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JUROS
Para o ministro da Fazenda, "TPC" acontece uma vez por mês, sempre nos dias que antecedem as reuniões do Copom
País vive "tensão pré-Copom", diz Palocci
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
Bem-humorado como quase
sempre, o ministro da Fazenda,
Antonio Palocci Filho, diz que o
Brasil está começando de novo a
entrar, como faz todos os meses,
no seu período TPC ("tensão pré-Copom", traduz o ministro).
É uma alusão ao fato de que, nas
imediações de toda reunião mensal do Comitê de Política Monetária do Banco Central (que decide a
taxa de juros), há uma eletricidade no ar, na expectativa de saber
se os juros vão baixar e quanto
(neste mês ninguém espera que
subam).
Palocci descobre precocemente
a TPC porque foi cercado por jornalistas brasileiros esgrimindo recorte do jornal espanhol "El País",
em que o ministro aparece dizendo o seguinte, em entrevista exclusiva: "Não há nenhum plano
de momento para fazer uma redução dos juros".
Palocci atribui a frase a um mal-entendido ou a um engano de tradução, o que é bem provável.
Nem sob tortura o ministro admitiria que o BC não é independente
para decidir os juros. Tampouco
aceitaria a idéia de que os juros
podem não cair, depois de Lula
ter dito o contrário à BBC em
Londres.
Para azar de Palocci, a TPC afeta
não apenas empresários brasileiros, mas também analistas estrangeiros.
Depois de todos os elogios com
que a mídia, o governo e os empresários espanhóis cobriram Lula e seu governo, Fernando Fernández, reitor da Universidade
Européia de Madri, põe a nota de
cautela em artigo para o jornal
"ABC", conservador e monarquista. Diz que "recuperar o crescimento econômico é onde o problema de Lula se complica seriamente".
Como se sabe, sem uma queda
substancial dos juros não há como recuperar o crescimento econômico.
Menos promessas
O próprio Lula foi econômico
nas promessas, em seu discurso
no Congresso espanhol. O prometido "espetáculo do crescimento" não apareceu no texto.
O presidente limitou-se a dizer
que está "executando políticas
econômicas equilibradas", que
conseguiu controlar e reduzir a
inflação, que organizou as finanças. Só depois dessa lista de medidas de ajuste é que afirmou modestamente: "Recuperamos a estabilidade para crescer de modo
sustentado".
Mesmo o combate à pobreza e
aos desequilíbrios sociais apareceu não como realização em andamento, mas apenas como demonstração de "vontade política"
(de promover uma coisa e outra).
Feitas as contas, o ministro do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando
Furlan, aparece como o mais otimista. Diz que a reunião de hoje
do governo será "um divisor de
águas entre o período restritivo da
macroeconomia e uma agenda de
desenvolvimento".
A reunião destina-se a selecionar os projetos de infra-estrutura
a que o governo dará prioridade,
conforme anúncio feito pelo presidente em entrevista coletiva que
concedeu na sexta-feira, ainda em
Lisboa (Portugal).
Para Lula, trata-se da continuidade de uma sequência de anúncios (microcrédito, financiamento habitacional etc.), o que dá a
entender que o "espetáculo do
crescimento" não será feito de um
só ato grandioso, mas de uma série de iniciativas microeconômicas.
Fica mais fácil entender por que
há no ar, de fato, a TPC antevista
pelo ministro Palocci.
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