São Paulo, sábado, 17 de outubro de 2009

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Analistas questionam sucesso de taxação

Medida pode apreciar dólar no curto prazo, mas não reverterá tendência de apreciação do real, afirmam especialistas

Avaliação é que imposto na renda fixa terá pouca eficácia porque maioria dos recursos vai para a Bolsa ou é investimento direto

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com o atenuante de que o investidor estrangeiro pagava IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) até a crise, a volta da taxação ao capital externo enfrenta forte resistência no mercado financeiro, que vê pouca chance de sucesso no longo prazo na tentativa de segurar a taxa de câmbio.
A principal crítica é que se trata de uma medida artificial, que não resolve o problema da apreciação do real e que pode levar a outras distorções.
Para Johnny Kneese, diretor da corretora de câmbio LevyCam, dependendo da alíquota colocada, a medida poderá provocar alguma depreciação do câmbio, mas não deverá reverter a tendência de longo prazo do dólar, que é de desvalorização. Segundo Kneese, uma alíquota de 1,5% no IOF, como existia até outubro do ano passado em renda fixa, pode corroer o rendimento de quase um ano da renda fixa nos EUA.
"Não é o caminho certo. O capital não pode ser perseguido; tem de ser seduzido. No momento em que todo mundo está indo mal [nos investimentos], colocar isso é a confirmação de que estamos satisfeitos com o dinheiro que a gente tem."
Nathan Blanche, sócio da consultoria Tendências, vê na mudança uma tentativa clara de administrar a flutuação da taxa de câmbio que poderá prejudicar a política de metas de inflação e limitar o potencial de crescimento do país. "Digamos que tenha sucesso essa medida com IOF. Vai ocorrer que o câmbio vai subir. Se isso acontecer, os preços sobem. Aí, o Banco Central tem de subir os juros. Eu ficaria muito satisfeito se tivesse transparência, e o presidente do BC falasse que mudou [a política cambial]. Que dissesse que o regime é de meta de inflação, mas agora com câmbio controlado. Não existe uma convivência entre câmbio administrado e metas de inflação", disse.
Para Sidnei Nehme, diretor da corretora NGO de câmbio, trata-se de uma medida técnica "compreensível", mas com potencial apenas para afetar os fluxos de capital de curto prazo. "Essa é uma medida técnica compreensível e necessária, embora vá provocar críticas. A decisão, se adotada, afetará o fluxo dos capitais de curto prazo, normalmente os oriundos de operações de "carry trade" [especulação com dinheiro captado em países de juro baixo] em que que chegam ao país para produzir nada, somente dar um beliscão e ir embora."
Segundo Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin, a medida terá mais eficácia se for confirmada também a tributação dos investimentos em renda variável, os que mais atraem os estrangeiros hoje. "Da outra vez, foi feito em cima de títulos públicos; até teve um pequeno efeito temporário, que não foi suficiente para reverter a tendência da taxa de câmbio. Desta vez, acredito que terá muito menos sucesso, porque as operações significativas são de Bolsa e de investimento direto."


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