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Crise pode afetar pré-sal, diz Gabrielli
Segundo presidente da Petrobras, se turbulência financeira se prolongar, será difícil para estatal obter financiamento
Mas, ressalva Gabrielli, "bons projetos" sempre encontram crédito, e preço do petróleo não deve
ter "queda contínua"
Sergio Lima - 5.mai.08/Folha Imagem
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O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, que atribui a queda do petróleo mais a questões financeiras que de demanda
VALDO CRUZ
EM SÃO PAULO
O presidente da Petrobras,
José Sergio Gabrielli, disse à
Folha que a crise financeira
pode afetar os investimentos
na exploração do petróleo do
pré-sal caso ela se prolongue.
"No curto prazo, não. Agora,
se a situação do mercado financeiro se prolongar, com dificuldades de financiamento, aí fica
difícil aumentar a dívida", afirmou o presidente da maior empresa brasileira, lembrando
que os investimentos no pré-sal vão demandar endividamento.
Ele aposta, contudo, que
mesmo em momentos de contração de crédito "os bons projetos" sempre encontram financiamentos, citando os planos da estatal no pré-sal. "Piorou [a captação de crédito no
mercado financeiro], mas não
quer dizer que continue assim",
acrescentou.
Apesar da gravidade da crise,
Gabrielli avalia que o preço do
petróleo não irá registrar "uma
queda contínua" e manda um
recado aos acionistas minoritários da empresa: "A perspectiva
de crescimento da Petrobras é
grande".
Segundo Gabrielli, a crise
não vai alterar o plano atual de
investimento da empresa, de
US$ 112,7 bilhões até 2012. Já
em relação ao do pré-sal, lembra que ainda não foi apresentado. "É o futuro." A seguir, leia
os principais trechos da entrevista concedida ontem no escritório da Petrobras em São
Paulo.
FOLHA - Qual o impacto da crise financeira nos Estados Unidos no setor de petróleo?
JOSÉ SERGIO GABRIELLI - A grande
demanda mundial crescente de
petróleo está fora dos Estados
Unidos, Europa e Japão. Está
essencialmente na China, Índia, países da África, da América do Sul e Rússia. Nesses países, o impacto da crise ainda
não é tão sentido. A reação deles é que vai levar a uma resposta do mercado de combustíveis.
A China já mostrou que não deseja uma redução de sua demanda ao reduzir os juros.
O que quero dizer é que não
está muito claro como será o
grau de redução de demanda
por conta dessa crise. Por outro
lado, não há alterações significativas no curto prazo na oferta, o que, muito provavelmente,
não levará a nenhuma expectativa de que o preço do petróleo
caia continuamente.
FOLHA - O preço está em queda e
pode cair ainda mais com a desaceleração mundial.
GABRIELLI - Não há razão para
uma queda contínua. O que temos é um movimento de curto
prazo. Em julho o preço do barril foi a US$ 147, três meses depois está em US$ 95, uma variação enorme por conta de
movimentações de curto prazo
aproveitando o fato de o mercado estar muito apertado e ter
entrada e saída de capital especulativo.
FOLHA - A queda estaria mais ligada à crise financeira do que à redução da demanda?
GABRIELLI - Isso, mais da migração de capitais financeiros do
que de fundamentos do mercado de petróleo.
FOLHA - E na Petrobras, qual será o
impacto dessa crise?
GABRIELLI - Na operação de curto prazo, quase nada. Primeiro,
nós não repassamos para o
mercado brasileiro, nossa principal fonte de geração de caixa,
a flutuação diária dos preços.
Não fizemos isso quando subiu
muito, não tem por que fazer
agora. Segundo, fizemos nossos
projetos de investimentos não
com base em preços de curto
prazo, mas conservadores. No
plano atual, nós projetamos
com o barril a US$ 35. Significa
que não afeta nosso plano de
investimentos de hoje.
FOLHA - E os investimentos previstos para o pré-sal, há algum impacto
negativo?
GABRIELLI - No curto prazo, não.
Agora, se a situação do mercado financeiro se prolongar,
com dificuldades de financiamento, aí fica difícil aumentar
a dívida. Porque não é possível,
dado o volume de investimentos para o pré-sal, pensar que
será feito com capital gerado
na atividade operacional, vai
ter de ter endividamento. Se o
mercado financeiro se contrai,
a capacidade de financiamento
fica mais difícil, ainda que mesmo num momento de alta contração projetos bons encontrem financiamentos. E nós
acreditamos que nossos projetos são rentáveis.
FOLHA - A Petrobras está encontrando mais dificuldades para captar recursos?
GABRIELLI - Que os mercados se
contraíram nos últimos três
meses, isso é evidente. As operações de captação se reduziram. Não tínhamos no curto
prazo nenhuma operação. Suspendemos uma há três ou quatro meses, porque o mercado
estava muito difícil. Piorou,
mas não quer dizer que continue assim.
FOLHA - Tudo indica que vai piorar
nos próximos meses.
GABRIELLI - Não há como você
ter certeza da generalização da
crise. Claro que você começa a
colocar as barbas de molho.
FOLHA - E para os acionistas minoritários, qual sua recomendação hoje, com a queda forte no preço das
ações da Petrobras?
GABRIELLI - A perspectiva de
crescimento da Petrobras é
grande, temos projetos consolidados, projetos em andamento. O nosso plano de investimento não se alterou no curto
prazo e não será afetado porque o preço mudou agora. Veja
bem, do nosso plano de investimento até 2012, dos US$ 112,7
bilhões, US$ 104 bilhões é de
geração de caixa, com preço
projetado de US$ 35 o barril.
FOLHA - O do pré-sal é que poderá
ser mais afetado?
GABRIELLI - O plano de investimento do pré-sal ainda não foi
apresentado. É o futuro.
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