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VIZINHOS EM CRISE
Setor brasileiro mostra insatisfação com restrições a exportações de eletrodomésticos definidas em Buenos Aires
Para empresários, cota argentina é "absurda"
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil aceitou negociar as cotas de exportação à Argentina por
razões puramente políticas. Os
efeitos, de ordem econômica, que
os limites de exportação -determinados no acordo- terão sobre
as empresas ficaram em segundo
plano na estratégia brasileira. A
avaliação foi feita ontem por líderes industriais e associações de
comércio exterior.
Para Roberto Segatto, presidente da Abracex (Associação Brasileira de Comércio Exterior), "é
absolutamente ridículo e absurdo" o tamanho da cota de eletrodomésticos para exportação e o
entendimento abre precedente
para novas revisões nas exportações de outras mercadorias ao
país vizinho. José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação
de Comércio Exterior do Brasil,
também ficou surpreso com os
números das cotas dos produtos.
Explica-se: para fogões, por
exemplo, ficou determinada uma
cota de exportação de 90 mil unidades do Brasil à Argentina.
Apenas de janeiro a junho o país
embarcou 56.210 unidades. Restam, portanto, pelas novas regras,
33.790 itens a serem enviados no
segundo semestre, período em
que a demanda sempre cresce e
no qual que deve ocorrer maior
consumo de bens duráveis no
mercado argentino.
Para o primeiro semestre de
2005, ficou determinada uma cota
de 47,5 mil fogões. A economia
argentina deve crescer 4% em
2005 e vai receber menos fogões,
portanto, do que o enviado no
primeiro semestre deste ano
(56.210), quando o país deve registrar uma alta no PIB de 5,5%
"Esse acordo não foi bom. Pode
ter sido o possível. Por trás disso
deve existir uma intenção de o
pais passar uma imagem de conciliador aos outros possíveis futuros parceiros que tem no mundo.
Não podemos esquecer que o país
tem interesse em acordos com a
União Européia", afirmou José
Augusto de Castro.
No caso dos refrigeradores, ficou determinado, de forma preliminar, uma cota de exportação de
42.370 unidades de julho a setembro. Isso vai exigir que as duas
partes sentem novamente à mesa
logo para rever o entendimento
para 2005. De qualquer forma, esse volume é menor do que o enviado em igual período do ano
passado (45.341).
Insatisfação
A Folha apurou que empresários da chamada linha branca (geladeiras, máquinas de lavar) estiveram em conversas telefônicas
pela manhã de ontem e na quinta-feira para analisar os números.
São três empresas no Brasil: Electrolux, Multibrás e BSH Continental. A direção da Multibrás, fabricante da Brastemp, considerou
o acordo "desanimador", mas
acredita que poderá ser atingida
uma cota melhor no último trimestre, apurou a Folha.
Em nota, a Eletros, que representa o empresariado do setor,
afirma que está tentando "atender
aos apelos do governo para investir no aumento das exportações".
E não fala na cota determinada
para geladeiras. Só diz que "será
criada uma comissão de trabalho
que avaliará [a questão] nos próximos 60 dias".
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