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Vendas do varejo recuam pelo terceiro mês
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Os reflexos da crise financeira internacional derrubaram,
pelo terceiro mês consecutivo,
as vendas do comércio varejista
e impediram que o setor fechasse o ano de 2008 com um
inédito crescimento na casa
dos dois dígitos, segundo o IBGE. O volume de vendas caiu
0,3% na comparação livre de
influências sazonais com novembro. Em 2008, a expansão
ficou em 9,1%, pouco abaixo
dos 9,7% de 2007.
Não fosse a crise, o crescimento anual seria maior e ficaria acima de 10%, conforme
Reinaldo Pereira, economista
do IBGE. No acumulado de janeiro a setembro, as vendas
cresciam a uma taxa de 10,3%.
Desde outubro, diz, o comércio só fez desacelerar na esteira
da escassez de crédito e da deterioração da confiança do consumidor. De outubro a dezembro, o varejo acumulou uma
perda de 2,3% na comparação
com o desempenho de setembro. Em relação a dezembro de
2007, o crescimento foi de
3,9%, o menor para tal mês do
ano desde 2003 (3,2%).
"Esses resultados evidenciam a chegada da crise financeira internacional, que reduziu especialmente o crédito e
mexeu com a confiança do consumidor", afirmou Pereira.
A contração do crédito afetou
mais o ramo de móveis e eletrodomésticos, cujas vendas caíram 3,7% de novembro para
dezembro. Atingiu ainda o comércio de material de construção -queda de 7,3% em dezembro. Mais dependente da renda,
as vendas do setor de hiper e
supermercados e demais lojas
de alimentos e bebidas ficaram
estáveis em dezembro, após
crescerem 0,7% em novembro.
Segundo o economista Carlos Thadeu de Freitas, da Confederação Nacional do Comércio, a crise afetou mais o comércio de bens duráveis. Tal padrão, diz, vai se manter neste
ano, quando as vendas de eletroeletrônicos devem sofrer
mais em razão da restrição do
crédito e da alta do dólar -que
eleva os preços dos produtos
com componentes importados.
Segundo Freitas, a crise alterou o padrão histórico e fez as
vendas caírem em dezembro e
só não foram piores porque o
preço dos eletroeletrônicos
ainda não havia subido, o que já
se notou em janeiro.
Para o economista, o reajuste
real de 6,4% do salário mínimo
garantirá a expansão da massa
salarial neste ano e trará dinamismo à atividade de supermercados, beneficiada pela redução do preço dos alimentos.
"O primeiro semestre vai ser
muito difícil. Os bancos estão
receosos em emprestar por
causa do aumento da inadimplência, e os consumidores
também não querem se endividar. Mas o consumo de bens semi e não-duráveis deve crescer
com a expansão da renda."
Para 2009, Freitas espera um
crescimento nas vendas entre
3% e 4,5%. Desempenho, segundo ele, mais fraco do que em
2008, ano que seria o melhor da
história recente do comércio se
a crise não tivesse abortado o
dinamismo do setor.
Para Marcelo Waideman,
analista da consultoria Gouvêa
de Souza, a crise chegará com
menos força ao varejo de alimentos, impulsionado pela expansão da renda. Ele acredita,
no entanto, que o comércio como um todo sentirá uma desaceleração principalmente nos
três primeiros meses deste ano.
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