São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2008

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Elevação de juros deve aumentar dívida pública em pelo menos R$ 295 milhões

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A alta dos juros anunciada anteontem pelo Banco Central deve ter impacto inicial de cerca de R$ 295 milhões na dívida pública, podendo ser ainda maior caso a escalada da taxa Selic continue ao longo dos próximos meses, como espera o mercado financeiro.
O valor corresponde ao maior custo que irá incidir sobre o endividamento do governo nas próximas seis semanas, período em que irá vigorar a taxa de juros de 11,75% ao ano fixada pelo Copom (Comitê de Política Monetária do BC). No dia 4 de junho, o comitê volta a se reunir para decidir se eleva novamente a Selic -a expectativa do mercado é de mais uma alta de 0,5 ponto percentual.
Cerca de um terço da dívida do governo federal é atrelada à Selic. Caso esse novo patamar seja mantido pelos próximos 12 meses, o custo fiscal da medida será de cerca de R$ 2,9 bilhões, segundo o secretário do Tesouro, Arno Augustin.
Augustin diz, porém, que os efeitos da alta dos juros podem ser minimizados caso o governo consiga reduzir o peso dos papéis corrigidos pela Selic na sua dívida. "Há uma tendência de melhorar o perfil com maior volume de [títulos] prefixados e ligados a índice de preços."
O economista Francisco Lopreato, da Unicamp, critica a alta dos juros e cita o impacto fiscal como uma das desvantagens. "Fazer isso [elevar os juros] é jogar fora trabalho importante dos últimos anos."
"Não vai ser nenhum estrago astronômico, mas havia uma tendência de queda [da dívida pública] que, embora muito lenta, estava ocorrendo. A expectativa agora é que essa queda pare de acontecer, podendo até haver uma alta", diz.
Roberto Padovani, estrategista-sênior para América Latina do banco WestLB, diz que o BC não pode se preocupar com questões fiscais enquanto trabalha contra a inflação, que deve ser o único objetivo da política monetária. "Se as pessoas estão preocupadas com a questão fiscal, deveriam pressionar o governo para buscar um superávit primário mais elevado."
Para Padovani, os juros no país poderiam ser mais baixos se a dívida pública fosse menor, meta que poderia ser alcançada com aperto fiscal mais intenso. "Os juros são altos porque a política fiscal é frouxa", diz.
Em fevereiro, dado oficial mais recente, a dívida do setor público como um todo (incluindo Estados, municípios e estatais, além de governo federal) estava em R$ 1,16 trilhão, 42,2% do PIB (Produto Interno Bruto). O superávit primário (economia feita para pagar juros da dívida) acumulado nos 12 meses encerrados em fevereiro somou R$ 109 bilhões.


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