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São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003

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CONTRAMÃO

Mesmo com queda no consumo, os dois setores repassaram custos e mantiveram lucros, atingindo bons resultados

Em guerra, indústria e loja mantêm margem

DA REPORTAGEM LOCAL

Foi uma disputa entre os grandes. O comércio passou o ano travando uma batalha com a indústria para manter a margem de lucro. Fabricantes fizeram o mesmo. Chegou a faltar produto em algumas prateleiras. Agora, um balanço dos resultados no semestre mostra que os dois lados mantiveram, e até elevaram, margem e rentabilidade.
Para isso, algumas empresas repassaram parte dos aumentos nos custos ao mercado. Quem pagou a conta foi o consumidor.
A rentabilidade do comércio ficou, em média, em 4,2% de janeiro a junho de 2003. No mesmo período de 2002 estava negativa em 8,6%, informa levantamento da consultoria ABM Consulting feito para a Folha.
Entre as empresas analisadas, estão apenas as de primeiro linha: Pão de Açúcar, Ponto Frio, Lojas Riachuelo e Lojas Americanas. O resultado indica uma melhora, mas isso não quer dizer que todas estavam com baixa rentabilidade em 2002, pois a taxa é retrato de uma média do setor.
A margem bruta média (porcentagem do lucro em relação ao faturamento) do comércio deu uma ligeira subida, passando de 38,1% para 38,7%.
Do outro lado da mesa, a indústria de alimentos e bebidas também fechou o semestre ainda mais rentável. Com empresas como AmBev -dona da Antarctica e da Brahma-, Perdigão e Sadia na lista, o setor apresentou aumento de rentabilidade de mais de três pontos -de 2% para 5,4% no primeiro semestre de 2002 e 2003, respectivamente.
"Houve um momento em que as companhias cansaram de perder dinheiro. E adotaram a política de manter as margens, ainda que para isso fosse necessário aumentar preço e perder mercado", diz Alberto Borges Matias, sócio-diretor da ABM Consulting.
"Carregamos durante o ano aumento nos custos por conta de acúmulo nos estoques e pressão no valor das matérias-primas", diz Júlio Cardoso, presidente da Seara. "Não é possível absorver tudo e parte disso precisa ser repassada", diz ele.
Nada muito diferente daquilo relatado pelo varejo. Na ponta, o consumidor verificou um aumento nos preços de mercadorias nos primeiros quatro meses do ano. As remarcações -na venda do varejo ao cliente- perderam fôlego só a partir de maio.
Economistas lembram que a questão do desempenho positivo não se resume apenas a preço.
Além das remarcações para repassar aumento nos custos, as empresas promoveram cortes nas despesas gerais e redução no custo do produto que é fabricado.
No caso das indústrias, exportações maiores pressionaram de forma positiva os indicadores também.
Além desses setores, outros apresentaram resultados no semestre. Empresas da área eletrônica passaram de uma taxa média de rentabilidade de 6,2% de janeiro a junho de 2002 para um índice negativo de 4,3% em 2003.
Nesse segmento houve queda brutal no consumo -superior à verificada nas áreas de alimentos e bebidas.
Sem mercado consumidor, fica mais difícil repassar aumento de preços ao mercado. Assim como recuperar margens perdidas.
O mesmo ocorreu na área têxtil. O produto, classificado como supérfluo, foi riscado da lista de compras. Sem demanda, as empresas não puderam repassar o aumento de custos que tiveram no ano.
Houve queda na rentabilidade: a taxa média passou de -38,2% de janeiro a junho de 2002 para -600% em 2003.
Empresas de mineração estão entre as mais rentáveis do país. Entre elas está a Companhia Vale do Rio Doce, que fechou o semestre com margem bruta em 42,7% -em 2002 estava em 42,4%.

Mercado responde
Após a divulgação dos resultados registrados no primeiro semestre, ações de várias empresas de capital aberto responderam com expressivas altas na Bolsa de Valores de São Paulo.
No setor alimentício, as ações da Sadia e da Perdigão brilharam. As ações preferenciais da Sadia dispararam 10,5% na semana passada. Os papéis preferenciais da Perdigão subiram 8,8%.
O setor que melhor refletiu os resultados dos balanços na última semana na Bovespa foi o de energia elétrica.
O destaque no setor ficou com as ações preferenciais da Transmissão Paulista, que conseguiram a expressiva valorização de 16,7%. Os papéis PN da Cesp também acumularam fortes ganhos, de 10,1%, no período.
(ADRIANA MATTOS E FABRICIO VIEIRA)


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