São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 2006

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Morre Friedman, Nobel de Economia

Defensor do livre mercado, americano foi um dos economistas mais influentes dos últimos 50 anos

Exerceu grande influência em líderes como Reagan e Thatcher e economistas latino-americanos que fizeram reformas liberais


Tim Sloan - 09.mai.02/France Presse
O economista Milton Friedman, sua mulher, Rose, e o presidente Bush durante homenagem a seus 90 anos, em Washington

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Um dos economistas mais importantes dos últimos 50 anos, ganhador do Prêmio Nobel em 1976, morreu ontem Milton Friedman, 94, de problemas cardíacos.
De Ronald Reagan a Margaret Thatcher, passando por economistas e políticos que fizeram as reformas de cunho liberal na América Latina nos últimos 20 anos, o mais conhecido defensor e modernizador da teoria do livre mercado influenciou pessoas e idéias sem nunca ter participado diretamente do poder.
Friedman era considerado o herdeiro espiritual de Adam Smith (1723-1790), propositor da teoria do "laissez-faire", segundo a qual o melhor governo é o que governa menos. A única ação que ele via como adequada ao governo era a de controlar a oferta de dinheiro, reativando um monetarismo que estava fora de moda na época.
As teorias monetárias do nova-iorquino, que previram a combinação até então inédita de desemprego e inflação crescentes (a estagflação dos anos 1970), valeram-lhe o Prêmio Nobel.
Iconoclasta, Friedman foi um dos pioneiros em tentar tornar acessível um tema espinhoso, a economia, ao manter uma coluna semanal de linguagem simples na revista "Newsweek" entre 1966 e 1983 e dar entrevistas para revistas como a "Playboy", nos anos 1970.
No final da vida, abraçou bandeiras libertárias, como a legalização da maconha e de outras drogas (leia texto nessa página).
Popularizou no léxico mundial a expressão "There is no such a thing as a free lunch" ("Não existe almoço de graça"), provavelmente originada nos EUA do século 19, que virou título de um livro seu de 1975. Queria dizer que, sempre que o governo gasta dinheiro com iniciativas populares, é a própria população que acaba pagando a conta depois.
Entre seus livros mais importantes, estão "Price Theory" (Teoria do Preço, 1962), "Capitalism and Freedom" (Capitalismo e Liberdade, 1962), "An Economist Protest" (Um Protesto de um Economista, 1972) e "Free to Choose" (Livre para Escolher), que primeiro surgiu como uma série de televisão para a rede pública PBS.
"Seu pensamento modelou de tal maneira a macroeconomia moderna que o pior erro intelectual ao lê-lo hoje em dia é deixar de apreciar sua originalidade e mesmo o caráter revolucionário de suas idéias", disse Ben S. Bernanke, atual presidente do Fed, o banco central norte-americano.
"A longo prazo, serão suas conquistas acadêmicas que vão ter importância duradoura", disse Alan Greenspan, antecessor de Bernanke no cargo. "Mas eu não deixaria de levar em conta o profundo impacto que ele teve na opinião pública americana [leia na pág. B3]"
Milton Friedman nasceu no Brooklyn, em Nova York, em 31 de julho de 1912, o único menino de quatro filhos de um casal de comerciantes húngaros de origem judaica. Com o dinheiro que ganhou servindo mesas e empacotando compras em mercados, entrou na Universidade Rutgers, em Nova Jersey, em 1929, início da Depressão.
De lá foi para a Universidade de Chicago, onde se graduaria e logo se tornaria o membro mais eminente da Escola de Economia de Chicago, grupo conservador formado dentro do departamento de economia da universidade que tentava se contrapor no debate nacional de idéias aos acadêmicos mais liberais do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e da Universidade Harvard.
Saiu dos bancos daquela universidade de Illinois outro fato importante de sua vida. Por freqüentar a aula de teoria econômica, que distribuía seus alunos na sala por ordem alfabética do sobrenome, Friedman, letra efe, sentava-se ao lado de Rose Director, letra dê. Ela se tornaria sua mulher seis anos depois, em 1938, e pelo resto de sua vida.
Os dois escreverem juntos a biografia "Two Lucky People" ("Duas Pessoas de Sorte", University of Chicago Press), em 1992, e criaram a fundação que leva o seu nome.
Foi a entidade que confirmou a morte do economista, ontem, depois anunciada pelo conservador Cato Institute de Washington, em meio a uma palestra, o que levou a platéia a fazer um minuto de silêncio.
Milton Friedman vivia em San Francisco, na Califórnia, onde deixa dois filhos, David e Janet, e Rose.


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