UOL


São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AGROPECUÁRIA

Consórcio de fazendas desenvolve projeto cujo custo final fica abaixo dos R$ 34 a R$ 40 aceitos pelo mercado

Brasil já produz bois a R$ 24 por arroba

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

Quanto custa produzir carne bovina no Brasil? Um consórcio de três fazendas de São Paulo foi a fundo e desenvolveu um projeto colocando tudo na ponta do lápis. Do ponto zero (inseminação das vacas) ao término do programa (abate dos animais), o projeto durou 31 meses. No final, uma surpresa: o custo foi de apenas R$ 23,82 por arroba, bem abaixo do normalmente aceito pelo mercado, que gira de R$ 34 a R$ 40.
"Pode parecer conta de mentiroso, mas não é", diz o economista Carlos Arthur Ortenblad, dono da Fazenda Água Milagrosa, uma das participantes do projeto. Os desafios que a pecuária terá pela frente são enormes e quem não se preparar vai ter surpresas desagradáveis, diz ele.
O projeto desse consórcio, denominado TAB 57, visou três coisas básicas: intensificação do uso do solo, redução de custos e ganho de peso por animal. Esse conjunto de fatores vai permitir ao pecuarista enfrentar a forte competição no setor.
Além da concorrência externa, os produtores devem enfrentar também a interna, com o avanço da produção de carne de frango e suína, acrescenta. Ortenblad diz que a redução de custos poderá trazer não só maior renda ao pecuaristas, mas também atender a um objetivo social: o de oferecer um produto de melhor qualidade a um preço menor.
E é exatamente essa a visão do governo. José Amauri Dimarzio, secretário executivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, diz que o governo quer um maior desenvolvimento do setor, com lucro e geração de renda, mas que esses fatores auxiliem na eliminação da fome.
Dimarzio diz que a produção mundial de carne deverá dobrar nos próximos 15 anos. Para continuar nesse mercado, o Brasil deverá se organizar e fazer uma rastreabilidade séria. A partir de 15 de julho, quem não cumprir as normas da rastreabilidade não exporta, diz Dimarzio.
O secretário executivo do Mapa diz que a qualidade não deve se restringir apenas à carne exportada, mas também à destinada ao mercado interno.
O avanço da qualidade da carne bovina deverá ser acompanhado também por uma nova classificação dos frigoríficos, dizem os pecuaristas. A carne de qualidade dever ser melhor remunerada. É preciso quebrar o círculo vicioso de que os frigoríficos não pagam preços melhores e, portanto, os pecuaristas não aumentam a produção desse tipo de carne.
Para o escocês Don Nicol, consultor de agronegócio na Austrália, o Brasil ainda vai ser grande nesse setor, mas terá de avançar muito na preparação do produto e no conhecimento do mercado internacional. A Austrália, diz ele, produz o que o mercado quer.
Quem quiser sobreviver vai ter de usar tecnologia, diz Luiz Eduardo Batalha, da Chalet Agropecuária. E um dos segredos para para melhorar a produção e reduzir os custos é o cruzamento industrial. "Ele é irreversível", diz.

Avaliação
Tecnologia e cruzamento industrial fizeram parte do projeto TAB 57. Os animais utilizados foram de genética superior e, portanto, mais eficientes para ganhar peso. O abate ocorreu aos 19,5 meses, com peso médio de 17,6 arrobas.
O aproveitamento de carcaça foi de 56,1% e as carnes foram classificadas dentro do parâmetro da cota Hilton. O aproveitamento de carcaça é a quantidade de carne que o animal tem em relação ao peso total antes do abate. Já a cota Hilton é uma classificação internacional para a carne de bois de até dois anos, com camada de 2 a 3 milímetros de gordura.
Durante todo o projeto, os animais foram tratados com capim e com sal mineralizado, e a ocupação média foi de 2,28 animais adultos por hectare -três vezes superior à média paulista.
As fazendas participantes do projeto foram Água Milagrosa, de Tabapuã, Córrego da Santa Cecília, de Uchôa, e Bethania, de Santa Fé do Sul, todas de São Paulo. Os dados do projeto TAB 57 estão no site www.aguamilagrosa.com.br.


Texto Anterior: O vaivém das commodities
Próximo Texto: Bom momento do setor atrai investidores
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.