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Investimento deve crescer 62% até 2010, prevê BNDES
Mapeamento com 16 setores estima aportes de US$ 1,05 trilhão em quatro anos
Economistas consideram
valor factível, mas alertam
para questões como o peso
maior em setores menos
intensivos em mão-de-obra
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Impulsionados pela forte demanda externa e pelo aumento
da renda e do consumo interno,
16 setores da economia brasileira planejam investir R$
1,050 trilhão nos próximos
quatro anos, 62% a mais do que
os R$ 650 bilhões investidos
entre 2002 e 2005.
Os dados indicam um crescimento real de 10,1% ao ano nos
investimentos desses setores,
considerando inflação média
de 4,5% no período. Eles representam 9% do PIB do país, mas
respondem por 63% de todo o
investimento da indústria e por
68% do da infra-estrutura.
Resultado de um mapeamento de projetos de investimentos feito pelo BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a
previsão é considerada factível
por economistas, mas recebe
ressalvas, principalmente no
setor de infra-estrutura.
Elaborado pelos economistas Ernani Teixeira Filho e Fernando Puga, o estudo mapeou
investimentos em nove setores
da indústria. Entre eles, petróleo e gás, mineração, siderurgia
e papel e celulose, carros-chefe
da área, com taxas de expansão
acima da média por causa do
bom cenário internacional.
O mapeamento, a ser divulgado nesta semana, analisou
também cinco setores da infra-estrutura, um de serviços e um
da construção civil.
"Estamos entrando numa fase de alta dos investimentos
por causa da conjunção de dois
fatores: fim da restrição externa e situação favorável no mundo", disse Teixeira Filho.
Os nove setores da indústria
devem investir R$ 380 bilhões
de 2007 a 2010, ante R$ 207 bilhões de 2002 a 2005, um crescimento real por ano de 12,9%.
Economista-chefe do Iedi
(Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial),
Edgard Pereira acredita que na
indústria a previsão seja totalmente factível, mas aponta o
que vê como lado negativo.
"Esses números refletem a
atual situação da economia
brasileira. Setores voltados para a exportação vão bem, enquanto nos demais as perspectivas não são positivas."
Ele destaca que o estudo
mostra que 77% dos investimentos industriais estão concentrados em quatro setores
(petróleo e gás, siderurgia, mineração e papel e celulose), "intensivos em capital, mas com
um coeficiente de emprego relativamente pequeno".
Na sua opinião, boa parte dos
setores não mapeados pelo
BNDES, que representam 37%
dos investimentos na indústria,
está patinando, como têxtil,
calçados e vestuário.
Há dúvidas, porém, sobre as
previsões do BNDES. Ex-presidente do Banco Central e sócio
da consultoria Tendências,
Gustavo Loyola avalia como alto um investimento de R$ 15,6
bilhões nos próximos quatro
anos em eletroeletrônica.
"Parece alto, diante da valorização do real e da concorrência
chinesa, mas não chega a ser
determinante no conjunto do
setor", disse Loyola.
Diretora da MB Associados,
Tereza Fernandez aponta,
além do eletroeletrônico, ressalvas nas previsões dos setores
automotivo e petroquímico na
área industrial.
Ela avalia existir uma certa
"insegurança" na indústria petroquímica por causa da definição sobre a matéria-prima do
setor: nafta ou gás. "Nos próximos cinco anos, não temos gás,
depois, se investirmos, teremos, mas hoje dá uma certa insegurança", afirma sobre o estudo, que prevê um aumento
real de 14,8% por ano na área
entre 2007 e 2010.
No caso do setor automotivo,
ela diz que caminhões estão
"bombando", mas em automóveis e comerciais leves ainda há
dúvidas. "Nessa área, o setor
quer ter a certeza de que não
vai micar de novo, como aconteceu em 1997." O próprio estudo do BNDES, contudo, registra um crescimento anual de
6,4% dos investimentos, abaixo
da média dos setores mapeados, de 10,1%.
Fernandez e Loyola acreditam, porém, que o mapeamento do BNDES está em linha
com o ritmo atual da economia.
Segundo eles, a alta de 7,2% nos
investimentos no primeiro trimestre, divulgada pelo IBGE,
corrobora essas previsões.
Eles apostam em alta da taxa
de investimento na casa dos
10% reais neste ano, o mesmo
número levantado pelo BNDES
para os 16 setores. E acreditam
que essa taxa deva fechar o ano
entre 17,2% e 17,4% do PIB, acima dos 16,8% do ano passado.
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