São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2009

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Brasileiros perdem "milhões" com Madoff

Advogado americano diz que foi procurado por mais de 15 investidores do país que aplicaram no esquema do ex-presidente da Nasdaq

Batalha judicial para reaver aplicação deve durar pelo menos dois anos, afirma advogado, mas dinheiro não será recuperado na íntegra

ÁLVARO FAGUNDES
DA REDAÇÃO

O suposto esquema fraudulento montado pelo ex-presidente da Bolsa Nasdaq Bernard Madoff provocou perdas de "dezenas de milhões de dólares" a investidores brasileiros. É o que afirma o advogado americano David Rosemberg, que conta ter sido procurado por investidores do país que estudam entrar na Justiça dos EUA para recuperar suas aplicações.
Rosemberg afirma que já foi contatado por mais de 15 brasileiros (investidores individuais e assessores financeiros) de "São Paulo, Rio Janeiro e outras cidades" que aplicaram com Madoff -por questões éticas, o advogado diz não poder revelar os nomes.
Segundo ele, nenhum dos investidores aplicou diretamente com o gestor, mas por meio de bancos como Safra, Santander e UBS e do fundo norte-americano Fairfield Greenwich, além de outras instituições no país, nos EUA e na Europa.
"Muitos deles ficaram surpresos ao saber que o dinheiro estava aplicado com Madoff.
Alguns não sabiam, nunca foi revelado para eles. São situações distintas sobre como cada um acabou envolvido, cada investidor tem uma história diferente", afirma Rosemberg. No Brasil, o Safra afirma que não intermediou a venda de investimentos em fundos de Madoff, mas não descarta que clientes brasileiros de bancos do grupo no exterior tenham aplicado. O UBS Pactual diz que o produto não fazia parte das suas recomendações para os clientes brasileiros da área de gestão de fortunas. Clientes do banco na Suíça podem ter tido perdas com a fraude.
Já o Santander diz que não vendeu no Brasil produtos com exposição à fraude. O Santander espanhol, porém, confirma que sua gestora de "investimentos alternativos" Optimal Strategic tinha um fundo com posição em ativos de Madoff.
Procurada pela Folha, a "consultora" de negócios da Fairfield Greenwich Bianca Haegler preferiu não comentar. As declarações de Rosemberg são mais um indicador de como os tentáculos da suposta fraude de Madoff também atingiram o Brasil. Há poucos dias, fontes disseram ao "Wall Street Journal" que eram de brasileiros US$ 300 milhões dos US$ 3,1 bilhões que o fundo do Santander perdeu com o ex-presidente da Nasdaq. E a brasileira Gems Investimentos fechou a realização de resgates em um dos seus fundos, que tinha aplicações com Madoff. O escritório onde Rosemberg trabalha, o Broad and Cassel, fica em Miami, na Flórida, um dos locais onde Madoff arregimentou mais clientes. Ele era figura frequente nos clubes de golfe de Palm Beach, o que lhe abriu diversas portas para atrair novos investidores. O advogado conta que o escritório já tem mais de dez clientes (nenhum deles brasileiro), que, juntos, perderam mais de US$ 100 milhões com Madoff e pretendem ingressar na Justiça.

Recuperação do dinheiro
Para quem tem pressa em reaver o dinheiro, o advogado diz que o processo deve levar ao menos dois anos. "Duas coisas vão importar muito: a qualidade dos registros que vão encontrar no escritório de Madoff, ou seja, o quão rapidamente vão conseguir identificar as entradas e saídas do dinheiro, e o quanto ele vai cooperar com a investigação. Se cooperar com o FBI, o Departamento de Justiça e explicar a fraude, vai acelerar a resolução do caso." "No final das contas, vai prevalecer que tipo de documentação eles tinham sobre os investimentos. A primeira coisa que você tem de ver é com quem eles investiram. Os casos que têm uma conexão com os EUA [investimentos com ou por meio de bancos americanos] eu acho que terão uma chance maior de reaver o dinheiro do que aqueles que não têm", completa, alertando que os investimentos não deverão ser recuperados integralmente. Madoff é suspeito de armar um esquema Ponzi que provocou perdas de US$ 50 bilhões (cerca de duas vezes o PIB uruguaio) para investidores de diversas partes do mundo, entre eles instituições de caridade como a comandada pelo Prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel.
Por esse esquema (leia texto abaixo), ele prometia retornos altos e fixos aos investidores, porém esse dinheiro não vinha do rendimento das aplicações, mas da entrada de novos clientes. Com a crise nas Bolsas mundiais em 2008, houve uma corrida dos investidores para resgatar o dinheiro com Madoff, o que acabou desmoronando o suposto esquema.


Com TONI SCIARRETTA , da Reportagem Local




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