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Elevação de juros deve aumentar dívida pública em pelo menos R$ 295 milhões
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A alta dos juros anunciada
anteontem pelo Banco Central
deve ter impacto inicial de cerca de R$ 295 milhões na dívida
pública, podendo ser ainda
maior caso a escalada da taxa
Selic continue ao longo dos
próximos meses, como espera o
mercado financeiro.
O valor corresponde ao
maior custo que irá incidir sobre o endividamento do governo nas próximas seis semanas,
período em que irá vigorar a taxa de juros de 11,75% ao ano fixada pelo Copom (Comitê de
Política Monetária do BC). No
dia 4 de junho, o comitê volta a
se reunir para decidir se eleva
novamente a Selic -a expectativa do mercado é de mais uma
alta de 0,5 ponto percentual.
Cerca de um terço da dívida
do governo federal é atrelada à
Selic. Caso esse novo patamar
seja mantido pelos próximos 12
meses, o custo fiscal da medida
será de cerca de R$ 2,9 bilhões,
segundo o secretário do Tesouro, Arno Augustin.
Augustin diz, porém, que os
efeitos da alta dos juros podem
ser minimizados caso o governo consiga reduzir o peso dos
papéis corrigidos pela Selic na
sua dívida. "Há uma tendência
de melhorar o perfil com maior
volume de [títulos] prefixados e
ligados a índice de preços."
O economista Francisco Lopreato, da Unicamp, critica a alta dos juros e cita o impacto fiscal como uma das desvantagens. "Fazer isso [elevar os juros] é jogar fora trabalho importante dos últimos anos."
"Não vai ser nenhum estrago
astronômico, mas havia uma
tendência de queda [da dívida
pública] que, embora muito
lenta, estava ocorrendo. A expectativa agora é que essa queda pare de acontecer, podendo
até haver uma alta", diz.
Roberto Padovani, estrategista-sênior para América Latina do banco WestLB, diz que o
BC não pode se preocupar com
questões fiscais enquanto trabalha contra a inflação, que deve ser o único objetivo da política monetária. "Se as pessoas estão preocupadas com a questão
fiscal, deveriam pressionar o
governo para buscar um superávit primário mais elevado."
Para Padovani, os juros no
país poderiam ser mais baixos
se a dívida pública fosse menor,
meta que poderia ser alcançada
com aperto fiscal mais intenso.
"Os juros são altos porque a política fiscal é frouxa", diz.
Em fevereiro, dado oficial
mais recente, a dívida do setor
público como um todo (incluindo Estados, municípios e
estatais, além de governo federal) estava em R$ 1,16 trilhão,
42,2% do PIB (Produto Interno
Bruto). O superávit primário
(economia feita para pagar juros da dívida) acumulado nos
12 meses encerrados em fevereiro somou R$ 109 bilhões.
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