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AGROPECUÁRIA
Consórcio de fazendas desenvolve projeto cujo custo final fica abaixo dos R$ 34 a R$ 40 aceitos pelo mercado
Brasil já produz bois a R$ 24 por arroba
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Quanto custa produzir carne
bovina no Brasil? Um consórcio
de três fazendas de São Paulo foi a
fundo e desenvolveu um projeto
colocando tudo na ponta do lápis.
Do ponto zero (inseminação das
vacas) ao término do programa
(abate dos animais), o projeto durou 31 meses. No final, uma surpresa: o custo foi de apenas R$
23,82 por arroba, bem abaixo do
normalmente aceito pelo mercado, que gira de R$ 34 a R$ 40.
"Pode parecer conta de mentiroso, mas não é", diz o economista Carlos Arthur Ortenblad, dono
da Fazenda Água Milagrosa, uma
das participantes do projeto. Os
desafios que a pecuária terá pela
frente são enormes e quem não se
preparar vai ter surpresas desagradáveis, diz ele.
O projeto desse consórcio, denominado TAB 57, visou três coisas básicas: intensificação do uso
do solo, redução de custos e ganho de peso por animal. Esse conjunto de fatores vai permitir ao
pecuarista enfrentar a forte competição no setor.
Além da concorrência externa,
os produtores devem enfrentar
também a interna, com o avanço
da produção de carne de frango e
suína, acrescenta. Ortenblad diz
que a redução de custos poderá
trazer não só maior renda ao pecuaristas, mas também atender a
um objetivo social: o de oferecer
um produto de melhor qualidade
a um preço menor.
E é exatamente essa a visão do
governo. José Amauri Dimarzio,
secretário executivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, diz que o governo
quer um maior desenvolvimento
do setor, com lucro e geração de
renda, mas que esses fatores auxiliem na eliminação da fome.
Dimarzio diz que a produção
mundial de carne deverá dobrar
nos próximos 15 anos. Para continuar nesse mercado, o Brasil deverá se organizar e fazer uma rastreabilidade séria. A partir de 15
de julho, quem não cumprir as
normas da rastreabilidade não exporta, diz Dimarzio.
O secretário executivo do Mapa
diz que a qualidade não deve se
restringir apenas à carne exportada, mas também à destinada ao
mercado interno.
O avanço da qualidade da carne
bovina deverá ser acompanhado
também por uma nova classificação dos frigoríficos, dizem os pecuaristas. A carne de qualidade
dever ser melhor remunerada. É
preciso quebrar o círculo vicioso
de que os frigoríficos não pagam
preços melhores e, portanto, os
pecuaristas não aumentam a produção desse tipo de carne.
Para o escocês Don Nicol, consultor de agronegócio na Austrália, o Brasil ainda vai ser grande
nesse setor, mas terá de avançar
muito na preparação do produto
e no conhecimento do mercado
internacional. A Austrália, diz ele,
produz o que o mercado quer.
Quem quiser sobreviver vai ter
de usar tecnologia, diz Luiz
Eduardo Batalha, da Chalet Agropecuária. E um dos segredos para
para melhorar a produção e reduzir os custos é o cruzamento industrial. "Ele é irreversível", diz.
Avaliação
Tecnologia e cruzamento industrial fizeram parte do projeto TAB
57. Os animais utilizados foram
de genética superior e, portanto,
mais eficientes para ganhar peso.
O abate ocorreu aos 19,5 meses,
com peso médio de 17,6 arrobas.
O aproveitamento de carcaça
foi de 56,1% e as carnes foram
classificadas dentro do parâmetro
da cota Hilton. O aproveitamento
de carcaça é a quantidade de carne que o animal tem em relação
ao peso total antes do abate. Já a
cota Hilton é uma classificação internacional para a carne de bois
de até dois anos, com camada de 2
a 3 milímetros de gordura.
Durante todo o projeto, os animais foram tratados com capim e
com sal mineralizado, e a ocupação média foi de 2,28 animais
adultos por hectare -três vezes
superior à média paulista.
As fazendas participantes do
projeto foram Água Milagrosa, de
Tabapuã, Córrego da Santa Cecília, de Uchôa, e Bethania, de Santa
Fé do Sul, todas de São Paulo. Os
dados do projeto TAB 57 estão no
site www.aguamilagrosa.com.br.
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