São Paulo, domingo, 17 de novembro de 2002

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BYE BYE, BRAZIL

Balanços apresentados à SEC mostram que as companhias vão enxugar atividades e vender ativos no país

Empresas estrangeiras se afastam do Brasil

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Apesar do recente otimismo que atingiu os mercados com o fim do processo eleitoral no Brasil, um quadro extremamente negativo do país está sendo exposto por companhias estrangeiras na SEC (Securities and Exchange Commission), a comissão de valores mobiliários americana.
Balanços do terceiro trimestre de 2002 apresentados por grupos como Monsanto, AT&T Latin America, BellSouth, FleetBoston, Citigroup e Alliant Energy mostram que as perspectivas para 2003 continuam desfavoráveis.
Essas companhias informaram aos mercados que vão continuar enxugando suas atividades e seus ativos no Brasil. Algumas avaliam publicamente a possibilidade de deixar o país. Os motivos são diversos. Vão desde desde problemas societários e cambiais a incertezas regulatórias e políticas.
No setor financeiro, o Citigroup e o FleetBoston, os dois grupos americanos com maior atividade no Brasil, informaram terem mantido a redução de suas exposições mesmo depois de terem se comprometido com o governo brasileiro, em agosto passado, a manter o nível de seus negócios no país.
"Continuamos a reduzir ativamente o perfil de nosso risco por meio da diminuição constante nas exposições a grande corporações, tanto domesticamente quanto na América Latina", informa o balanço trimestral do banco. No balanço anterior, de agosto, o Fleet informava que essa diminuição concentrava-se no Brasil e na Argentina. Segundo cálculos de Gerard Cassidy, analista do RBC Capital Markets, o corte de linhas do FleetBoston ao Brasil somou US$ 600 milhões somente no terceiro trimestre do ano.
No mesmo período, o Citigroup, que controla o Citibank, divulgou números mostrando um corte de US$ 1,2 bilhão em sua exposição ao Brasil - sendo que US$ 600 milhões em linhas comerciais de curto prazo e o restante nas demais operações. A redução desde dezembro de 2001 atingiu US$ 2,6 bilhões. "O Citigroup continua monitorando o impacto econômico das incertezas do mercado brasileiro e potenciais efeitos em nosso portfólio", diz o balanço.

Trunfo
Nos balanços apresentados à SEC, as companhias (americanas e estrangeiras) exibem a fuga do Brasil como um trunfo. Segundo analistas, é uma tentativa de evitar que suas classificações sejam rebaixadas por agências de risco num ano em que o ambiente corporativo nos EUA (contaminado por escândalos) e a queda das Bolsas no mundo já as afetam negativamente.
Os balanços de companhias de energia trazem as piores análises. "Estamos muito desapontados com os resultados de nossos investimentos no Brasil", informa Erroll B. Davis, presidente da americana Alliant Energy.
A companhia americana controla a distribuidora de energia Cataguazes-Leopoldina. "É vital que consigamos resultados melhores no futuro próximo. Medidas foram tomadas para melhorar o desempenho operacional de nosso negócio, mas a baixa venda de energia, desvalorizações cambiais e a continuidade de incertezas políticas e regulatórias resultaram num desempenho negativo persistente que não podemos tolerar indefinidamente. Como já indicamos antes, não temos intenção de investir capital adicional no Brasil até o ano de 2003. Se não constatarmos melhorias de mercado nesse período, iremos reavaliar nosso compromisso com o mercado brasileiro", informa a empresa.
A Alliant anunciou perdas de US$ 19 milhões no terceiro trimestre de 2002. No mesmo trimestre do ano passado, o prejuízo fora de US$ 3,7 milhões. A companhia creditou a maior parte desses resultados negativos neste ano ao racionamento e a problemas na construção de uma usina a gás.
No setor de telecomunicações, a AT&T Latin America e a BellSouth traçam cenários péssimos para 2003, ameaçam vender ativos no país ou tomar uma atitude ainda mais drástica. A AT&T Latin America, por exemplo, registrou um prejuízo no terceiro trimestre muito maior do que se estimava e informou que poderá pedir concordata ou vender parte de seus ativos em toda a região. Já a BellSouth comunicou à SEC que estuda a venda de suas participações nas duas operadoras de celular das quais é sócia no Brasil- a BCP, que opera telefonia celular na região metropolitana de São Paulo, e a BSE, que atua em seis Estados do Nordeste.
A gigante da biotecnologia Monsanto também informa que vai manter, para os próximos anos, sua estratégia iniciada em junho de "reduzir o risco de fazer negócios no Brasil e na Argentina". A companhia creditou seus prejuízos em 2002 problemas econômicos na América Latina.
Outras companhias, como Syngenta, Hypercom e Fibercore também anunciaram a disposição de reduzir suas operações no Brasil ou comunicaram ao mercado já as terem reduzido. Alcan, Basf, General Motors e Diageo limitaram-se a relatar perdas decorrentes da desvalorização e da queda nas vendas no Brasil.
Para Fernando Carneiro, consultor sênior da companhia de análises Institutional Shareholder Services (ISS), com sede em Washington, a maioria dos balanços apresentados à SEC mostra que o ceticismo corporativo com relação ao Brasil ainda persiste. Segundo ele, esse ceticismo decorreu primordialmente de motivos econômicos e societários, e não políticos.



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