São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2006

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Brasil sofre derrota em reforma do FMI

País, Argentina, Índia e Egito discordam de termos da reforma da organização que dá mais poder a outros membros

Mantega diz que mudanças abrirão uma "crise de representatividade" no Fundo, que, segundo ele, ficaria "esclerosado"

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A CINGAPURA

Brasil, Argentina, Índia e Egito ficaram isolados ontem na reunião do FMI (Fundo Monetário Internacional), em Cingapura, e acabaram derrotados em sua tentativa de barrar uma reforma nos termos em que o Fundo está organizando para mudar a representatividade de seus países-membros.
O ministro Guido Mantega (Fazenda) reconheceu que o Brasil e seu grupo não alcançarão os 15% dos votos necessários para barrar as mudanças. A votação, que envolve os 184 países-membros, está em curso e termina amanhã.
Sem nomeá-los, Mantega disse que vários outros países se posicionaram ao lado do Brasil, mas em número insuficiente. O peso do Brasil no FMI é de 1,42%.
"A aprovação de uma reforma com tantos países contrários abrirá uma crise de representatividade do Fundo", disse Mantega.
A reforma prevê um imediato aumento do poder de voto de quatro países: China, México, Turquia e Coréia, que têm 5,33% das cotas do Fundo. Com a mudança, passam a cerca de 7%.
O Brasil concorda com esse passo, mas discorda do seguinte, que será uma rediscussão da representatividade de cada país usando vários critérios para redefinir seu peso. Para Mantega, os critérios deveriam ser definidos antes de o processo começar.
Um dos principais pontos de discordância é que o FMI planeja usar o peso do PIB de cada país em dólares, entre outros critérios, para redefinir a representatividade. Para Brasil, Argentina, Índia e Egito, o critério deveria ser o chamado PIB per capita em PPC (Paridade de Poder de Compra), que leva em conta o poder aquisitivo dos habitantes de cada país em relação à moeda local.
Por esse critério, os emergentes teriam uma representatividade muito maior.
A fórmula em estudo prevê ainda um peso considerado demasiado pelo Brasil para o grau de abertura das economias. Quanto maior, maior o peso proporcional de cada país.
Mantega afirmou que o FMI corre o risco de ficar "desatualizado e esclerosado" ao não dar uma representatividade maior aos países emergentes. "Como está sendo proposto, o projeto é excessivamente tímido", disse.
Se o critério for o PIB em dólares, o Brasil corre o risco até de ver sua participação encolher. Isso porque como o país tem crescido menos do que vários outros emergentes, o peso proporcional de seu PIB cai.
Os quatro países que se opuseram divulgaram comunicado qualificando a fórmula do FMI de "opaca e imperfeita".
Segundo a ministra da Economia da Argentina, Felisa Miceli, o FMI já teria os 85% dos votos dos países necessários para avançar com a proposta no formato que contraria seu país e o Brasil. Os emergentes sequer conseguiram chegar a um acordo entre si. Embora Brasil, Argentina, Índia e Egito tenham emitido comunicado formal contra a decisão, vários outros membros do G24, grupo de países do qual os quatro fazem parte, votaram a favor da proposta do FMI.
Em comunicado, o G24 também pede que o PPC seja usado no cálculo, mas isso não impediu que muitos de seus membros se alinhassem ao Fundo.
Outro projeto de interesse do Brasil é a criação de uma linha de crédito especial que poderia ser usada por países em crise sem que assinem um programa formal com o órgão.
Para estar habilitado, porém, os países teriam de se enquadrar em critérios prévios para prevenir as crises. Embora o FMI acene com a possibilidade de estudar mais a fundo o assunto, dificilmente haverá alguma decisão concreta nesta reunião de Cingapura.


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