São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2006

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TURBULÊNCIA

Ao lado da Turquia, país se mostra mais vulnerável por concentrar a maior parte dos investidores, afirmam analistas

Volatilidade deve atingir mais o Brasil

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil e a Turquia devem ser os mais afetados no sobe-e-desce dos mercados emergentes. Ambos mostram-se mais vulneráveis ao crescimento do sentimento de aversão ao risco, justamente por serem os que possuem a maior concentração de investidores.
"A curto prazo, principalmente os mercados de moeda brasileiro e turco devem ser os mais atingidos", disse à Folha Tulio Vera, estrategista de títulos da dívida de países emergentes do Merrill Lynch em Nova York.
A volatilidade crescente do humor do investidores em relação a esses países está relacionada com a possibilidade de aperto da política monetária americana. Novas altas de juros nos EUA tornam investimentos em papéis americanos mais rentáveis e acabam deslocando a atenção de aplicações nos emergentes.
Na análise de Vera, no caso dos mercados de ação, os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) são bastante suscetíveis às variações no ânimo dos investidores nas próximas semanas. México e África do Sul também podem se mostrar vulneráveis.

Saturação
Os mercados emergentes, sobretudo o segmento de dívida soberana, mantêm um ritmo forte de atratividade.
Dados da EmergingPortifolio.com revelam que os investidores em fundos de ações desses países já aplicaram US$ 33 bilhões no acumulado do ano até o último dia 10. A cifra supera o valor total investido no ano passado.
O temor é que o aquecimento seja um indicador de que a euforia com alocações em ativos de países emergentes esteja próxima do fim.
A Pimco, corretora americana especializada em negociações com papéis de dívida soberana, avaliou em relatório recente que o Bric e países com perfil semelhante estão se aproximando de um nível de "saturação" aos olhos dos investidores. Uma velocidade maior ou menor de saída dos emergentes será ditada pelo ritmo que o Fed (banco central dos EUA) vai imprimir a novas altas da taxa de juros.
A posição do banco Merrill Lynch é a de não projetar um ciclo de elevação dos juros americanos. Mesmo assim, Vera argumenta que os emergentes vão, sim, passar por um período de "ajustes" e de "correções" típico de um arrefecimento de um período de expansão que já dura três anos. Aliada a isso está também uma queda da liqüidez mundial.
"Mas é cedo para dizer que é o final do jogo para os emergentes", afirmou Vera.
Segundo o economista Walter Molano, do BCP Securities, o clima ainda está favorável para os emergentes apesar dos recentes tropeços, tais como a alta do risco-país e a desvalorização das moedas desses países ante o dólar.
Com um viés mais otimista, Molano avalia que o quadro atual de volatilidade é de curtíssimo prazo e que deve terminar nas próximas semanas.
Ele avalia que México, Colômbia e Venezuela, em razão de conflitos na política interna desses países, devem sofrer algum revés um pouco mais forte. Segundo Molano, o Brasil e a Argentina serão afetados, mas estão numa posição um pouco mais confortável por causa das fortes vendas externas de commodities.
Para ele, o maior fator de instabilidade entre os investidores é a falta de confiança no novo presidente do Fed, Ben Bernanke. "Ele envia sinais contraditórios para o mercado, mas vai ser forçado a elevar os juros. Bernanke ainda tem pouca credibilidade, é novo no cargo e precisa ser testado."


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