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São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2003

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JUROS

Para o ministro da Fazenda, "TPC" acontece uma vez por mês, sempre nos dias que antecedem as reuniões do Copom

País vive "tensão pré-Copom", diz Palocci

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

Bem-humorado como quase sempre, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, diz que o Brasil está começando de novo a entrar, como faz todos os meses, no seu período TPC ("tensão pré-Copom", traduz o ministro).
É uma alusão ao fato de que, nas imediações de toda reunião mensal do Comitê de Política Monetária do Banco Central (que decide a taxa de juros), há uma eletricidade no ar, na expectativa de saber se os juros vão baixar e quanto (neste mês ninguém espera que subam).
Palocci descobre precocemente a TPC porque foi cercado por jornalistas brasileiros esgrimindo recorte do jornal espanhol "El País", em que o ministro aparece dizendo o seguinte, em entrevista exclusiva: "Não há nenhum plano de momento para fazer uma redução dos juros".
Palocci atribui a frase a um mal-entendido ou a um engano de tradução, o que é bem provável. Nem sob tortura o ministro admitiria que o BC não é independente para decidir os juros. Tampouco aceitaria a idéia de que os juros podem não cair, depois de Lula ter dito o contrário à BBC em Londres.
Para azar de Palocci, a TPC afeta não apenas empresários brasileiros, mas também analistas estrangeiros.
Depois de todos os elogios com que a mídia, o governo e os empresários espanhóis cobriram Lula e seu governo, Fernando Fernández, reitor da Universidade Européia de Madri, põe a nota de cautela em artigo para o jornal "ABC", conservador e monarquista. Diz que "recuperar o crescimento econômico é onde o problema de Lula se complica seriamente".
Como se sabe, sem uma queda substancial dos juros não há como recuperar o crescimento econômico.

Menos promessas
O próprio Lula foi econômico nas promessas, em seu discurso no Congresso espanhol. O prometido "espetáculo do crescimento" não apareceu no texto.
O presidente limitou-se a dizer que está "executando políticas econômicas equilibradas", que conseguiu controlar e reduzir a inflação, que organizou as finanças. Só depois dessa lista de medidas de ajuste é que afirmou modestamente: "Recuperamos a estabilidade para crescer de modo sustentado".
Mesmo o combate à pobreza e aos desequilíbrios sociais apareceu não como realização em andamento, mas apenas como demonstração de "vontade política" (de promover uma coisa e outra).
Feitas as contas, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, aparece como o mais otimista. Diz que a reunião de hoje do governo será "um divisor de águas entre o período restritivo da macroeconomia e uma agenda de desenvolvimento".
A reunião destina-se a selecionar os projetos de infra-estrutura a que o governo dará prioridade, conforme anúncio feito pelo presidente em entrevista coletiva que concedeu na sexta-feira, ainda em Lisboa (Portugal).
Para Lula, trata-se da continuidade de uma sequência de anúncios (microcrédito, financiamento habitacional etc.), o que dá a entender que o "espetáculo do crescimento" não será feito de um só ato grandioso, mas de uma série de iniciativas microeconômicas.
Fica mais fácil entender por que há no ar, de fato, a TPC antevista pelo ministro Palocci.


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