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RESSACA
Dívidas não pagas da AES, da Southern Electric e da Chapecó dão ao banco prejuízo de R$ 500 mi no primeiro trimestre
Inadimplência leva BNDES ao prejuízo
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) registrou nos primeiros
três meses deste ano um prejuízo
pouco superior a R$ 500 milhões.
Esse valor praticamente apaga o
lucro de R$ 550 milhões registrado em 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso.
O resultado negativo deveu-se à
situação de inadimplência de três
grandes clientes: as elétricas AES e
Southern Electric, ambas americanas, e o frigorífico Chapecó, de
Santa Catarina. As três empresas
devem ao banco R$ 4,8 bilhões.
Em decorrência do atraso no
pagamento de empréstimos tomados por essas empresas, o
BNDES também foi obrigado a fazer um aumento substancial na
conta de provisão para liquidação
de créditos duvidosos (nessa conta, as instituições financeiras calculam e reservam valores para
prováveis perdas que terão de
clientes em situação difícil).
No entanto o prejuízo do primeiro trimestre e o aumento da
provisão não terão efeito nas
atuais operações e na carteira de
empréstimos do banco.
A Folha apurou que o provisionamento feito pelo BNDES no início deste ano foi de R$ 1,5 bilhão
para a dívida da Southern Electric; de R$ 1 bilhão para a AES; e
de R$ 500 milhões para a dívida
do frigorífico Chapecó.
Há expectativas de que o
BNDES também seja obrigado a
fazer provisionamentos para dois
grandes clientes da Embraer: a
American Eagle (subsidiária regional da American Airlines) e a
Continental Airlines.
As duas companhias não estão
inadimplentes, mas o banco rebaixou as duas para seu "Nível C".
Na classificação usada pelo
BNDES, esse nível significa alto
risco e poderá exigir algum provisionamento. Dependendo da
provisão, o prejuízo do BNDES
pode aumentar durante o ano.
A preocupação com relação à
alta concentração dos empréstimos concedidos pelo BNDES às
companhias aéreas foi manifestada durante a reunião do conselho
de administração do banco, na
sexta-feira passada, presidida pelo ministro do Desenvolvimento,
Luiz Fernando Furlan.
Na reunião, o presidente do
BNDES, Carlos Lessa, informou
que a atual diretoria do banco decidiu limpar o balanço da instituição e assumir o prejuízo das operações deficitárias, como AES,
Southern Electric e Chapecó. Até
então, o BNDES fazia operações
de rolagem dessas dívidas, o que
encobria o prejuízo nesses empréstimos. Só a dívida da Southern Electric foi renegociada três
vezes, e a do frigorífico Chapecó,
quatro vezes.
O empréstimo da Southern
Electric foi contraído em 1997 para a compra de 33% das ações ordinárias da Cemig. O valor do empréstimo, na época, foi de US$
526,5 milhões. A Southern Electric está inadimplente com o
BNDES desde 15 de maio, quando
deixou de pagar US$ 80 milhões
referentes à primeira parcela do
financiamento.
Já a dívida do frigorífico Chapecó foi contraída entre abril de 1997
e dezembro de 1999. O banco emprestou US$ 137 milhões ao grupo
argentino Macri para a compra
do frigorífico. O grupo Macri entrou em dificuldades e não honrou a dívida com o BNDES.
Em 1998, durante o escândalo
das gravações clandestinas do
BNDES, umas das fitas registrou o
então secretário geral da Presidência, Eduardo Jorge, fazendo
uma cobrança a André Lara Resende, que presidia o BNDES, sobre uma operação de socorro ao
frigorífico Chapecó.
Já a dívida da AES com o
BNDES soma US$ 1,2 bilhão e foi
contraída em 1998 pela empresa
para a compra da Eletropaulo.
Nos últimos anos, o BNDES tem
registrado lucros significativos
em seu balanço. Em 2001, o lucro
do banco foi de R$ 802 milhões, e
o de 2002, de R$ 550 milhões. No
ano passado, o banco já tinha registrado uma provisão de R$ 1,3
bilhão no balanço por conta da dívida da AES. Não fosse isso, o
BNDES teria tido um lucro superior a R$ 1,5 bilhão.
O último ano de prejuízo do
BNDES foi o de 1991, quando o
banco fechou o balanço anual
com resultado negativo de 174
milhões de cruzeiros (moeda da
época), o que significa um prejuízo de R$ 695 mil a valores de hoje.
O BNDES ainda espera, durante
o ano, inverter o prejuízo do primeiro trimestre, apesar de suas
anunciadas políticas de transparência e de limpeza de balanços.
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