São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2008

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Governo infla crédito para tentar evitar falta de trigo

Ministério eleva preço mínimo e anuncia R$ 1,2 bilhão para comercialização

Agricultor também teve ampliados limites para empréstimos; intenção é safra 25% maior para risco menor no abastecimento


Mauro Zafalon - 5.dez.06/Folha Imagem
Plantação de trigo no Paraná; preços do cereal deram guinada

LUCIANA OTONI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo anunciou um programa de estímulo ao plantio de trigo destinado a reduzir o risco de desabastecimento do cereal no mercado interno. O incentivo é baseado no reajuste do preço mínimo pago ao produtor, ampliação do limite de empréstimo e abertura de linha de crédito para comercialização com juros de 6,75% ao ano.
De acordo com projeções do Ministério da Agricultura, a oferta desses estímulos tende a elevar em 25% a colheita de trigo na safra 2008/2009 em comparação à safra em curso.
Na política de preço mínimo, o governo adotou reajuste de 20%. Com o aumento, a saca de 60 quilos passou a R$ 28,80 e a tonelada, R$ 480. Nos financiamentos na modalidade Empréstimo do Governo Federal, o limite individual de contratação sobe de R$ 300 mil para R$ 400 mil. Também foi criada uma linha de crédito de R$ 1,2 bilhão para comercialização, com juros de 6,75% ao ano.
No anúncio, o ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) comentou que a valorização do trigo compensa parte dos custos elevados de produção, tornando o plantio mais atraente que em safras passadas.
A cotação do grão deu uma guinada nos dois últimos anos. Somente de abril do ano passado a igual mês de 2008, o preço da tonelada subiu 59%, de R$ 490 para R$ 780.
A dependência histórica do Brasil do trigo proveniente da Argentina é outro fator que leva o governo a buscar alternativas. A Argentina suspendeu provisoriamente a venda do cereal para o Brasil pelo uso da matéria-prima como instrumento para conter os preços.
Como resultado, os moinhos brasileiros não estão conseguindo importar do país vizinho e podem ter que recorrer a fornecedores distantes, como Estados Unidos e Canadá, fato que deve encarecer os preços em função dos fretes. O Brasil importa quase 70% do trigo consumido no país.
Com o anúncio das medidas, Stephanes não vê risco de novas altas nos preços dos derivados do trigo, além do aumento de 15% anunciado esta semana.
Parte da cadeia produtiva do trigo analisa o programa com ceticismo. O diretor do Sindicato da Indústria do Trigo em São Paulo, Christian Saigh, comenta que o reajuste de 20% no preço mínimo terá pouco efeito porque o mercado já negocia a tonelada a R$ 800.
Sobre o risco de encarecimento dos produtos ao consumidor, Saigh diz que o comportamento dos preços dos derivados do trigo vão permanecer dependentes da decisão da Argentina em voltar ou não a exportar para o Brasil. "O parceiro habitual não está confiável e os estoques estão diminuindo. Os próximos reajustes vão depender dos argentinos".


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