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Analistas questionam sucesso de taxação
Medida pode apreciar dólar no curto prazo, mas não reverterá tendência de apreciação do real, afirmam especialistas
Avaliação é que imposto
na renda fixa terá pouca eficácia porque maioria dos recursos vai para a Bolsa
ou é investimento direto
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com o atenuante de que o investidor estrangeiro pagava
IOF (Imposto sobre Operações
Financeiras) até a crise, a volta
da taxação ao capital externo
enfrenta forte resistência no
mercado financeiro, que vê
pouca chance de sucesso no
longo prazo na tentativa de segurar a taxa de câmbio.
A principal crítica é que se
trata de uma medida artificial,
que não resolve o problema da
apreciação do real e que pode
levar a outras distorções.
Para Johnny Kneese, diretor
da corretora de câmbio LevyCam, dependendo da alíquota
colocada, a medida poderá provocar alguma depreciação do
câmbio, mas não deverá reverter a tendência de longo prazo
do dólar, que é de desvalorização. Segundo Kneese, uma alíquota de 1,5% no IOF, como
existia até outubro do ano passado em renda fixa, pode corroer o rendimento de quase um
ano da renda fixa nos EUA.
"Não é o caminho certo. O capital não pode ser perseguido;
tem de ser seduzido. No momento em que todo mundo está
indo mal [nos investimentos],
colocar isso é a confirmação de
que estamos satisfeitos com o
dinheiro que a gente tem."
Nathan Blanche, sócio da
consultoria Tendências, vê na
mudança uma tentativa clara
de administrar a flutuação da
taxa de câmbio que poderá prejudicar a política de metas de
inflação e limitar o potencial de
crescimento do país. "Digamos
que tenha sucesso essa medida
com IOF. Vai ocorrer que o
câmbio vai subir. Se isso acontecer, os preços sobem. Aí, o
Banco Central tem de subir os
juros. Eu ficaria muito satisfeito se tivesse transparência, e o
presidente do BC falasse que
mudou [a política cambial].
Que dissesse que o regime é de
meta de inflação, mas agora
com câmbio controlado. Não
existe uma convivência entre
câmbio administrado e metas
de inflação", disse.
Para Sidnei Nehme, diretor
da corretora NGO de câmbio,
trata-se de uma medida técnica
"compreensível", mas com potencial apenas para afetar os
fluxos de capital de curto prazo.
"Essa é uma medida técnica
compreensível e necessária,
embora vá provocar críticas. A
decisão, se adotada, afetará o
fluxo dos capitais de curto prazo, normalmente os oriundos
de operações de "carry trade"
[especulação com dinheiro
captado em países de juro baixo] em que que chegam ao país
para produzir nada, somente
dar um beliscão e ir embora."
Segundo Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco
Schahin, a medida terá mais
eficácia se for confirmada também a tributação dos investimentos em renda variável, os
que mais atraem os estrangeiros hoje. "Da outra vez, foi feito
em cima de títulos públicos; até
teve um pequeno efeito temporário, que não foi suficiente para reverter a tendência da taxa
de câmbio. Desta vez, acredito
que terá muito menos sucesso,
porque as operações significativas são de Bolsa e de investimento direto."
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