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Brasil sofre derrota em reforma do FMI
País, Argentina, Índia e Egito discordam de termos da reforma da organização que dá mais poder a outros membros
Mantega diz que mudanças abrirão uma "crise de representatividade" no Fundo, que, segundo ele, ficaria "esclerosado"
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A CINGAPURA
Brasil, Argentina, Índia e
Egito ficaram isolados ontem
na reunião do FMI (Fundo Monetário Internacional), em Cingapura, e acabaram derrotados
em sua tentativa de barrar uma
reforma nos termos em que o
Fundo está organizando para
mudar a representatividade de
seus países-membros.
O ministro Guido Mantega
(Fazenda) reconheceu que o
Brasil e seu grupo não alcançarão os 15% dos votos necessários para barrar as mudanças. A
votação, que envolve os 184 países-membros, está em curso e
termina amanhã.
Sem nomeá-los, Mantega
disse que vários outros países
se posicionaram ao lado do
Brasil, mas em número insuficiente. O peso do Brasil no FMI
é de 1,42%.
"A aprovação de uma reforma com tantos países contrários abrirá uma crise de representatividade do Fundo", disse
Mantega.
A reforma prevê um imediato aumento do poder de voto de
quatro países: China, México,
Turquia e Coréia, que têm
5,33% das cotas do Fundo. Com
a mudança, passam a cerca de
7%.
O Brasil concorda com esse
passo, mas discorda do seguinte, que será uma rediscussão da
representatividade de cada país
usando vários critérios para redefinir seu peso. Para Mantega,
os critérios deveriam ser definidos antes de o processo começar.
Um dos principais pontos de
discordância é que o FMI planeja usar o peso do PIB de cada
país em dólares, entre outros
critérios, para redefinir a representatividade. Para Brasil,
Argentina, Índia e Egito, o critério deveria ser o chamado
PIB per capita em PPC (Paridade de Poder de Compra), que
leva em conta o poder aquisitivo dos habitantes de cada país
em relação à moeda local.
Por esse critério, os emergentes teriam uma representatividade muito maior.
A fórmula em estudo prevê
ainda um peso considerado demasiado pelo Brasil para o grau
de abertura das economias.
Quanto maior, maior o peso
proporcional de cada país.
Mantega afirmou que o FMI
corre o risco de ficar "desatualizado e esclerosado" ao não dar
uma representatividade maior
aos países emergentes. "Como
está sendo proposto, o projeto é
excessivamente tímido", disse.
Se o critério for o PIB em dólares, o Brasil corre o risco até
de ver sua participação encolher. Isso porque como o país
tem crescido menos do que vários outros emergentes, o peso
proporcional de seu PIB cai.
Os quatro países que se opuseram divulgaram comunicado
qualificando a fórmula do FMI
de "opaca e imperfeita".
Segundo a ministra da Economia da Argentina, Felisa Miceli, o FMI já teria os 85% dos
votos dos países necessários
para avançar com a proposta no
formato que contraria seu país
e o Brasil. Os emergentes sequer conseguiram chegar a um
acordo entre si. Embora Brasil,
Argentina, Índia e Egito tenham emitido comunicado formal contra a decisão, vários outros membros do G24, grupo de
países do qual os quatro fazem
parte, votaram a favor da proposta do FMI.
Em comunicado, o G24 também pede que o PPC seja usado
no cálculo, mas isso não impediu que muitos de seus membros se alinhassem ao Fundo.
Outro projeto de interesse do
Brasil é a criação de uma linha
de crédito especial que poderia
ser usada por países em crise
sem que assinem um programa
formal com o órgão.
Para estar habilitado, porém,
os países teriam de se enquadrar em critérios prévios para
prevenir as crises. Embora o
FMI acene com a possibilidade
de estudar mais a fundo o assunto, dificilmente haverá alguma decisão concreta nesta reunião de Cingapura.
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