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COMÉRCIO GLOBAL
Segundo presidente, o governo francês resiste a corte de tarifas na agricultura por razões políticas e não econômicas
Eleições barram abertura na França, diz Lula
PEDRO DIAS LEITE
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva criticou ontem o protecionismo dos países europeus e acusou a
França de travar as negociações
para baixar as tarifas por motivos
políticos, não econômicos.
"É que os agricultores franceses
têm muito peso na época da eleição e, aí, muita gente tem medo de
mexer com isso na época de eleição", disse, em discurso de improviso a acadêmicos, empresários e
parlamentares em um hotel de
Brasília. A França, que vive um clima de instabilidade social, tem
eleições previstas para o primeiro
semestre de 2007.
A UE (União Européia) se recusa a baixar as tarifas de importação de produtos agrícolas aos patamares que Brasil e Estados Unidos querem. O comissário de Comércio da UE , Peter Mandelson,
já classificou de "inaceitáveis" os
pedidos dos dois países.
"Vocês estão vendo a negociação que está acontecendo na OMC
[Organização Mundial do Comércio], estão vendo o preâmbulo da
Rodada Doha, estão percebendo
que, por mais democráticos que
sejam os países europeus, na hora
de discutir subsídio agrícola...",
afirmou o presidente.
A França, completou Lula, "tem
muita dificuldade de tomar uma
decisão favorável, mesmo a flexibilização dos Estados Unidos, a
França não acompanha, porque,
na verdade, o problema não é mais
econômico, é político".
A próxima reunião da Rodada
Doha acontece em Hong Kong no
mês que vem. Devido ao grau dos
impasses, muitos analistas já prevêem um fracasso nas negociações. Um dos riscos é de que o impasse nas negociações leve a mudanças "cosméticas", em que números expressivos poderão mascarar a pouca abertura dos mercados dos ricos aos produtos agrícolas dos mais pobres.
Na semana que passou, os atritos entre a UE e Brasil atingiram
um nível recorde, com acusações
de ambos os lados. No sábado, numa reunião em Roma entre Mandelson e o chanceler brasileiro,
Celso Amorim, as tensões diminuíram, mas um eventual acordo
permaneceu distante.
"Foi uma conversa muito boa,
muito ampla, muita sincera, mas
ninguém mudou de posição", disse Amorim depois da reunião.
No geral, a UE propõe um corte
médio de 39% nas tarifas para a
importação de produtos agrícolas,
mas o Brasil pede uma redução de
ao menos 54%. Existem ainda vários pontos que dificultam a negociação, como a proteção de algumas áreas em especial.
Ontem, Lula acusou a União Européia de, com essa decisão, perpetuar a pobreza no mundo. "Nós
achamos que, sem isso [maior
abertura comercial], nós vamos
continuar sem permitir que os
países mais pobres possam dar
um salto de qualidade num comércio mundial mais igual, mais
justo, o que permita que os países,
sobretudo os africanos, consigam
sair do estado de pobreza a que foram submetidos nesses últimos
400 anos."
Antes, Lula enviara uma mensagem ao primeiro-ministro britânico, Tony Blair, elogiando seu discurso pedindo abertura mais ambiciosa. Blair havia conclamado
EUA e UE a irem "mais longe nas
negociações de agricultura". Para
Lula, "o momento é crucial".
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