São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2008

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Citigroup perde US$ 20 bi e corta 23 mil empregos

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Numa crise em que não se passa um dia sem más notícias, ontem foi a vez de dois gigantes do mercado bancário anunciarem suas perdas mais recentes. O Citigroup teve perda de US$ 2,8 bilhões no terceiro trimestre deste ano e acumula prejuízo de US$ 20,2 bilhões desde julho de 2007 -no início da crise. O banco de investimento Merrill Lynch apresentou um buraco ainda maior no terceiro trimestre, de US$ 5,2 bilhões.
Anteontem, o JPMorgan anunciou um lucro 84% menor no último trimestre. O Wells Fargo também teve queda, de 24%. Na semana anterior, o Bank of America já havia puxado a fila com uma redução de 68% nos seus ganhos.
Pela ordem dos ativos, os quatro maiores bancos dos EUA são JPMorgan (US$ 2,25 trilhões), Citigroup (US$ 2,05 trilhões), Bank of America (US$ 1,83 trilhão) e Wells Fargo (US$ 622 bilhões). Cada um vai receber US$ 25 bilhões de injeção de dinheiro público no programa de restauração da confiança no mercado promovido pelo governo dos EUA.
O Citi parece neste momento ser um dos mais fragilizados entre os quatro grandes. Foi o único a registrar perdas -os rivais diretos só tiveram lucros menores. Desde o início do ano, o Citi já cortou 23 mil empregos. Recentemente, tentou adquirir o Wachovia, mas foi derrotado pelo Wells Fargo.
Enquanto o Citi encolhe, outros dois grandes aumentaram de tamanho. O JPMorgan adquiriu, em março, o Bear Stearns, o primeiro banco de investimento a ter problemas na atual crise, e, mais recentemente, o Washington Mutual. O Bank of America levou no mês passado o Merrill Lynch.
No seu comunicado oficial, o Citi menciona brevemente suas operações na América Latina e no Brasil. Diz que os custos do crédito na região cresceram 65% no terceiro trimestre, "refletindo uma perda líquida de US$ 118 milhões". Essa alta do custo do crédito foi motivada "pela contínua deterioração do ambiente creditício no México e no Brasil".

Pacote de salvamento
O secretário do Tesouro (ministro da Fazenda) dos Estados Unidos, Henry Paulson, disse ontem que há muitos bancos dispostos a entrar no programa de resgate do governo federal. O plano prevê a compra, pelo Estado, de ações de instituições financeiras em dificuldades.
"Nós conseguimos nove bancos aderindo inicialmente e vamos ampliar bastante. E, você sabe, nós temos interesse num bom número de outros bancos", disse Paulson para a emissora de TV Fox Business.
Há um pouco de controvérsia nesse programa de resgate, pois as instituições precisam aceitar várias condições para receberem a injeção de recursos. Em público, os grandes bancos que já aderiram se mantêm favoráveis, mas nos bastidores sinalizam não estarem satisfeitos.
Também há dúvidas dentro do próprio governo sobre a eficácia do programa. A presidente do FDIC (agência garantidora dos depósitos bancários), Sheila Bair, afirmou ao jornal "The Wall Street Journal" que as medidas tomadas têm sido voltadas para o "nível institucional [os bancos]", mas "são os tomadores de empréstimo que estão sem conseguir pagar as suas prestações".
Ela se referia ao fato de os milhões de pessoas que não estão conseguindo pagar as prestações de seus imóveis ainda não terem recebido atenção direta do governo. Mais do que uma crítica, a declaração de Bair expôs um pouco mais o nível de divergência existente dentro da administração de George W. Bush sobre como debelar a atual crise.


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