São Paulo, sábado, 17 de junho de 2006

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BC chinês eleva compulsório dos bancos

Alta foi de 0,5 ponto percentual, para 8%; medida vale a partir de 5 de julho e retirará de circulação cerca de US$ 18,8 bi

Temor é que o excesso de investimentos, alimentados pela alta do crédito, leve a um ritmo insustentável de crescimento da economia


DA REPORTAGEM LOCAL

Temeroso em relação à acelerada expansão do crédito e ao perigo de pressões inflacionárias, o banco central da China informou ontem que elevará o depósito compulsório dos bancos em 0,5 ponto percentual. Com isso, a reserva exigida para a maioria dos bancos chineses para depósitos na autoridade monetária será de 8%.
A medida entrará em vigor no dia 5 de julho e vai retirar de circulação 150 bilhões de yuans (US$ 18,8 bilhões), segundo o banco central. Os bancos rurais de cooperativas e cooperativas rurais de crédito estão isentos do aumento do compulsório.
Na medida em que reduz a quantidade de dinheiro à disposição dos bancos, a decisão limita a possibilidade de as instituições financeiras concederem novos empréstimos.
Nos primeiros cinco meses do ano, os bancos estatais chineses concederam novos financiamentos no valor de US$ 225 bilhões, o correspondente a 75% da meta fixada para todo o ano. Os empréstimos alimentam o vertiginoso ritmo de crescimento da economia, que o governo teme que esteja superaquecida.
No primeiro trimestre deste ano, o PIB (Produto Interno Bruto) chinês teve expansão de 10,2%, índice semelhante aos registrados em 2005 (9,9%) e em 2004 (10,1%).

Superaquecimento
A decisão de ontem faz parte de uma série de medidas adotadas pelo governo chinês desde 2004 para tentar conter o ritmo de crescimento do PIB.
Naquele ano, o banco central elevou a taxa de juros pela primeira vez em quase uma década -ainda assim, em apenas 0,27 ponto percentual. Pouco antes, já havia lançado mão da elevação do compulsório dos bancos. Os juros voltaram a subir há três meses, na mesma proporção de 2004.
Em julho de 2005, o governo chinês também decidiu abandonar o regime de câmbio fixo que vigorou por dez anos e permitiu a valorização do yuan em 2,1% em relação ao dólar.
O temor do governo é que o excesso de investimentos -alimentados pela elevação do crédito- leve a um ritmo insustentável de crescimento da economia. O excesso de investimentos pode gerar a produção de bens em quantidade que a demanda não tenha condições de absorver. Se isso ocorrer, haverá redução brusca da atividade econômica, para ajustar a produção à demanda.
"O índice de preços ao consumidor está relativamente baixo, mas, se o crescimento do crédito continuar acelerado, poderá estimular o aquecimento econômico e gerar risco de inflação", informou em comunicado o governo chinês.
Com a medida, a autoridade monetária também tenta reduzir o volume de créditos irrecuperáveis na carteira dos bancos estatais. Analistas acreditam que grande parte dos financiamentos é concedida sem a devida análise de risco e dificilmente serão pagos.
A decisão do BC chinês já era esperada por analistas do mercado. "A economia nacional se mantém relativamente estável e com crescimento rápido e tem um bom vigor, mas atualmente há alguns problemas que chamam a atenção, como o crescimento rápido demais dos investimentos em renda fixa", afirmou o BC o comunicado divulgado em seu site.

Medida derruba Bolsas
Apesar de esperada, a decisão não foi bem recebida pelos mercados. As Bolsas da Europa fecharam em baixa, temerosas de que as medidas provoquem a desaceleração da economia chinesa, que tem sido um dos motores do avanço mundial.
A China importou, no ano passado, US$ 660 bilhões em mercadorias de outros países e é o principal mercado para os exportadores de commodities, como minério de ferro e soja.
O índice das 300 principais ações da Europa, o FTSEurofirst, caiu 0,63%, para 1.260 pontos. Em Frankfurt, o índice DAX teve queda de 0,85%, para 5.376 pontos. Em Paris, o índice CAC-40 recuou 0,63%, para 4.694 pontos.
"A oferta de dinheiro e o crescimento do crédito estão muito rápidos. E o superávit comercial está subindo. O aumento do depósito compulsório em 0,5 ponto tem o objetivo de restringir esse crescimento rápido", disse o governo chinês.
"O aumento do compulsório ocorreu um pouco mais cedo do que esperávamos. A maioria dos economistas esperava a adoção de medidas de aperto monetário a partir do terceiro trimestre, mas acho que a decisão é correta e isso é o melhor", afirmou Cheng Manjiang, economista do Bank of China International, em Pequim.


Com agências internacionais

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