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LUÍS NASSIF
O Citigroup e a CVM
A crise de governança que
atingiu o mundo corporativo mundial teve, como causa
principal, a existência de mecanismos societários que colocavam parte relevante das decisões fora do alcance dos órgãos reguladores nacionais e
das empresas de auditoria da
empresa-mãe. É como se fizesse
a auditoria em todo o edifício e
se deixasse de fora a viga mestra. Muitos gigantes corporativos desabaram por conta desse
"detalhe".
Nos últimos dias, a publicação "Teletime" apurou que o
controle da Brasil Telecom está
subordinado a uma teia de
holdings que tem na ponta final uma empresa de fachada
controlada pelo Citigroup.
A empresa se chama CSH
LLC e sua sede é em Phoenix,
Arizona. A participação do Citi
não consta da papelada encaminhada ao BNDES na época
da privatização, nem da SEC
americana nem da Bolsa de
Nova York. Descobriu-se que a
pessoa que assinou pela CSH
LLC na documentação entregue ao BNDES, Manual Rocha,
é advogado do Citibank Brasil,
mas só na semana passada, depois de um longo rastreamento. A publicação foi descobrir
essa ligação na Arizona Corporation Commission.
A rede de participações no
controle da Brasil Telecom é a
seguinte:
1) A Brasil Telecom tem 50%
de ações ordinárias (com direito a voto) e 50% de ações preferenciais nominativas (sem direito a voto).
2) Das ações com direito a voto, 96,81% pertencem à Brasil
Telecom Participações.
3) A Brasil Telecom Participações é controlada pela Solpart Participações, que tem
53,6% do seu capital.
4) A Solpart Participações é
controlada pela Timepart, que
tem 62% do seu capital.
5) O controle da Timepart está dividido entre a Teleunion
(33,8%), a Privtel (33,1%) e a
Telecom Holding (33,1%).
A Teleunion era de propriedade de Luiz Raymundo Rodolfo Tourinho Dantas, recentemente falecido e pai de Daniel Dantas.
A Privtel é oficialmente de
Eduardo Cintra Santos, por
meio de uma empresa de nome
Perbrás, que é sócia do CVC Internacional (o braço para investimentos do Citi) e do Opportunity em uma empresa de
nome Petrorecôncavo. Ambas
compartilham o mesmo endereço no Rio de Janeiro.
Já a Telecom Holding pertence 100% a essa CSH LLC. Na
SEC americana se informa que
é controlada por "membros da
família Woog". A publicação
apurou que, no endereço mencionado no relatório da empresa, há o registro de uma companhia chamada Cable
Systems Holding. Entre 1996 e
2000, essa empresa foi controlada pelo CVC Internacional,
braço do Citi para investimentos em "equity". A CSH era fabricante de cabos e equipamentos para telecomunicações.
Ao final de 1999, a empresa foi
vendida para a Belden, mas o
Citigroup conservou a divisão
CSH LLC, nomeou um certo
Peter Woog como seu presidente e a utilizou para entrar no
grupo de controle da Brasil Telecom.
Em um momento em que se
discute a necessidade até de
grandes empresas limitadas de
apresentar balanço, é papel da
CVM esclarecer esse emaranhado de cruzamentos societários e informar ao mercado
quem controla a Brasil Telecom e quais as implicações desse emaranhado societário na
governança da companhia.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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