passada em níveis recordes, levaram o dólar a subir no Brasil e criaram o dilema para o Copom (Comitê de Política Monetária, formado pelo presidente e pelos oito diretores do BC).
Embora um número significativo de analistas tenha passado a sustentar que o BC não mexerá no atual nível dos juros, grande parte das apostas ainda aponta para uma queda mínima da taxa.
Na sexta-feira, projeções dos juros futuros, negociados na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), mostravam a expectativa do mercado de que a taxa seria reduzida em 0,25 ponto percentual.
"Mesmo com um patamar de câmbio um pouco acima do imaginado, o cenário para a inflação ainda é bem favorável", diz Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco. "A queda de 0,25 ponto percentual não pode ser considerada como não-conservadora, e os custos reputacionais e para as expectativas são irrelevantes", afirmou.
Para Hugo Penteado, economista-chefe do ABN Amro Asset Management, as altas do petróleo e do dólar não são motivos suficientes para fazer o BC abandonar já a redução gradual de juros.
"O BC vai dizer que volatilidade de cinco dias não é suficiente para mudar a perspectiva que ele vinha traçando na política monetária", disse Penteado, que defende a redução de 0,25 ponto. "Pessimismo e grandes exageros não podem nortear a política monetária. Ela não deve sancioná-los."
"Há uma entrada importante de dólar. A balança comercial projetada para o ano está em quase US$ 25 bilhões", acrescenta Marcelo Salomon, economista-chefe do Unibanco, que também aposta numa redução mínima da Selic, para 15,75% ao ano.
Luiz Antonio Vaz das Neves, diretor de pesquisa da corretora Planner, estima que o Copom vá baixar a Selic e festejar a primeira vez em que a inflação ficou abaixo da meta em 12 meses. Para Neves, "o prejuízo político de ter barrado as reduções no começo do ano foi grande. [O Copom] não vai repeti-lo com esse trunfo [queda da inflação] nas mãos", diz
Em boletim distribuído aos clientes da empresa de consultoria Tendências, o ex-presidente do BC Gustavo Loyola defende a redução dos juros para 15,75% anuais, embora avalie que os membros do Copom vão ficar "reféns da conjuntura de mercado vigente no início da semana".

Sinais do governo
As reações do governo à instabilidade do mercado mostram a clara preocupação de não ratificar desconfianças quanto às possibilidades de crescimento da economia e à continuidade da agenda legislativa da Fazenda.
Na última terça, em reunião com líderes partidários do Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a aprovação rápida de projetos como o da nova Lei de Falências e o das PPPs (Parcerias Público-Privadas). "Preciso dar argumentos ao Copom para baixar os juros", disse Lula, segundo os senadores.
"Não há razão para acreditar que essa movimentação que ocorre hoje possa trazer uma deterioração das nossas contas e da nossa retomada de crescimento", disse na quinta o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) -ao lado de Lula, que concordou.


Colaborou Fabricio Vieira, da Reportagem Local


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