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Brasileiros perdem "milhões" com Madoff
Advogado americano diz que foi procurado por mais de 15 investidores do país que aplicaram no esquema do ex-presidente da Nasdaq
Batalha judicial para reaver
aplicação deve durar pelo
menos dois anos, afirma
advogado, mas dinheiro não
será recuperado na íntegra
ÁLVARO FAGUNDES
DA REDAÇÃO
O suposto esquema fraudulento montado pelo ex-presidente da Bolsa Nasdaq Bernard
Madoff provocou perdas de
"dezenas de milhões de dólares" a investidores brasileiros.
É o que afirma o advogado americano David Rosemberg, que
conta ter sido procurado por
investidores do país que estudam entrar na Justiça dos EUA
para recuperar suas aplicações.
Rosemberg afirma que já foi
contatado por mais de 15 brasileiros (investidores individuais
e assessores financeiros) de
"São Paulo, Rio Janeiro e outras cidades" que aplicaram
com Madoff -por questões éticas, o advogado diz não poder
revelar os nomes.
Segundo ele, nenhum dos investidores aplicou diretamente
com o gestor, mas por meio de
bancos como Safra, Santander
e UBS e do fundo norte-americano Fairfield Greenwich, além
de outras instituições no país,
nos EUA e na Europa.
"Muitos deles ficaram surpresos ao saber que o dinheiro
estava aplicado com Madoff.
Alguns não sabiam, nunca foi
revelado para eles. São situações distintas sobre como cada
um acabou envolvido, cada investidor tem uma história diferente", afirma Rosemberg.
No Brasil, o Safra afirma que
não intermediou a venda de investimentos em fundos de Madoff, mas não descarta que
clientes brasileiros de bancos
do grupo no exterior tenham
aplicado. O UBS Pactual diz que
o produto não fazia parte das
suas recomendações para os
clientes brasileiros da área de
gestão de fortunas. Clientes do
banco na Suíça podem ter tido
perdas com a fraude.
Já o Santander diz que não
vendeu no Brasil produtos com
exposição à fraude. O Santander espanhol, porém, confirma
que sua gestora de "investimentos alternativos" Optimal
Strategic tinha um fundo com
posição em ativos de Madoff.
Procurada pela Folha, a "consultora" de negócios da Fairfield Greenwich Bianca Haegler preferiu não comentar.
As declarações de Rosemberg são mais um indicador de
como os tentáculos da suposta
fraude de Madoff também atingiram o Brasil. Há poucos dias,
fontes disseram ao "Wall
Street Journal" que eram de
brasileiros US$ 300 milhões
dos US$ 3,1 bilhões que o fundo
do Santander perdeu com o ex-presidente da Nasdaq. E a brasileira Gems Investimentos fechou a realização de resgates
em um dos seus fundos, que tinha aplicações com Madoff.
O escritório onde Rosemberg trabalha, o Broad and Cassel, fica em Miami, na Flórida,
um dos locais onde Madoff arregimentou mais clientes. Ele
era figura frequente nos clubes
de golfe de Palm Beach, o que
lhe abriu diversas portas para
atrair novos investidores. O advogado conta que o escritório
já tem mais de dez clientes (nenhum deles brasileiro), que,
juntos, perderam mais de US$
100 milhões com Madoff e pretendem ingressar na Justiça.
Recuperação do dinheiro
Para quem tem pressa em
reaver o dinheiro, o advogado
diz que o processo deve levar ao
menos dois anos. "Duas coisas
vão importar muito: a qualidade dos registros que vão encontrar no escritório de Madoff, ou
seja, o quão rapidamente vão
conseguir identificar as entradas e saídas do dinheiro, e o
quanto ele vai cooperar com a
investigação. Se cooperar com
o FBI, o Departamento de Justiça e explicar a fraude, vai acelerar a resolução do caso."
"No final das contas, vai prevalecer que tipo de documentação eles tinham sobre os investimentos. A primeira coisa que
você tem de ver é com quem
eles investiram. Os casos que
têm uma conexão com os EUA
[investimentos com ou por
meio de bancos americanos] eu
acho que terão uma chance
maior de reaver o dinheiro do
que aqueles que não têm", completa, alertando que os investimentos não deverão ser recuperados integralmente.
Madoff é suspeito de armar
um esquema Ponzi que provocou perdas de US$ 50 bilhões
(cerca de duas vezes o PIB uruguaio) para investidores de diversas partes do mundo, entre
eles instituições de caridade
como a comandada pelo Prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel.
Por esse esquema (leia texto
abaixo), ele prometia retornos
altos e fixos aos investidores,
porém esse dinheiro não vinha
do rendimento das aplicações,
mas da entrada de novos clientes. Com a crise nas Bolsas
mundiais em 2008, houve uma
corrida dos investidores para
resgatar o dinheiro com Madoff, o que acabou desmoronando o suposto esquema.
Com TONI SCIARRETTA , da Reportagem Local
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