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União Européia agora quer preparar pacote para incentivar setor industrial
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
Os 27 países da União Européia anunciaram ontem a "determinação de tomar as medidas necessárias para reagir à
desaceleração da demanda e do
investimento e, em particular,
para apoiar a indústria européia".
É o anúncio de um possível
novo pacote, destinado agora à
atividade produtiva, depois que
o colossal plano de salvação do
setor financeiro fracassou, até
agora, em acalmar as Bolsas,
que continuam derretendo.
Como a explicação para as
novas quedas é a perspectiva de
recessão global, nada mais natural que botar dinheiro para
estimular a produção. Mas, no
caso, não há a pressa que houve
para ajudar a banca.
Os chefes de governo encarregaram a Comissão Européia,
braço executivo da UE, de apresentar uma proposta antes do
fim do ano, além de um estudo
sobre a situação da indústria.
Não combina com as urgências do empresariado industrial, manifestadas, por exemplo, por Jürgen Thumann, presidente da Federação das Indústrias Alemães, para quem o
governo precisa adotar já ações
para reduzir os efeitos da crise
sobre a economia real.
"Em nenhuma circunstância, o governo deve reduzir seu
nível de investimento", gritou
Thumann, em entrevista ao
jornal "Tagesspiegel", no que é
uma visível demonstração do
receio de que, com a ajuda aos
bancos, não sobre dinheiro público para o setor produtivo.
Já o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, chegou
a especificar qual área a ser ajudada: a automobilística. "Se os
Estados Unidos investiram maciçamente no setor de autos,
não é de se escandalizar que o
Estado, de nossa parte, possa
pensar em dar apoio de algum
modo à sua própria indústria
automobilística."
Justificou seu ministro da
Economia, Giulio Tremonti.
Antes da eleição de Berlusconi
em abril, o ministro publicou
um livro que é um hino de amor
ao liberalismo: "O Mundo Mudou, Tudo Mudou".
Mau humor do mercado
Tudo mudou, menos o humor dos mercados, que voltaram a sofrer perdas, exceto nos
EUA. A vítima maior foi o Japão, que perdeu 11,41%, a maior
queda em um dia desde a crise
de 1987. Na Europa, as perdas
variaram dos 4,11% de Madri
aos 5,92% de Paris.
Pior: os pacotaços de ajuda,
elogiados quase unanimemente, até pelo Nobel de Economia
Paul Krugman, já não gozam da
mesma aura de magia.
O primeiro-ministro japonês, Taro Aso, por exemplo,
disse que os US$ 700 bilhões
que os Estados Unidos reservaram para salvar seus bancos
não são suficientes. "Como não
são, o mercado está caindo de
novo agudamente", disse Aso.
Para fomentar ainda a desconfiança no setor, a UBS
(União de Bancos Suíços), a
maior grife em gerenciamento
de fortunas no mundo, teve que
ser socorrida pelo governo suíço e do Qatar. O Credit Suisse
foi igualmente ajudado.
Explicação do presidente do
Conselho Federal suíço, Pascal
Couchepin: "Nas últimas semanas, o refinanciamento [intrabancos] se tornara mais difícil.
Tanto a UBS como o Credit
Suisse são atualmente muito
bem capitalizados mas eles podem ter problemas de liquidez
em vista das dificuldades no
tráfico bancário".
Se até bancos suíços, símbolos da indústria, têm problemas
de liquidez, não é difícil concordar com Robert Peston, o editor de Negócios da BBC, quando diz que "os bancos ainda não
estão emprestando uns aos outros a qualquer taxa parecida
com a normalidade".
De fato, o Euribor, a taxa utilizada na Europa para empréstimos entre bancos, caiu de novo ontem, mas pouquinho: para
5,248%, quando a taxa do BCE
para as demais operações não
passa de 3,75%.
A exceção à regra entre os
grandes banqueiros é o que
mais interessa ao Brasil. Caso
de Emílio Botín, o patriarca do
Santander, que dispensou socorro do governo espanhol,
afirmando a "fortaleza e solvência" da banca do país. Mas
reconheceu que se vive, no
mundo, "uma crise de confiança generalizada", que atribuiu
aos "excessos" que seus companheiros praticaram, levando à
"perda de referências".
Se os bancos ainda não recuperaram a confiança, os produtores de petróleo a perderam
de vez. A Opep (Organização
dos Países Exportadores de Petróleo) antecipou para o dia 24
uma reunião prevista apenas
para o mês que vem.
Para Abdalla Salem El-Badri,
secretário-geral, a tendência é
reduzir a produção de 32,2 milhões de barris/dia para 31,3
milhões, o que pode aumentar
o preço. Com isso, pode morrer
a única boa notícia (ao menos
para os importadores).
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