São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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EFEITO DA CRISE

Serviço garante pagamento de dívidas em caso de perda do trabalho

Seguro paga conta de desempregado

LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A alta do desemprego criou um novo nicho de mercado para seguradoras e redes de varejo. Durante décadas menosprezado pelos brasileiros, o seguro contra desemprego, que garante a cobertura de parcelas de compras de mercadorias, imóveis ou de saldos de cartões de crédito, no caso de o cliente ser demitido, já movimenta uma carteira de R$ 350 milhões no país. Seu potencial de mercado é de R$ 1,5 bilhão.
"Houve um crescimento de cerca de 50% nas vendas de seguro-desemprego nos últimos 12 meses", afirma Júlio César Felipe, vice-presidente comercial da seguradora Canada Life. Segundo Felipe, cerca de 1 milhão de pessoas utilizam atualmente o seguro, contra 650 mil do ano passado.
"O mercado deve crescer muito nos próximos anos. Existem 10 milhões de pessoas no Brasil que se enquadram no perfil de clientes potenciais para comprar o produto", afirma o executivo.
Grandes grupos financeiros, como o Citibank e a seguradora Cardif (ligada ao banco francês BNP Paribas), se preparam para explorar mais esse mercado. "Devemos fechar o ano com uma carteira de R$ 20 milhões. Para 2003, a meta é chegar a R$ 80 milhões", diz Ricardo Braga, presidente da Cardif.
A instituição trabalha com seguro-desemprego para lojas de varejo como Casas Bahia, Magazine Luiza, a rede de hipermercados e supermercados Wal-Mart e o banco Volkswagen (financiamento de automóveis). Segundo Braga, essas empresas usam o seguro para se precaver contra a inadimplência, enquanto os consumidores garantem a cobertura das despesas em caso de demissão.
"Estamos para fechar com um grupo de bancos um contrato de cobertura de saldos de cartões de crédito. O que pode agregar mais 8,5 milhões de clientes à nossa carteira", afirma Braga.

Nova mentalidade
O caso do Citibank é bastante emblemático. O banco fez uma tentativa de vender seguro-desemprego no Brasil há cerca de dez anos, sem grandes resultados. "O brasileiro não estava acostumado com a idéia de ficar desempregado durante muitos meses e não aceitou bem o produto", diz Umberto Fabbri, diretor de seguros do banco.
Atualmente, o Citibank possui apenas mil clientes que ainda utilizam o seguro no antigo formato. "No entanto, nos últimos meses houve uma maior preocupação com desemprego."
Um dos diferenciais que o banco pretende oferecer agora é a garantia de que o cliente que ficar desempregado poderá usar durante cerca de três meses o limite de crédito do cartão.
As taxas cobradas pelas instituições giram em torno de 3% do valor da parcela de uma mercadoria. A construtora Brascan, por exemplo, garante a cobertura de até seis prestações mensais na compra de um apartamento, caso o comprador fique desemprego. A taxa para ter o seguro é de 3,12% do valor das prestações. O seguro pode ser acionado diversas vezes, desde que haja um intervalo mínimo de um ano entre as solicitações.
Nas Casas Bahia, o seguro é limitado a seis parcelas de R$ 100 e inclui proteção contra invalidez ou morte. Atende, porém, somente compradores de produtos Brastemp e Consul e móveis. A Folha apurou que o Ponto Frio está para lançar um seguro semelhante nas suas lojas.
Para o diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), Sérgio Mendonça, o aumento da taxa de desemprego de 8,9% para 20,4% na Grande São Paulo, ocorrida ao longo de 14 anos, fez com que os brasileiros passassem a se preocupar com o assunto recentemente.



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