São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2008

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Crise pode afetar pré-sal, diz Gabrielli

Segundo presidente da Petrobras, se turbulência financeira se prolongar, será difícil para estatal obter financiamento

Mas, ressalva Gabrielli, "bons projetos" sempre encontram crédito, e preço do petróleo não deve ter "queda contínua"

Sergio Lima - 5.mai.08/Folha Imagem
O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, que atribui a queda do petróleo mais a questões financeiras que de demanda

VALDO CRUZ
EM SÃO PAULO

O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse à Folha que a crise financeira pode afetar os investimentos na exploração do petróleo do pré-sal caso ela se prolongue.
"No curto prazo, não. Agora, se a situação do mercado financeiro se prolongar, com dificuldades de financiamento, aí fica difícil aumentar a dívida", afirmou o presidente da maior empresa brasileira, lembrando que os investimentos no pré-sal vão demandar endividamento.
Ele aposta, contudo, que mesmo em momentos de contração de crédito "os bons projetos" sempre encontram financiamentos, citando os planos da estatal no pré-sal. "Piorou [a captação de crédito no mercado financeiro], mas não quer dizer que continue assim", acrescentou.
Apesar da gravidade da crise, Gabrielli avalia que o preço do petróleo não irá registrar "uma queda contínua" e manda um recado aos acionistas minoritários da empresa: "A perspectiva de crescimento da Petrobras é grande".
Segundo Gabrielli, a crise não vai alterar o plano atual de investimento da empresa, de US$ 112,7 bilhões até 2012. Já em relação ao do pré-sal, lembra que ainda não foi apresentado. "É o futuro." A seguir, leia os principais trechos da entrevista concedida ontem no escritório da Petrobras em São Paulo.

 

FOLHA - Qual o impacto da crise financeira nos Estados Unidos no setor de petróleo?
JOSÉ SERGIO GABRIELLI
- A grande demanda mundial crescente de petróleo está fora dos Estados Unidos, Europa e Japão. Está essencialmente na China, Índia, países da África, da América do Sul e Rússia. Nesses países, o impacto da crise ainda não é tão sentido. A reação deles é que vai levar a uma resposta do mercado de combustíveis.
A China já mostrou que não deseja uma redução de sua demanda ao reduzir os juros.
O que quero dizer é que não está muito claro como será o grau de redução de demanda por conta dessa crise. Por outro lado, não há alterações significativas no curto prazo na oferta, o que, muito provavelmente, não levará a nenhuma expectativa de que o preço do petróleo caia continuamente.

FOLHA - O preço está em queda e pode cair ainda mais com a desaceleração mundial.
GABRIELLI
- Não há razão para uma queda contínua. O que temos é um movimento de curto prazo. Em julho o preço do barril foi a US$ 147, três meses depois está em US$ 95, uma variação enorme por conta de movimentações de curto prazo aproveitando o fato de o mercado estar muito apertado e ter entrada e saída de capital especulativo.

FOLHA - A queda estaria mais ligada à crise financeira do que à redução da demanda?
GABRIELLI
- Isso, mais da migração de capitais financeiros do que de fundamentos do mercado de petróleo.

FOLHA - E na Petrobras, qual será o impacto dessa crise?
GABRIELLI
- Na operação de curto prazo, quase nada. Primeiro, nós não repassamos para o mercado brasileiro, nossa principal fonte de geração de caixa, a flutuação diária dos preços.
Não fizemos isso quando subiu muito, não tem por que fazer agora. Segundo, fizemos nossos projetos de investimentos não com base em preços de curto prazo, mas conservadores. No plano atual, nós projetamos com o barril a US$ 35. Significa que não afeta nosso plano de investimentos de hoje.

FOLHA - E os investimentos previstos para o pré-sal, há algum impacto negativo?
GABRIELLI
- No curto prazo, não. Agora, se a situação do mercado financeiro se prolongar, com dificuldades de financiamento, aí fica difícil aumentar a dívida. Porque não é possível, dado o volume de investimentos para o pré-sal, pensar que será feito com capital gerado na atividade operacional, vai ter de ter endividamento. Se o mercado financeiro se contrai, a capacidade de financiamento fica mais difícil, ainda que mesmo num momento de alta contração projetos bons encontrem financiamentos. E nós acreditamos que nossos projetos são rentáveis.

FOLHA - A Petrobras está encontrando mais dificuldades para captar recursos?
GABRIELLI
- Que os mercados se contraíram nos últimos três meses, isso é evidente. As operações de captação se reduziram. Não tínhamos no curto prazo nenhuma operação. Suspendemos uma há três ou quatro meses, porque o mercado estava muito difícil. Piorou, mas não quer dizer que continue assim.

FOLHA - Tudo indica que vai piorar nos próximos meses.
GABRIELLI
- Não há como você ter certeza da generalização da crise. Claro que você começa a colocar as barbas de molho.

FOLHA - E para os acionistas minoritários, qual sua recomendação hoje, com a queda forte no preço das ações da Petrobras?
GABRIELLI
- A perspectiva de crescimento da Petrobras é grande, temos projetos consolidados, projetos em andamento. O nosso plano de investimento não se alterou no curto prazo e não será afetado porque o preço mudou agora. Veja bem, do nosso plano de investimento até 2012, dos US$ 112,7 bilhões, US$ 104 bilhões é de geração de caixa, com preço projetado de US$ 35 o barril.

FOLHA - O do pré-sal é que poderá ser mais afetado?
GABRIELLI
- O plano de investimento do pré-sal ainda não foi apresentado. É o futuro.


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