São Paulo, quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004

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LUÍS NASSIF

O Citigroup e a CVM

A crise de governança que atingiu o mundo corporativo mundial teve, como causa principal, a existência de mecanismos societários que colocavam parte relevante das decisões fora do alcance dos órgãos reguladores nacionais e das empresas de auditoria da empresa-mãe. É como se fizesse a auditoria em todo o edifício e se deixasse de fora a viga mestra. Muitos gigantes corporativos desabaram por conta desse "detalhe".
Nos últimos dias, a publicação "Teletime" apurou que o controle da Brasil Telecom está subordinado a uma teia de holdings que tem na ponta final uma empresa de fachada controlada pelo Citigroup.
A empresa se chama CSH LLC e sua sede é em Phoenix, Arizona. A participação do Citi não consta da papelada encaminhada ao BNDES na época da privatização, nem da SEC americana nem da Bolsa de Nova York. Descobriu-se que a pessoa que assinou pela CSH LLC na documentação entregue ao BNDES, Manual Rocha, é advogado do Citibank Brasil, mas só na semana passada, depois de um longo rastreamento. A publicação foi descobrir essa ligação na Arizona Corporation Commission.
A rede de participações no controle da Brasil Telecom é a seguinte:
1) A Brasil Telecom tem 50% de ações ordinárias (com direito a voto) e 50% de ações preferenciais nominativas (sem direito a voto).
2) Das ações com direito a voto, 96,81% pertencem à Brasil Telecom Participações.
3) A Brasil Telecom Participações é controlada pela Solpart Participações, que tem 53,6% do seu capital.
4) A Solpart Participações é controlada pela Timepart, que tem 62% do seu capital.
5) O controle da Timepart está dividido entre a Teleunion (33,8%), a Privtel (33,1%) e a Telecom Holding (33,1%).
A Teleunion era de propriedade de Luiz Raymundo Rodolfo Tourinho Dantas, recentemente falecido e pai de Daniel Dantas.
A Privtel é oficialmente de Eduardo Cintra Santos, por meio de uma empresa de nome Perbrás, que é sócia do CVC Internacional (o braço para investimentos do Citi) e do Opportunity em uma empresa de nome Petrorecôncavo. Ambas compartilham o mesmo endereço no Rio de Janeiro.
Já a Telecom Holding pertence 100% a essa CSH LLC. Na SEC americana se informa que é controlada por "membros da família Woog". A publicação apurou que, no endereço mencionado no relatório da empresa, há o registro de uma companhia chamada Cable Systems Holding. Entre 1996 e 2000, essa empresa foi controlada pelo CVC Internacional, braço do Citi para investimentos em "equity". A CSH era fabricante de cabos e equipamentos para telecomunicações. Ao final de 1999, a empresa foi vendida para a Belden, mas o Citigroup conservou a divisão CSH LLC, nomeou um certo Peter Woog como seu presidente e a utilizou para entrar no grupo de controle da Brasil Telecom.
Em um momento em que se discute a necessidade até de grandes empresas limitadas de apresentar balanço, é papel da CVM esclarecer esse emaranhado de cruzamentos societários e informar ao mercado quem controla a Brasil Telecom e quais as implicações desse emaranhado societário na governança da companhia.

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Luisnassif@uol.com.br


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