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Socorro a banco dos EUA assusta mercado
Bush chama "comitê de crise" para discutir próximos passos; mercado pede corte agressivo hoje nos juros americanos
Bovespa cai 3,19% com saída de estrangeiro; alta de 10% na ação do JP Morgan, agente do socorro ao Bear Stearns, segura o Dow Jones
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os mercados globais tiveram
ontem um novo dia de forte
pessimismo. Dessa vez, as perdas foram motivadas pela desconfiança provocada pela ação
agressiva do Federal Reserve
[BC dos EUA] de adotar, em
pleno domingo, medidas de socorro ao sistema financeiro.
O Fed costurou a venda do
Bear Stearns, que já foi o quinto
maior banco de investimento
americano, por um valor irrisório, abriu uma linha emergencial de crédito direto para bancos em dificuldades e ainda reduziu o juro dessas operações, a
chamada taxa de redesconto.
Na visão do mercado, as iniciativas do Fed mais assustaram do que acalmaram os investidores, sugerindo que outras instituições enfrentam
problemas semelhantes. Motivou ainda o mercado a pedir
uma redução agressiva nos juros -pela primeira vez, falou-se em corte de até um ponto
percentual, levando a taxa de
3% para 2%. A decisão sai hoje.
Com o desastre provocado, o
presidente George W. Bush teve de convocar um "comitê de
crise" para discutir as próximas
ações, com a participação do secretário do Tesouro, Henry
Paulson, o presidente do Fed,
Ben Bernanke, o presidente da
SEC (CVM americana), Christopher Cox, e Walter Luken, interino na supervisão dos negócios com futuros e commodities. Os bancos centrais britânico, japonês e australiano injetaram dinheiro para dar liquidez
para os bancos honrarem eventuais pedidos de resgate.
As medidas adotadas pelo
Fed levaram a uma das maiores
corridas no ano para venda de
ações, moedas, papéis de dívida
e commodities. O resultado foi
uma queda generalizada das
Bolsas globais -incluindo o
Brasil, que até a semana passada mantinha algum "descolamento" do pessimismo internacional. A Bovespa terminou o dia com baixa de 3,19%.
Nem as commodities escaparam das baixas, como o petróleo, que na sexta alçou o recorde de US$ 110,21 o barril. Ontem, recuou 4% e voltou a US$
105,88 com a perspectiva de
queda no consumo. O dólar
americano recuou 2,25% em
relação ao iene e bateu na menor cotação em 12 anos.
A Bolsa de Nova York teve
perdas de 0,9% no índice S&P
500, que mede o desempenho
de 500 ações americanas. O índice Dow Jones -termômetro
de só 30 empresas- subiu
0,18%, mas a alta foi consequência da valorização de
10,32% das ações do JPMorgan, agente do socorro ao Bear
Stearns, e que terá de injetar
US$ 6 bilhões no banco. O mercado viu uma oportunidade
única para o JPMorgan de levar
uma carteira importante de
clientes e uma posição privilegiada em Wall Street.
Demais bancos tiveram perdas expressivas, inclusive na
Europa e na Ásia. Os papéis do
Citigroup recuaram 5,86%, e os
do Lehman Brothers, 19,13%.
Com atuação parecida com o
Bear Stearns, o Lehman é
apontado como o próximo a assumir perdas consideráveis. A
Bolsa de Londres caiu 3,86%, e
a de Frankfurt, 4,18%. Em Tóquio, a baixa foi de 3,71%.
"Há crises conjunturais como as que estamos vivendo que
vão durar bastante e ter graves
conseqüências", afirmou o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn.
"Não foi o Fed quem perdeu
o controle do mercado, mas foi
o mercado que perdeu o controle de si próprio. Nenhuma
técnica de avaliação de risco sobreviveu ilesa. Todas fracassaram. A crise atingiu um dos
mais importantes mercados de
crédito do mundo e por isso deve ser profunda e duradoura.
Essas perdas são sempre subdimensionadas", disse Marcio
Holland, economista da FGV.
Na corrida por investimentos seguros de curto prazo, os
títulos de três meses do governo americano viram seu retorno desabar para menos de 1%
ao ano, chegando a 0,652%, o
menor desde maio de 1958.
"Recolamento" do Brasil
No Brasil, os investidores viram mais uma vez repetir o "recolamento" da Bovespa com o
mercado externo, típico de momentos de grandes incertezas,
com saída de estrangeiros.
"Para sair, o estrangeiro vende o que tiver e a qualquer preço. Por isso, as ações da Vale e
da Petrobras foram as mais penalizadas", disse Kelly Trentin,
da corretora SLW. As ações ON
da Vale e da Petrobras tiveram
perdas de 6,06% e 5,31%.
Para Fernando Cardim, professor da UFRJ, o que assustou
o mercado não foi a redução da
taxa de desconto, mas a novidade de o Fed socorrer bancos de
investimento. O Fed só podia
socorrer bancos comerciais,
que têm correntistas. "O Fed
estaria temendo algum contágio no setor de investimento. A
influência do Fed é indireta, no
mercado de títulos, e nem sempre muito eficaz. Outras quebras virão. Não há dúvida de
que o destino de muitas dessas
instituições já está decidido e é
dramático", disse Cardim.
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