São Paulo, domingo, 17 de junho de 2001

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ESQUELETOS DO BC

Ex-dono do Excel diz que instituição não tinha rombo e que governo fez tudo para ajudar espanhóis do BBV

Nasser diz que BC o obrigou a vender banco

DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central está novamente às turras com um fantasma do passado. Depois do ex-controlador do Bamerindus José Eduardo Andrade Vieira, chegou a vez de Ezequiel Nasser colocar a boca no mundo sobre as práticas do BC. Depois de três anos em silêncio, Nasser dá uma versão apimentada para a venda do Excel Econômico para os espanhóis do BBV, fechada em agosto de 1998.
O banqueiro, que deixou a cena financeira brasileira sob uma enxurrada de denúncias de irregularidades e de má gestão, decidiu processar o BC e o BBV.
Sua argumentação: o Excel Econômico nunca amargou um rombo de R$ 1 bilhão e valia muito mais do que o R$ 1,00 pago pelos espanhóis. Nasser teria sido coagido a vender seu banco ao BBV sob ameaça de liquidação pelo mesmo BC que aprovou todos os seus balanços.
O que chama a atenção para a história de um homem como Nasser é artilharia pesada de sua argumentação. Segundo ele, o governo brasileiro fez tudo, inclusive mudanças em uma regra bancária, para beneficiar os espanhóis do BBV. Nasser afirma que o Brasil precisava do US$ 1,5 bilhão que o BBV trouxe ao país para investir no Excel porque a economia brasileira estava contaminada pela crise asiática, iniciada em julho de 1997.
O negócio não teria beneficiado apenas o governo. O BBV teria aplicado todo o dinheiro trazido da Espanha em agosto e outubro em títulos públicos cambiais e faturado alto. Como nenhum centavo foi usado para tampar o rombo de R$ 1 bilhão, conclui o banqueiro, o rombo não existia e o dinheiro só serviu para encher os bolsos dos espanhóis no mercado de câmbio.

Mudança em regra
Nasser diz que o BC beneficiou o BBV com uma nova regra. Em 24 de agosto de 1998, às vésperas da conclusão da venda do Excel Econômico para o BBV, o BC lançou uma circular, a 2.832, que permitiu que os bancos trouxessem ao Brasil recursos para aporte de capital sem a necessidade de usar esse dinheiro imediatamente para esse fim.
O chamado adiantamento para futuro aumento de capital era proibido pelo BC desde 1995 porque as autoridades temiam que, sem um destino definido, os dólares poderiam ser usados na especulação financeira.
Não há uma prova de que a mudança nas regras tenha sido feita sob encomenda para o BBV. O fato é que o banco realmente acabou sendo beneficiado pela decisão do governo. Procurado pela Folha, o BBV não quis comentar o caso.
Os títulos de governo são hoje a principal receita do Excel Econômico, renomeado para BBV, segundo avaliação do especialista Alberto Borges Matias. O balanço trimestral, divulgado em março deste ano, mostra que os R$ 5 bilhões aplicados pelo BBV em títulos e valores mobiliários renderam R$ 294,7 milhões.
Nasser também questiona a fiscalização do governo. Segundo ele, o BC não contestava a situação do banco e nunca o informou de que havia encontrado um problema grave nos números. "O BC autorizou os balanços do meu banco e depois afirma que eu cometi irregularidades. Qual é a lógica?" (ESTELA CAPARELLI)


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