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Para analistas, socorro será apenas alívio de curto prazo
LÁSZLÓ VARGA
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O pacote de ajuda do BNDES às
distribuidoras de energia foi considerado por analistas como um
alívio de curto prazo para as empresas, que não resolverá o problema do setor. Isso porque não
há nenhuma garantia de que a
distribuidoras conseguirão pagar
os empréstimos ao banco dentro
de três anos.
A dívida de curto prazo (que
vence em um ano) de sete das
principais empresas de energia do
Brasil é de R$ 7,4 bilhões. A geração de caixa anual delas é de R$
5,6 bilhões. "Portanto, não há receita para pagar os débitos dessas
companhias", disse Sérgio Tamashiro, analista de energia do
Unibanco.
As empresas analisadas por Tamashiro são a Eletropaulo, a Copel, a Cemig, a Light, a Celesc, a
Coelce e a Tractebel (essa última é
uma geradora).
Segundo Tamashiro, o governo
não deu até agora nenhum sinal
de que aumentará a tarifa das distribuidoras para garantir a elas
mais receita, o que permitiria pagar os empréstimos que tomarem
do BNDES. "O que foi anunciado
hoje [ontem] é apenas um alívio
de curto prazo."
Para o analista, o único fator
que pode aliviar as contas das distribuidoras seria o aumento do
consumo de energia elétrica nos
próximos anos. Algo que o governo tem previsto.
Mais empréstimo
Paulo Cunha, especialista em
energia elétrica e ex-diretor de
Itaipu, também criticou o pacote
de auxílio do BNDES. Segundo
ele, dentro de dois ou três anos as
distribuidoras voltarão a pedir dinheiro do BNDES, pois não terão
solucionado seus problemas financeiros.
"O projeto apresentado para as
distribuidoras não é uma boa saída para o setor elétrico", disse Cunha.
Apesar de ser considerado um
paliativo para os problemas das
distribuidoras, o programa anunciado ontem pelo BNDES marcou
uma guinada no discurso e na
prática do Ministério das Minas e
Energia. Segundo analistas, o governo estaria ajudando a sanear
financeiramente as distribuidoras
para viabilizar o novo modelo
proposto pelo ministério para o
setor elétrico.
O modelo prevê a centralização
da compra de energia, pelas distribuidoras, de um "pool" de geradoras. "As distribuidoras é que
vão garantir a viabilidade do novo
modelo. Se não forem saneadas, o
modelo não se sustenta", diz
Gláucia de Castro Quinto, gerente
de pesquisa de renda variável do
ABN Amro Asset Management.
Segundo analistas, a crise das
distribuidoras desestimularia investimentos em novas geradoras,
pois não haveria garantias de que
receberiam pela energia.
"A surpresa é a mudança repentina do governo. Desde que assumiu, a ministra Dilma [Rousseff,
de Minas e Energia] tinha uma
postura crítica ante o modelo anterior do setor elétrico e não manifestava disposição em negociar
com as empresas", observa Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura.
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