São Paulo, quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

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Vendas do varejo recuam pelo terceiro mês

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Os reflexos da crise financeira internacional derrubaram, pelo terceiro mês consecutivo, as vendas do comércio varejista e impediram que o setor fechasse o ano de 2008 com um inédito crescimento na casa dos dois dígitos, segundo o IBGE. O volume de vendas caiu 0,3% na comparação livre de influências sazonais com novembro. Em 2008, a expansão ficou em 9,1%, pouco abaixo dos 9,7% de 2007.
Não fosse a crise, o crescimento anual seria maior e ficaria acima de 10%, conforme Reinaldo Pereira, economista do IBGE. No acumulado de janeiro a setembro, as vendas cresciam a uma taxa de 10,3%.
Desde outubro, diz, o comércio só fez desacelerar na esteira da escassez de crédito e da deterioração da confiança do consumidor. De outubro a dezembro, o varejo acumulou uma perda de 2,3% na comparação com o desempenho de setembro. Em relação a dezembro de 2007, o crescimento foi de 3,9%, o menor para tal mês do ano desde 2003 (3,2%).
"Esses resultados evidenciam a chegada da crise financeira internacional, que reduziu especialmente o crédito e mexeu com a confiança do consumidor", afirmou Pereira.
A contração do crédito afetou mais o ramo de móveis e eletrodomésticos, cujas vendas caíram 3,7% de novembro para dezembro. Atingiu ainda o comércio de material de construção -queda de 7,3% em dezembro. Mais dependente da renda, as vendas do setor de hiper e supermercados e demais lojas de alimentos e bebidas ficaram estáveis em dezembro, após crescerem 0,7% em novembro.
Segundo o economista Carlos Thadeu de Freitas, da Confederação Nacional do Comércio, a crise afetou mais o comércio de bens duráveis. Tal padrão, diz, vai se manter neste ano, quando as vendas de eletroeletrônicos devem sofrer mais em razão da restrição do crédito e da alta do dólar -que eleva os preços dos produtos com componentes importados.
Segundo Freitas, a crise alterou o padrão histórico e fez as vendas caírem em dezembro e só não foram piores porque o preço dos eletroeletrônicos ainda não havia subido, o que já se notou em janeiro.
Para o economista, o reajuste real de 6,4% do salário mínimo garantirá a expansão da massa salarial neste ano e trará dinamismo à atividade de supermercados, beneficiada pela redução do preço dos alimentos.
"O primeiro semestre vai ser muito difícil. Os bancos estão receosos em emprestar por causa do aumento da inadimplência, e os consumidores também não querem se endividar. Mas o consumo de bens semi e não-duráveis deve crescer com a expansão da renda."
Para 2009, Freitas espera um crescimento nas vendas entre 3% e 4,5%. Desempenho, segundo ele, mais fraco do que em 2008, ano que seria o melhor da história recente do comércio se a crise não tivesse abortado o dinamismo do setor.
Para Marcelo Waideman, analista da consultoria Gouvêa de Souza, a crise chegará com menos força ao varejo de alimentos, impulsionado pela expansão da renda. Ele acredita, no entanto, que o comércio como um todo sentirá uma desaceleração principalmente nos três primeiros meses deste ano.


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