São Paulo, domingo, 17 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
Valor é três vezes e meia o faturamento da CSN em 97; ações da Pfizer subiram mais de 50% em 98
Viagra deve render até US$ 11 bi por ano

RICARDO GRINBAUM / CLÁUDIA PIRES
da Reportagem Local

A cápsula azul está virando ouro. Médicos norte-americanos estão aviando mais de 200 mil receitas do Viagra -remédio que combate a impotência sexual- por semana. Os analistas financeiros acreditam que, nesse ritmo, o medicamento vai render entre US$ 5 bilhões e US$ 11 bilhões por ano, três vezes e meia o faturamento da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) no ano passado.
A Bolsa de Valores de Nova York está eufórica com os avanços da indústria farmacêutica. Desde o início do ano, as ações da Pfizer, laboratório que produz o Viagra, subiram mais de 50%. Um pequeno laboratório, Entremed, viu o preço de seus papéis aumentar sete vezes depois de descobrir a cura do câncer -em ratos.
Wall Street adotou a indústria farmacêutica como um de seus alvos prediletos, ao lado de empresas de tecnologia de ponta, como a Microsoft. Um estudo do banco de investimentos Smith Barney/Salomon Brothers projeta valorização das ações dos oito maiores laboratórios em 12,4% acima da média das 500 maiores empresas norte-americanas em 98.
A razão é que existe uma nova geração de super-remédios fazendo bem aos cofres da indústria. "Está ocorrendo uma revolução tecnológica e econômica na indústria farmacêutica mundial", diz Omilton Visconde, dono do laboratório brasileiro Biosintética.
Os maiores laboratórios do mundo investem US$ 2 bilhões por ano, cada um, em pesquisas de novos produtos. Eles contratam vencedores do Prêmio Nobel, usam minirobôs e até pesquisam substâncias em estações espaciais.
O resultado é que o tempo para a descoberta de um novo medicamento está caindo de 10 a 15 anos, para a metade. Com os avanços nos conhecimentos de química e biologia molecular, os cientistas estão atirando direto no alvo.
"Há 30 anos, criar um novo medicamento era uma experiência de tentativa e erro. Agora, os remédios são planejados para atacar exatamente a etapa química em que a doença se desenvolve", diz Joaquim Prado, diretor médico da Merck Sharp & Dome brasileira.
Considere os medicamentos contra a úlcera de estômago. Há 30 anos, o tratamento para a doença consistia em dieta, reza e a mesa de operações. Na década de 70, surgiu um remédio, Tagamet, que ameaçou o emprego dos cirurgiões. Seu reinado durou pouco.
O Tagamet foi logo ultrapassado pelo Antak, que chegou a vender mais de US$ 3 bilhões por ano. Agora, é a vez da terceira geração. O Losec promete menos efeitos colaterais que os antecessores e está figurando como o remédio mais vendido do mundo em 97.
"O objetivo de todos os laboratórios é criar um campeão de vendas", diz Elói Bosio, presidente da Pharmacia Upjohn no Brasil. Chamados de arrasa-quarteirão nos EUA, esses produtos fazem a diferença na concorrência.
Há cinco anos, as ações da Eli Lilly valiam US$ 17 bilhões na Bolsa de Nova York. Graças a produtos como o antidepressivo Prozac, o preço dos papéis é US$ 60 bilhões mais alto hoje em dia. O apelido de "pílula da felicidade" valeu, ao menos, para os acionistas.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.