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ANÁLISE
Aperte o cinto para turbulência
DO "FINANCIAL TIMES"
A pertem os cintos: estamos
encontrando turbulência
inesperada. Após longo período
de calma quase sobrenatural, a
instabilidade voltou a atingir ampla gama de categorias de ativos.
Depois de pregões tumultuados
na quinta, na sexta e na última segunda, os mercados se recuperaram anteontem, mas os números
sobre a inflação nos EUA voltaram a provocar quedas nas ações
e bônus, ontem. A única suposição que parece segura é a de que
haverá mais instabilidade.
Não é fácil encontrar um fator
único que explique os recentes
movimentos nos mercados. Em
lugar disso, a instabilidade de
mercado reflete uma conjunção
de certo número de fatores diferentes, entre os quais a intensificação dos temores quanto à inflação, uma alta nos juros reais de
longo prazo em todo o mundo e
preocupações renovadas quanto
ao déficit comercial dos EUA e
quanto ao dólar.
Os mercados estão preocupados com a possibilidade de que o
Federal Reserve (Fed, o BC dos
Estados Unidos) esteja atrasado
na imposição de política monetária mais severa e demonstram
certas dúvidas quanto a Ben Bernanke, o novo presidente do Fed.
Esses temores são exagerados,
mas um alto grau de incerteza
quanto ao futuro da economia
americana significa que o Fed já
não é capaz de oferecer orientação clara quanto às taxas de juros.
Os juros reais também estão em
alta, estimulados pelo vigor da atividade econômica no Japão e, em
menor extensão, na zona do euro.
Como resultado, o rendimento
sobre os títulos de dez anos do Tesouro norte-americano subiu de
4,4% no começo do ano a um pico
de 5,21% na sexta. Isso solapou
um dos mais fortes argumentos
em favor da aquisição de ações: o
de que elas eram baratas se comparadas aos títulos públicos.
Enquanto isso, o dólar parece
uma vez mais ter assumido a tendência de baixa que vem caracterizando o novo século, em razão
das preocupações quanto ao déficit comercial americano. Desde o
início de abril, a moeda caiu quase
4%, em termos ponderados pelo
comércio internacional, e está
agora sendo negociada a patamares vistos pela última vez em 1997.
Os temores de inflação, as taxas
elevadas de juros reais e a preocupação quanto ao dólar vêm sendo
reforçados pela gradual retirada
de liquidez pelos BCs e pelo lento
declínio final do chamado "carry
trade" (tomada de empréstimos
denominados em moedas com
baixas taxas de juros).
Nenhum desses fatores quer dizer necessariamente que a alta no
mercado de ações tenha chegado
ao fim. As ações estão apenas um
pouco abaixo de seus recentes picos. As avaliações continuam moderadas, se comparadas à história
recente, ainda que o mesmo não
possa ser dito sobre os valores ciclicamente ajustados. Mas não se
pode negar que o ambiente mais
amplo é menos favorável para as
ações hoje do que o era um ano
atrás. E, com os ágios por risco
ainda muito baixos em termos
históricos, o perigo de uma correção de mercado muito maior no
caso dos ativos de risco continua a
ser muito sério para o futuro.
Tradução de Paulo Migliacci
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