UOL


São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RESSACA

Dívidas não pagas da AES, da Southern Electric e da Chapecó dão ao banco prejuízo de R$ 500 mi no primeiro trimestre

Inadimplência leva BNDES ao prejuízo

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) registrou nos primeiros três meses deste ano um prejuízo pouco superior a R$ 500 milhões. Esse valor praticamente apaga o lucro de R$ 550 milhões registrado em 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso.
O resultado negativo deveu-se à situação de inadimplência de três grandes clientes: as elétricas AES e Southern Electric, ambas americanas, e o frigorífico Chapecó, de Santa Catarina. As três empresas devem ao banco R$ 4,8 bilhões.
Em decorrência do atraso no pagamento de empréstimos tomados por essas empresas, o BNDES também foi obrigado a fazer um aumento substancial na conta de provisão para liquidação de créditos duvidosos (nessa conta, as instituições financeiras calculam e reservam valores para prováveis perdas que terão de clientes em situação difícil).
No entanto o prejuízo do primeiro trimestre e o aumento da provisão não terão efeito nas atuais operações e na carteira de empréstimos do banco.
A Folha apurou que o provisionamento feito pelo BNDES no início deste ano foi de R$ 1,5 bilhão para a dívida da Southern Electric; de R$ 1 bilhão para a AES; e de R$ 500 milhões para a dívida do frigorífico Chapecó.
Há expectativas de que o BNDES também seja obrigado a fazer provisionamentos para dois grandes clientes da Embraer: a American Eagle (subsidiária regional da American Airlines) e a Continental Airlines.
As duas companhias não estão inadimplentes, mas o banco rebaixou as duas para seu "Nível C". Na classificação usada pelo BNDES, esse nível significa alto risco e poderá exigir algum provisionamento. Dependendo da provisão, o prejuízo do BNDES pode aumentar durante o ano.
A preocupação com relação à alta concentração dos empréstimos concedidos pelo BNDES às companhias aéreas foi manifestada durante a reunião do conselho de administração do banco, na sexta-feira passada, presidida pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan.
Na reunião, o presidente do BNDES, Carlos Lessa, informou que a atual diretoria do banco decidiu limpar o balanço da instituição e assumir o prejuízo das operações deficitárias, como AES, Southern Electric e Chapecó. Até então, o BNDES fazia operações de rolagem dessas dívidas, o que encobria o prejuízo nesses empréstimos. Só a dívida da Southern Electric foi renegociada três vezes, e a do frigorífico Chapecó, quatro vezes.
O empréstimo da Southern Electric foi contraído em 1997 para a compra de 33% das ações ordinárias da Cemig. O valor do empréstimo, na época, foi de US$ 526,5 milhões. A Southern Electric está inadimplente com o BNDES desde 15 de maio, quando deixou de pagar US$ 80 milhões referentes à primeira parcela do financiamento.
Já a dívida do frigorífico Chapecó foi contraída entre abril de 1997 e dezembro de 1999. O banco emprestou US$ 137 milhões ao grupo argentino Macri para a compra do frigorífico. O grupo Macri entrou em dificuldades e não honrou a dívida com o BNDES.
Em 1998, durante o escândalo das gravações clandestinas do BNDES, umas das fitas registrou o então secretário geral da Presidência, Eduardo Jorge, fazendo uma cobrança a André Lara Resende, que presidia o BNDES, sobre uma operação de socorro ao frigorífico Chapecó.
Já a dívida da AES com o BNDES soma US$ 1,2 bilhão e foi contraída em 1998 pela empresa para a compra da Eletropaulo.
Nos últimos anos, o BNDES tem registrado lucros significativos em seu balanço. Em 2001, o lucro do banco foi de R$ 802 milhões, e o de 2002, de R$ 550 milhões. No ano passado, o banco já tinha registrado uma provisão de R$ 1,3 bilhão no balanço por conta da dívida da AES. Não fosse isso, o BNDES teria tido um lucro superior a R$ 1,5 bilhão.
O último ano de prejuízo do BNDES foi o de 1991, quando o banco fechou o balanço anual com resultado negativo de 174 milhões de cruzeiros (moeda da época), o que significa um prejuízo de R$ 695 mil a valores de hoje.
O BNDES ainda espera, durante o ano, inverter o prejuízo do primeiro trimestre, apesar de suas anunciadas políticas de transparência e de limpeza de balanços.


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Frase
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.