|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONSUMO
Mirai, revenda de produtos Panasonic, no shopping
Eldorado, aumentou no sábado 14% os preços das mercadorias
Lojas já começam a reajustar preços
FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local
A remarcação de preços já começou a pipocar no comércio paulista
no final de semana por conta da
desvalorização do real, de 17,36%
em dois dias.
A Mirai, revendedora de produtos Panasonic, localizada no shopping Eldorado, decidiu aumentar
14% os preços de todas as mercadorias no último sábado e na mesma hora sentiu o efeito: os clientes
sumiram.
Quem comprou na sexta-feira
uma TV Panasonic de 33 polegadas na Mirai pagou R$ 1.768 à vista.
No sábado, o mesmo aparelho estava à venda por R$ 2.014.
Um conjunto de som Panasonic
que custava R$ 899 subiu para R$
1.023. A loja também decidiu acabar com os descontos de 5% oferecidos ao cliente no pagamento à
vista.
Os vendedores reclamaram no
sábado da queda nas vendas por
conta dos reajustes. Aos sábados, a
loja costumava faturar de R$ 10 mil
a R$ 15 mil. No último sábado, até
às 14h, só havia vendido R$ 700.
Para evitar essa queda no faturamento, muitos lojistas decidiram
não mexer nos preços no final de
semana e aguardar até que o governo defina uma nova política
cambial, esperada para hoje.
O Empório Chiappetta, localizado no mesmo shopping, informa
que vai manter os preços de queijos, vinhos, frutas secas e outros
produtos importados até acabar o
estoque das mercadorias.
"Depois vamos ver o que fazer
com os preços", afirma Maria Cristina Chiapetta, sócia-proprietária.
Segundo ela, na sexta-feira e no sábado clientes tradicionais acabaram levando duas ou três unidades
de mercadorias importadas por temerem a alta dos preços.
No Santa Luzia, supermercado
instalado no meio dos Jardins e especializado em importados, os
preços também foram mantidos.
"Não há dúvida que os produtos
estrangeiros vão encarecer, mas
vamos aguardar um pouco mais",
diz Álvaro Lopes, sócio-diretor.
No sábado, ele sentiu, ao observar os carrinhos passando pelos
caixas, uma disposição maior dos
clientes para comprar bebidas importadas, o que ele atribui ao esperado aumento de preços.
O casal Lucy e Américo da Silva
Dias, frequentador assíduo do
Santa Luzia, está mais preocupado
com o aumento do preço do petróleo e os seus efeitos na economia.
"Está tudo muito bagunçado. O
produto nacional também vai subir e pode até voltar a inflação", diz
Américo. "É hora de economizar",
afirma Lucy.
A tradutora Lourdes Panzoldo,
69, outra cliente do Santa Luzia, já
não se apavora com a subida de
preços de importados. Primeiro,
porque não tem hábito de consumi-los. Segundo, porque acha que
o comerciante não vai conseguir
reajustar preço nem de artigo importado e nem de nacional.
"O consumo caiu muito. Quem
aumenta preço não vende." O que
a preocupa é o desemprego. Ela diz
que fala quatro línguas e está desempregada. Os três filhos têm
curso superior e também estão
sem emprego. "Mas ainda confio
na equipe econômica."
O casal Maria Alcina Costa, 50, e
Eraldo Merlin, acha que a economia brasileira vai se acertar, e também os preços, apesar de subirem
num primeiro momento.
Na dúvida, eles compraram no
Santa Luzia, no último sábado,
quatro vinhos portugueses de diferentes marcas, que custaram de R$
15 a R$ 87.
"Há algum tempo estamos preferindo fazer a festa em casa", explicam. O que eles querem dizer é que
estão evitando os restaurantes, nos
quais gastavam cerca de R$ 150 a
R$ 200 por refeição.
Maria Alcina é dona de uma empresa que promove eventos. Ela
mesma diz que não tem condição
de apresentar nova tabela de preços para os clientes. "A competição é muito grande. O consumidor
brasileiro está ciente de que tem de
economizar."
Quem também tem certeza disso
é Samuel Cimerman, diretor da
Mickey, loja de presentes. Cerca de
60% dos produtos que vende são
importados e, apesar da desvalorização do real, ele decidiu não mexer nos preços. "Todo mundo faz
pesquisa. Temos de continuar
competitivos."
Na sua análise, 99 será um ano
difícil para o país e o grande desafio será evitar que a tomada de
qualquer medida resulte na volta
da ciranda inflacionária.
O advogado Renato Cintra Carneiro, 70, foi ontem a uma loja do
Ponto Frio, no Jardins, para verificar se o preço de um videocassete
Philips anunciado no jornal por R$
349 estava mantido. Estava.
"A recessão não vai permitir aumentos de preços." Ao constatar
que o preço era o mesmo, Carneiro
disse que voltaria mais tarde para
fechar o negócio.
Kazimierz J. Malachowski, diretor da SGM Telecom, também gostou de ver que a concessionária de
carros importados Subaru e outras
que visitou no sábado estavam trabalhando com o dólar do dia 13.
Por isso estava decidido a trocar
seu carro importado por um novo.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|