São Paulo, terça-feira, 17 de dezembro de 2002

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APLICAÇÃO

Pessoa física poderá comprar papel, que vai render IGP-M mais juros

Petrobras lança debênture de 5 anos

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O investidor preocupado em proteger seu dinheiro da inflação tem uma nova opção no mercado: as debêntures (títulos de dívida corporativa) da Petrobras, indexadas ao IGP-M e que pagarão, ainda, uma taxa de juros entre 9,4% e 9,8% ao ano. O valor da taxa de juros embutida no papel será definida na quinta-feira.
Os papéis foram lançados ontem pela empresa e poderão ser adquiridos até o dia 30 deste mês.
Serão colocados no mercado de varejo R$ 200 milhões em debêntures, o que corresponde a 40% da emissão total de R$ 500 milhões.
Esta é a primeira vez que uma empresa faz uma colocação de debêntures para o mercado de varejo. A pulverização dos títulos pela estatal do petróleo será feita por meio de 25 corretoras credenciadas e pelo Banco do Brasil, que está ofertando os papéis aos seus clientes por meio do seu site (www.bb.com.br).
Nos próximos dias, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) deverá divulgar a lista das corretoras credenciadas em seu site (www.bovespa.com.br). Também os bancos Itaú, Pactual e Bank Boston devem oferecer os papéis a seus clientes de "private banking" (grandes investidores pessoa física).

O que é
As debêntures são títulos de dívida de empresas interessadas em captar recursos no mercado a taxas inferiores às praticadas pelos bancos.
Para o investidor, representam uma aplicação de renda fixa, por prazo predeterminado. No caso dos papéis da Petrobras, o prazo para resgate é de cinco anos. "A vantagem, para o investidor, é que se trata de um título de risco baixo; nas escalas de "rating", a empresa está dois pontos acima do risco do Tesouro Nacional", diz Luiz Paulo Foggetti, analista da Fator Doria Atherino.
Mas também há desvantagens na aplicação, segundo analistas. "Se a inflação recuar, o rendimento dos papéis poderá ficar abaixo do de outras aplicações de renda fixa", alerta o consultor William Eid, da Fundação Getúlio Vargas.
Um levantamento feito por Eid mostra que de janeiro de 1995 ao final de novembro deste ano, enquanto o CDI (Certificado de Depósito Interbancário), o referencial dos fundos DI, rendeu 530% o IGP-M acumulou alta de 130%.
Segundo ele, o IGP-M tende a ultrapassar o IPCA, índice oficial de inflação, em momentos de crise cambial como a que o país viveu neste ano. "Mas, no longo prazo, o IPCA tem superado o índice de atacado", acrescenta. Portanto, como proteção contra a inflação, as debêntures podem deixar o investidor com os pés descobertos no futuro.
Outro problema, segundo consultores de investimentos ouvidos pela Folha, é que as debêntures são papéis de baixa liquidez, isto é, não são facilmente vendidas no mercado. "O mercado secundário para esses papéis é restrito aos fundos de pensão e investidores institucionais", diz Eid.
Para tentar contornar esse problema e dar opção de resgate antecipado aos investidores de varejo, a Petrobras exigiu que os bancos que participam da colocação -BB, Itaú e Pactual- se comprometam a recomprar os papéis dos investidores de varejo que desejarem resgatar antes do prazo.
Além disso, a Bolsa de Valores de São Paulo também deverá dar liquidez aos títulos da empresa. Segundo foi anunciado ontem, os papéis da petrolífera serão negociados no chamado Bovespa Fix, o mercado secundário de títulos de renda fixa do setor privado. "Nunca uma debênture teve tanta liquidez como as da Petrobras", diz Charles de Toledo, diretor de operação de renda fixa da Bolsa.
Segundo o consultor financeiro Mauro Halfeld, se a Bolsa não conseguir dar liquidez às debêntures, "o investidor que tentar resgatar a aplicação antes dos cinco anos corre o risco de ter um deságio [desconto" grande sobre o valor do papel".
Toledo admite o risco de deságio, mas diz que ele não é alto. A única experiência da Bovespa Fix nesse sentido é com debêntures emitidas há alguns meses pela Petrobras, e que foram compradas por clientes de private banking dos bancos que coordenaram a operação. Ontem o deságio dos títulos era de 0,85%.


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