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OMC se preocupa com acordos bilaterais e propõe tarifas zero
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
A OMC (Organização Mundial
do Comércio) chega aos dez anos
de existência preocupada com a
proliferação de tratados bilaterais
de comércio. Em estudo divulgado ontem pela organização, um
conselho de especialistas de comércio exterior, incluindo o brasileiro Celso Lafer, afirmou que
esse tipo de acordo tem que ser
submetido a uma "significativa"
revisão por parte da OMC.
"[O Conselho] está especialmente preocupado [com o fato]
de os acordos preferenciais estarem sendo usados como um mero
prêmio para governos que não
procuram objetivos relacionados
ao comércio", diz trecho da conclusão do relatório. Com o argumento, a OMC externa uma das
principais preocupações de estudiosos das relações internacionais. Para muitos, a expansão de
acordos regionais tem como principal objetivo costurar alianças
geopolíticas.
Para minimizar o efeito "tigela
de espaguete" - superposição de
acordos comerciais no mundo-,
a OMC propõe a redução de barreiras tarifárias e não-tarifárias
entre os países-membros da organização, sobretudo os ricos. "Um
compromisso de estabelecer uma
data para que todas as tarifas sejam reduzidas para zero tem que
ser considerado com seriedade
pelos países-membros desenvolvidos", diz o estudo.
Outro cenário
O papel da OMC passou a ser
questionado após uma seqüência
de fracassos nas negociações comerciais. Em 1999, uma série de
protestos contra a globalização
interrompeu o encontro ministerial de Seattle (EUA). Em 2001, o
avanço no encontro no Qatar, que
lançou a Rodada Doha, animou
os participantes, que estabeleceram 2005 como a data limite para
a conclusão de tratado amplo de
liberalização comercial.
Mas, em 2003, um outro encontro em Cancún marcou um forte
impasse entre ricos e pobres. Os
países em desenvolvimento pleitearam maior acesso a mercados.
A demanda encontrou resistência
dos países desenvolvidos.
O relatório foi uma tentativa do
diretor-geral da OMC, Supachai
Panitchpakdi, de oferecer respostas para os descrentes no sistema
multilateral de negociação. "Gostaria que esses temas fossem objeto de uma profunda análise e de
uma discussão de longo prazo",
disse.
O painel foi conduzido por Peter Sutherland, o primeiro diretor
da organização quando ela foi
criada, em 1995, a partir do Gatt
(Acordo Geral de Tarifas e Comércio, na sigla em inglês). O relatório, aliás, reconhece que a
configuração do comércio exterior global mudou. "A realidade
hoje é que a OMC preside um sistema mundial que está muito longe da visão dos arquitetos do
Gatt", diz a OMC.
"Os impactos dos resultados
das decisões da OMC tem um valor político inestimável, dão um
poder de barganha maior para os
países vencedores", disse Adriano
Campolina, diretor regional da
ONG Action Aid.
Com agências internacionais
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