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ESQUELETOS DO BC
Ex-dono do Excel diz que instituição não tinha rombo e que governo fez tudo para ajudar espanhóis do BBV
Nasser diz que BC o obrigou a vender banco
DA REPORTAGEM LOCAL
O Banco Central está novamente às turras com um fantasma do
passado. Depois do ex-controlador do Bamerindus José Eduardo
Andrade Vieira, chegou a vez de
Ezequiel Nasser colocar a boca no
mundo sobre as práticas do BC.
Depois de três anos em silêncio,
Nasser dá uma versão apimentada para a venda do Excel Econômico para os espanhóis do BBV,
fechada em agosto de 1998.
O banqueiro, que deixou a cena
financeira brasileira sob uma enxurrada de denúncias de irregularidades e de má gestão, decidiu
processar o BC e o BBV.
Sua argumentação: o Excel Econômico nunca amargou um rombo de R$ 1 bilhão e valia muito
mais do que o R$ 1,00 pago pelos
espanhóis. Nasser teria sido coagido a vender seu banco ao BBV
sob ameaça de liquidação pelo
mesmo BC que aprovou todos os
seus balanços.
O que chama a atenção para a
história de um homem como
Nasser é artilharia pesada de sua
argumentação. Segundo ele, o governo brasileiro fez tudo, inclusive mudanças em uma regra bancária, para beneficiar os espanhóis do BBV. Nasser afirma que
o Brasil precisava do US$ 1,5 bilhão que o BBV trouxe ao país para investir no Excel porque a economia brasileira estava contaminada pela crise asiática, iniciada
em julho de 1997.
O negócio não teria beneficiado
apenas o governo. O BBV teria
aplicado todo o dinheiro trazido
da Espanha em agosto e outubro
em títulos públicos cambiais e faturado alto. Como nenhum centavo foi usado para tampar o
rombo de R$ 1 bilhão, conclui o
banqueiro, o rombo não existia e
o dinheiro só serviu para encher
os bolsos dos espanhóis no mercado de câmbio.
Mudança em regra
Nasser diz que o BC beneficiou
o BBV com uma nova regra. Em
24 de agosto de 1998, às vésperas
da conclusão da venda do Excel
Econômico para o BBV, o BC lançou uma circular, a 2.832, que
permitiu que os bancos trouxessem ao Brasil recursos para aporte de capital sem a necessidade de
usar esse dinheiro imediatamente
para esse fim.
O chamado adiantamento para
futuro aumento de capital era
proibido pelo BC desde 1995 porque as autoridades temiam que,
sem um destino definido, os dólares poderiam ser usados na especulação financeira.
Não há uma prova de que a mudança nas regras tenha sido feita
sob encomenda para o BBV. O fato é que o banco realmente acabou sendo beneficiado pela decisão do governo. Procurado pela
Folha, o BBV não quis comentar
o caso.
Os títulos de governo são hoje a
principal receita do Excel Econômico, renomeado para BBV, segundo avaliação do especialista
Alberto Borges Matias. O balanço
trimestral, divulgado em março
deste ano, mostra que os R$ 5 bilhões aplicados pelo BBV em títulos e valores mobiliários renderam R$ 294,7 milhões.
Nasser também questiona a fiscalização do governo. Segundo
ele, o BC não contestava a situação do banco e nunca o informou
de que havia encontrado um problema grave nos números. "O BC
autorizou os balanços do meu
banco e depois afirma que eu cometi irregularidades. Qual é a lógica?"
(ESTELA CAPARELLI)
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