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ANÁLISE
Luz versus escuridão
MAURICIO TOLMASQUIM
ESPECIAL PARA A FOLHA
O brasileiro conhece o trauma da falta de energia. Em
2001, a insuficiência de oferta
interrompeu a retomada do
crescimento e levou milhões de
brasileiros ao desemprego. Expandir adequadamente o sistema elétrico é, pois, essencial.
Nossa matriz elétrica é
exemplar. Graças à hidreletricidade, 90% da energia produzida no país é renovável. A média mundial é de apenas 18%.
No consumo de eletricidade,
cada brasileiro responde por
uma emissão de gases de efeito
estufa equivalente à 45ª parte
do que a de cada norte-americano ou a de cada chinês.
O Brasil usou só um terço de
seu potencial hídrico, menos da
metade da proporção dos principais países desenvolvidos.
Leilões de energia eólica e bioeletricidade, fontes complementares à hidráulica porque disponíveis quando os reservatórios estão mais baixos, têm sido
um sucesso. Portanto, é possível manter nossa matriz limpa.
É nesse contexto que Belo
Monte é fundamental para o
país. E também o é para a região
do Xingu. Afinal, a produção de
energia não é seu único benefício. Investimentos em programas socioambientais associados ao projeto somam 19 vezes
o orçamento de investimento
do Estado do Pará em 2010.
Serão aplicados recursos em
comunicação, transporte e saneamento básico. Mais de
4.300 famílias que vivem em
palafitas ganharão casas dignas
de serem chamadas de lar.
Serão gerados 18 mil empregos diretos no pico da obra,
ocupando prioritariamente
mão de obra local. Haverá programa de incentivo à capacitação profissional e ao desenvolvimento de atividades produtivas. A população local foi ouvida. O processo de licenciamento da usina compreendeu diversas consultas às comunidades indígenas da região e quatro audiências públicas.
O projeto atual difere muito
daquele dos anos 1980. Não afeta diretamente terras indígenas
e reduz a área alagada em 60%,
para 516 km2. O índice de 0,04
km2/MW é equivalente a um
décimo do que o das hidrelétricas em operação no país. Mais
do que uma vazão mínima garantida a jusante da barragem
principal, o projeto sustenta
um hidrograma aderente à preservação da biodiversidade na
área. E o Conselho Nacional de
Política Energética decidiu não
mais construir as outras cinco
usinas antes previstas no Xingu, evitando alagar 17 mil km2.
Se, de um lado, essas medidas significam menos energia e
maiores custos, de outro são
fundamentais para compatibilizar interesse nacional e respeito às comunidades locais. É
a forma de garantir luz e afastar a escuridão.
MAURICIO TOLMASQUIM é presidente da EPE
(Empresa de Pesquisa Energética).
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