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LEÃO GULOSO
Aumento da arrecadação pode frear crescimento do país, diz instituto
Fisco tira R$ 21 bi do poder de compra
MARCOS CÉZARI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Em apenas oito meses deste
ano, o governo federal seqüestrou
da sociedade brasileira um poder
de compra eqüivalente a 1 milhão
de carros populares."
A comparação foi feita por Clóvis Panzarini, ex-coordenador tributário da Secretaria da Fazenda
de São Paulo e diretor da CP Consultores Associados, ao analisar
os números da arrecadação federal no mês passado divulgados
ontem pela Receita Federal.
Ele tomou por base os R$ 21 bilhões a mais arrecadados pela Receita no período de janeiro a agosto deste ano em relação ao mesmo
período do ano anterior. Foram
R$ 199,3 bilhões contra R$ 178,3
bilhões, respectivamente.
O consultor faz questão de frisar
que se trata de uma arrecadação
adicional, ou seja, em termos
reais, uma vez que os valores estão deflacionados pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor
Amplo) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Se
forem usados os valores nominais
(sem considerar os efeitos da inflação), a receita a mais neste ano
é de R$ 31,6 bilhões -R$ 207,8 bilhões contra R$ 176,2 bilhões.
"O governo nega que haja aumento da carga tributária, mas os
números que ele mesmo divulga
desmentem o discurso oficial."
Apenas duas contribuições e
um imposto foram os maiores
responsáveis pela drenagem de
recursos das empresas e pessoas
físicas para os cofres da Receita.
A maior parcela desse aumento
vem da Cofins (Contribuição para
o Financiamento da Seguridade
Social), com R$ 9,8 bilhões a mais:
R$ 50,8 bilhões e R$ 41 bilhões.
Dois detalhes chamam a atenção para dimensionar os efeitos
da alta da Cofins de 3% para 7,6%
(mais 153,3%), sem cumulatividade, e sua cobrança sobre as importações. O aumento vale desde
fevereiro (como o primeiro pagamento foi em março, são apenas
seis meses de receita sob essa forma de cálculo). No caso das importações, são apenas quatro meses (a taxação começou em maio).
Para Gilberto Luiz do Amaral,
presidente do IBPT (Instituto
Brasileiro de Planejamento Tributário), "o crescimento exagerado da arrecadação pode frear o
crescimento que o país vem obtendo nos últimos meses".
Amaral estima que somente o
aumento da Cofins seja responsável por 1,5 ponto percentual (dos
5,14%) da inflação medida pelo
IPCA de janeiro a agosto de 2004.
"A política de arrocho tributário, que onera praticamente todos
os setores da economia, e o aumento dos juros esfriam o ânimo
de alguns investidores, justamente no momento em que o crescimento industrial e o consumo
dão sinais de recuperação."
A CSLL (Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido) também
ajudou a engordar os cofres da
Receita -de janeiro a agosto,
mais R$ 1,73 bilhão. Motivo: a base de cálculo das empresas prestadoras de serviços optantes pelo
lucro presumido subiu de 12%
para 32% (mais 166,7%).
No caso do IR das pessoas físicas, o principal motivo para o aumento da receita é o congelamento da tabela de desconto na fonte e
a manutenção da alíquota de
27,5%. "Sem correção da tabela, o
ganho do governo equivale ao aumento da inflação", diz Panzarini.
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