São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Aperte o cinto para turbulência

DO "FINANCIAL TIMES"

A pertem os cintos: estamos encontrando turbulência inesperada. Após longo período de calma quase sobrenatural, a instabilidade voltou a atingir ampla gama de categorias de ativos.
Depois de pregões tumultuados na quinta, na sexta e na última segunda, os mercados se recuperaram anteontem, mas os números sobre a inflação nos EUA voltaram a provocar quedas nas ações e bônus, ontem. A única suposição que parece segura é a de que haverá mais instabilidade.
Não é fácil encontrar um fator único que explique os recentes movimentos nos mercados. Em lugar disso, a instabilidade de mercado reflete uma conjunção de certo número de fatores diferentes, entre os quais a intensificação dos temores quanto à inflação, uma alta nos juros reais de longo prazo em todo o mundo e preocupações renovadas quanto ao déficit comercial dos EUA e quanto ao dólar.
Os mercados estão preocupados com a possibilidade de que o Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos) esteja atrasado na imposição de política monetária mais severa e demonstram certas dúvidas quanto a Ben Bernanke, o novo presidente do Fed. Esses temores são exagerados, mas um alto grau de incerteza quanto ao futuro da economia americana significa que o Fed já não é capaz de oferecer orientação clara quanto às taxas de juros.
Os juros reais também estão em alta, estimulados pelo vigor da atividade econômica no Japão e, em menor extensão, na zona do euro. Como resultado, o rendimento sobre os títulos de dez anos do Tesouro norte-americano subiu de 4,4% no começo do ano a um pico de 5,21% na sexta. Isso solapou um dos mais fortes argumentos em favor da aquisição de ações: o de que elas eram baratas se comparadas aos títulos públicos.
Enquanto isso, o dólar parece uma vez mais ter assumido a tendência de baixa que vem caracterizando o novo século, em razão das preocupações quanto ao déficit comercial americano. Desde o início de abril, a moeda caiu quase 4%, em termos ponderados pelo comércio internacional, e está agora sendo negociada a patamares vistos pela última vez em 1997.
Os temores de inflação, as taxas elevadas de juros reais e a preocupação quanto ao dólar vêm sendo reforçados pela gradual retirada de liquidez pelos BCs e pelo lento declínio final do chamado "carry trade" (tomada de empréstimos denominados em moedas com baixas taxas de juros).
Nenhum desses fatores quer dizer necessariamente que a alta no mercado de ações tenha chegado ao fim. As ações estão apenas um pouco abaixo de seus recentes picos. As avaliações continuam moderadas, se comparadas à história recente, ainda que o mesmo não possa ser dito sobre os valores ciclicamente ajustados. Mas não se pode negar que o ambiente mais amplo é menos favorável para as ações hoje do que o era um ano atrás. E, com os ágios por risco ainda muito baixos em termos históricos, o perigo de uma correção de mercado muito maior no caso dos ativos de risco continua a ser muito sério para o futuro.


Tradução de Paulo Migliacci

Texto Anterior: Inflação nos EUA supera a brasileira
Próximo Texto: Luís Nassif: A aposta em Chávez
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.