São Paulo, segunda, 18 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CONSUMO
Mirai, revenda de produtos Panasonic, no shopping Eldorado, aumentou no sábado 14% os preços das mercadorias
Lojas já começam a reajustar preços

FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

A remarcação de preços já começou a pipocar no comércio paulista no final de semana por conta da desvalorização do real, de 17,36% em dois dias.
A Mirai, revendedora de produtos Panasonic, localizada no shopping Eldorado, decidiu aumentar 14% os preços de todas as mercadorias no último sábado e na mesma hora sentiu o efeito: os clientes sumiram.
Quem comprou na sexta-feira uma TV Panasonic de 33 polegadas na Mirai pagou R$ 1.768 à vista. No sábado, o mesmo aparelho estava à venda por R$ 2.014.
Um conjunto de som Panasonic que custava R$ 899 subiu para R$ 1.023. A loja também decidiu acabar com os descontos de 5% oferecidos ao cliente no pagamento à vista.
Os vendedores reclamaram no sábado da queda nas vendas por conta dos reajustes. Aos sábados, a loja costumava faturar de R$ 10 mil a R$ 15 mil. No último sábado, até às 14h, só havia vendido R$ 700.
Para evitar essa queda no faturamento, muitos lojistas decidiram não mexer nos preços no final de semana e aguardar até que o governo defina uma nova política cambial, esperada para hoje.
O Empório Chiappetta, localizado no mesmo shopping, informa que vai manter os preços de queijos, vinhos, frutas secas e outros produtos importados até acabar o estoque das mercadorias.
"Depois vamos ver o que fazer com os preços", afirma Maria Cristina Chiapetta, sócia-proprietária. Segundo ela, na sexta-feira e no sábado clientes tradicionais acabaram levando duas ou três unidades de mercadorias importadas por temerem a alta dos preços.
No Santa Luzia, supermercado instalado no meio dos Jardins e especializado em importados, os preços também foram mantidos. "Não há dúvida que os produtos estrangeiros vão encarecer, mas vamos aguardar um pouco mais", diz Álvaro Lopes, sócio-diretor.
No sábado, ele sentiu, ao observar os carrinhos passando pelos caixas, uma disposição maior dos clientes para comprar bebidas importadas, o que ele atribui ao esperado aumento de preços.
O casal Lucy e Américo da Silva Dias, frequentador assíduo do Santa Luzia, está mais preocupado com o aumento do preço do petróleo e os seus efeitos na economia.
"Está tudo muito bagunçado. O produto nacional também vai subir e pode até voltar a inflação", diz Américo. "É hora de economizar", afirma Lucy.
A tradutora Lourdes Panzoldo, 69, outra cliente do Santa Luzia, já não se apavora com a subida de preços de importados. Primeiro, porque não tem hábito de consumi-los. Segundo, porque acha que o comerciante não vai conseguir reajustar preço nem de artigo importado e nem de nacional.
"O consumo caiu muito. Quem aumenta preço não vende." O que a preocupa é o desemprego. Ela diz que fala quatro línguas e está desempregada. Os três filhos têm curso superior e também estão sem emprego. "Mas ainda confio na equipe econômica."
O casal Maria Alcina Costa, 50, e Eraldo Merlin, acha que a economia brasileira vai se acertar, e também os preços, apesar de subirem num primeiro momento.
Na dúvida, eles compraram no Santa Luzia, no último sábado, quatro vinhos portugueses de diferentes marcas, que custaram de R$ 15 a R$ 87.
"Há algum tempo estamos preferindo fazer a festa em casa", explicam. O que eles querem dizer é que estão evitando os restaurantes, nos quais gastavam cerca de R$ 150 a R$ 200 por refeição.
Maria Alcina é dona de uma empresa que promove eventos. Ela mesma diz que não tem condição de apresentar nova tabela de preços para os clientes. "A competição é muito grande. O consumidor brasileiro está ciente de que tem de economizar."
Quem também tem certeza disso é Samuel Cimerman, diretor da Mickey, loja de presentes. Cerca de 60% dos produtos que vende são importados e, apesar da desvalorização do real, ele decidiu não mexer nos preços. "Todo mundo faz pesquisa. Temos de continuar competitivos."
Na sua análise, 99 será um ano difícil para o país e o grande desafio será evitar que a tomada de qualquer medida resulte na volta da ciranda inflacionária.
O advogado Renato Cintra Carneiro, 70, foi ontem a uma loja do Ponto Frio, no Jardins, para verificar se o preço de um videocassete Philips anunciado no jornal por R$ 349 estava mantido. Estava.
"A recessão não vai permitir aumentos de preços." Ao constatar que o preço era o mesmo, Carneiro disse que voltaria mais tarde para fechar o negócio.
Kazimierz J. Malachowski, diretor da SGM Telecom, também gostou de ver que a concessionária de carros importados Subaru e outras que visitou no sábado estavam trabalhando com o dólar do dia 13. Por isso estava decidido a trocar seu carro importado por um novo.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.