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São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2003

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Para analistas, socorro será apenas alívio de curto prazo

LÁSZLÓ VARGA
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O pacote de ajuda do BNDES às distribuidoras de energia foi considerado por analistas como um alívio de curto prazo para as empresas, que não resolverá o problema do setor. Isso porque não há nenhuma garantia de que a distribuidoras conseguirão pagar os empréstimos ao banco dentro de três anos.
A dívida de curto prazo (que vence em um ano) de sete das principais empresas de energia do Brasil é de R$ 7,4 bilhões. A geração de caixa anual delas é de R$ 5,6 bilhões. "Portanto, não há receita para pagar os débitos dessas companhias", disse Sérgio Tamashiro, analista de energia do Unibanco.
As empresas analisadas por Tamashiro são a Eletropaulo, a Copel, a Cemig, a Light, a Celesc, a Coelce e a Tractebel (essa última é uma geradora).
Segundo Tamashiro, o governo não deu até agora nenhum sinal de que aumentará a tarifa das distribuidoras para garantir a elas mais receita, o que permitiria pagar os empréstimos que tomarem do BNDES. "O que foi anunciado hoje [ontem] é apenas um alívio de curto prazo."
Para o analista, o único fator que pode aliviar as contas das distribuidoras seria o aumento do consumo de energia elétrica nos próximos anos. Algo que o governo tem previsto.

Mais empréstimo
Paulo Cunha, especialista em energia elétrica e ex-diretor de Itaipu, também criticou o pacote de auxílio do BNDES. Segundo ele, dentro de dois ou três anos as distribuidoras voltarão a pedir dinheiro do BNDES, pois não terão solucionado seus problemas financeiros.
"O projeto apresentado para as distribuidoras não é uma boa saída para o setor elétrico", disse Cunha.
Apesar de ser considerado um paliativo para os problemas das distribuidoras, o programa anunciado ontem pelo BNDES marcou uma guinada no discurso e na prática do Ministério das Minas e Energia. Segundo analistas, o governo estaria ajudando a sanear financeiramente as distribuidoras para viabilizar o novo modelo proposto pelo ministério para o setor elétrico.
O modelo prevê a centralização da compra de energia, pelas distribuidoras, de um "pool" de geradoras. "As distribuidoras é que vão garantir a viabilidade do novo modelo. Se não forem saneadas, o modelo não se sustenta", diz Gláucia de Castro Quinto, gerente de pesquisa de renda variável do ABN Amro Asset Management.
Segundo analistas, a crise das distribuidoras desestimularia investimentos em novas geradoras, pois não haveria garantias de que receberiam pela energia.
"A surpresa é a mudança repentina do governo. Desde que assumiu, a ministra Dilma [Rousseff, de Minas e Energia] tinha uma postura crítica ante o modelo anterior do setor elétrico e não manifestava disposição em negociar com as empresas", observa Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura.


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