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Real lidera em valorização entre as principais moedas
Em 12 meses, dólar recuou 18,6% em relação ao real; ontem, fechou a R$ 1,657
Analistas acreditam que novo movimento de alta
de juros iniciado pelo BC anteontem deve acentuar desvalorização do dólar
FABRICIO VIEIRA
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
O dólar viveu ontem mais um
dia de perdas diante do real, para terminar vendido a R$ 1,657
-menor cotação desde maio de
1999. A fraqueza da moeda
americana não é um fato restrito à divisa brasileira. Mas, considerando os últimos 12 meses,
o real lidera entre as principais
moedas que mais ganharam valor diante do dólar. No período,
a moeda dos EUA sofreu desvalorização de 18,61% em relação
ao real.
Outras moedas, de diferentes
regiões, têm vivido movimento
semelhante. Destacam-se, em
12 meses, as quedas amargadas
pelo dólar diante de divisas como peso colombiano (-16,35%),
novo sol peruano (-14,61%),
iene (-14%), peso chileno
(-13,54%), dólar australiano
(-10,99%) e euro (-10,82%).
Nas operações de ontem, o
dólar chegou a ser negociado
em seu menor valor histórico
diante do euro, a US$ 1,5982.
No mercado brasileiro, o dólar já recuou 5,48% apenas neste mês. Ontem, caiu 0,42%.
Essa força do real prejudica
as exportações do país, ao encarecê-las, mas barateia os importados, o que ajuda a segurar
a inflação e a elevar investimentos em máquinas e tecnologias importadas.
A retomada da elevação dos
juros no Brasil reforça a expectativa de que o real seguirá subindo. Anteontem, a taxa básica foi elevada de 11,25% para
11,75% anuais. O mercado espera que a alta siga ao menos até o
fim de 2008, para quando projetam a Selic em 12,75%.
Enquanto isso, os juros foram consideravelmente reduzidos nos EUA -de 5,25% em
setembro para 2,25%. Esse movimento tende a atrair cada vez
mais recursos ao país em busca
da alta remuneração proporcionada pelos juros do país, os
maiores do mundo. E, se entram mais dólares no mercado,
num momento de baixa procura pela divisa, reforça-se a tendência de apreciação do real.
"O câmbio reflete o cenário
atual de expectativa de alta dos
juros. Mas não podemos esquecer também a depreciação que
o dólar vem tendo no exterior
diante de outras moedas", afirma a economista-chefe do Banco Fibra, Maristela Ansanelli.
O movimento de desvalorização do dólar em todo o mundo não é um fenômeno recente.
Já há alguns anos a moeda tem
recuado por causa do déficit fiscal nos EUA.
Como o governo George W.
Bush -que começou em
2001- gasta mais do que arrecada, foi obrigado a emitir mais
títulos de dívida para se financiar. Dessa maneira, coloca
mais dólares em circulação no
mercado, o que favorece a queda no preço da divisa.
Recentemente, outros fatores passaram a contribuir para
a queda. O primeiro é a diferença da taxa de juros norte-americana em relação às dos demais países: nos EUA, a taxa
apresenta tendência de baixa,
enquanto em outros lugares segue estável. Depois, vem a explosão dos preços das commodities agrícolas e metálicas, que
favorece as contas externas dos
países que são grandes exportadores, Brasil incluído.
"E o país tem atraído recursos também para aplicações de
longo prazo e investimentos no
setor produtivo", explica Filipe
Albert, economista da consultoria Tendências.
No mercado, a sensação é de
continuidade na queda da cotação da moeda americana. Ansanelli, do Fibra, ainda trabalha
com a previsão de dólar a R$
1,65 no fim do ano. "Mas, dado o
atual cenário, a cotação pode
descer abaixo disso."
Mesmo que muitos economistas apontem os efeitos nocivos do dólar baixo, como o encarecimento das exportações,
ninguém espera que o governo
anuncie medidas para reverter
o rumo da moeda. O aumento
das importações também pode
prejudicar os fabricantes nacionais.
No momento, o BC tem se limitado a fazer leilões, praticamente todos os dias, para adquirir dólares dos bancos -operação que pouco tem surtido efeito sobre a cotação.
"Qualquer medida tomada
agora iria contra os fundamentos do movimento atual. Portanto, não teria um resultado
consistente e duradouro", afirma Miriam Tavares, diretora
de câmbio da corretora AGK.
"O câmbio depende é do
mercado", completa.
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