São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 2002

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BRINQUEDOS

Varejistas pressionam e empresas já aceitam vender até metade da produção com a possibilidade de retorno

Indústria amplia vendas em consignação

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Para colocar seus produtos nas prateleiras no Dia das Crianças, a indústria de brinquedos aceitou até vender metade da mercadoria em consignação. Nesse caso, existe a possibilidade de o brinquedo voltar aos estoques da indústria caso o varejo não consiga comercializar a quantidade entregue.
A Abrinq, que representa os fabricantes, calcula que cerca de 50% dos itens negociados seguem esse modelo de venda. A consignação é uma prática comum de mercado, o que chama a atenção é o tamanho do negócio.
Em algumas negociações, as redes varejistas pressionam os fabricantes, normalmente os de pequeno porte e com menor poder de barganha, a aceitar a venda em consignação. Com isso, chegam a vender mais da metade de sua linha dentro desse modelo.
Fabricantes que são líderes de mercado vendem às lojas uma quantidade menor de forma consignada - modelo criticado por alguns fornecedores pois gera um certo desequilíbrio na cadeia do setor. "Empresas sem muita tradição optam mais pela consignação para aproveitar a oportunidade da data", diz Paulo Benzatti, gerente de vendas da Gulliver, que comercializa cerca de 20% de sua produção em consignação.
Na visão da indústria, o problema está no varejo usar essa estratégia para pressionar o resto do mercado a fazer o mesmo. Esse setor é extremamente concentrado: as 15 maiores redes de varejo são donas de 75% das vendas de brinquedos no país.
Segundo a Folha apurou, redes varejistas de grande porte têm recebido entre 20% e 25% dos brinquedos neste Dia das Crianças em consignação.
A Ri-Happy, cadeia varejista especializada, diz que não faz isso. Existe a chance de vender os itens durante o ano, e não apenas em eventos como o Dia das Crianças. Com isso, ela não precisa devolver o produto em janeiro -quando normalmente já percebeu-se que o produto consignado virou encalhe e é necessário devolvê-lo. No varejo, a devolução de itens comprados para o Dia das Crianças ocorre no início do ano.
"Não devolvemos porque não é preciso. Recebemos neste ano um número de peças 8% maior do que no ano passado e acreditamos que o tíquete médio (valor médio obtido em cada venda) atinja R$ 45, um pouco inferior ao do ano passado", disse Ricardo Sayon, presidente da Ri-Happy.
A Abrinq informa que em 2002 os pedidos foram 4% superiores ao do Dia das Crianças de 2001. "Acreditamos num crescimento de vendas de 9% nas lojas que já tínhamos no ano passado", diz Fabiana Formigone, coordenadora de compras do Extra.
Para manter as encomendas, a indústria conseguiu entregar uma "cesta" de brinquedos -com produtos que são "commodities" no setor como bonecas e carrinhos- com preços 4% inferiores aos do ano passado.
Os lançamentos, entretanto, tanto de itens nacionais como de importados, subiram de preço devido ao dólar. Isso ocorreu por causa dos insumos cotados em moeda estrangeira, como o plástico. Pelas contas da Abrinq, neste ano a subida do dólar causou um aumento no valor do plástico de 38,5%. E o preço do brinquedo, em geral, subiu 8%.
Para não repassar o aumento, e até dar descontos, a indústria afirma que está reduzindo ligeiramente sua margem de lucro.
Mesmo com boas previsões, as devoluções de itens no varejo ocorrem se algum produto não atingir a meta de vendas.


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