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ONU E DESENVOLVIMENTO
Fim de subsídios terá impacto menor no Brasil do que em outras nações pobres, afirma livro lançado pelo Instituto de Economia Internacional
Estudo questiona ganho de abertura agrícola
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Uma eventual vitória dos países
em desenvolvimento na guerra
contra os subsídios agrícolas dos
EUA e da Europa pode ter um impacto nulo na redução do número
de pobres vivendo com menos de
US$ 2 ao dia no Brasil.
Um livro lançado ontem pelo
conceituado IIE (Instituto de Economia Internacional, na sigla em
inglês) sustenta que mesmo os ganhos obtidos com uma maior liberalização do comércio mundial
serão menores no Brasil do que
em outros países.
Comércio, desenvolvimento e
subsídios estão entre os principais
temas em discussão na 11ª Unctad
(Conferência das Nações Unidas
sobre Comércio e Desenvolvimento), que termina hoje, em São
Paulo.
A divisão populacional no Brasil, onde 39% dos pobres vivem
em zonas rurais, e a péssima distribuição de renda impedirão que
os miseráveis brasileiros sejam
beneficiados na mesma proporção de outras nações, como Índia,
China e Paquistão.
O Brasil é um dos líderes de um
grupo de duas dezenas de países
que lutam pelo fim dos subsídios
agrícolas nos países desenvolvidos. O argumento é que o fim da
ajuda governamental a produtores americanos e europeus tornará os produtos de países menos
desenvolvidos mais competitivos.
Para o economista William Cline, autor de "Política de Comércio e Pobreza Global", lançado
ontem em Washington com a
participação da vice-diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário
Internacional), Anne Krueger, a
disputa brasileira pode levar a um
resultado pífio para o país.
Ex-economista-chefe do IIE,
Cline foi também ex-secretário-assistente do Tesouro no governo
do presidente Richard Nixon.
Cline estima que a eliminação
total dos subsídios nos EUA e Europa causariam uma elevação de
cerca de 10%, em média, nos preços dos principais produtos agrícolas no mundo. Anne Krueger
disse concordar com a estimativa
do "sério impacto" do fim dos
subsídios sobre os preços.
As populações rurais dos países
em desenvolvimento seriam altamente beneficiadas, já que ganhariam mais com a produção e a exportação de seus produtos.
Em 72 países analisados, 74,7%
da população pobre vive em áreas
rurais. A importante exceção é a
América Latina. No Brasil, apenas
39% vivem no campo. Na Argentina, 14%; no Chile, 18%.
Efeito inverso
No final, a eliminação dos subsídios, segundo Cline, traria um
efeito inverso para os latino-americanos: os pobres das cidades,
onde estão mais concentrados,
acabariam ficando mais pobres
ao terem de pagar mais caro pela
alimentação -que tem um peso
específico muito mais alto no orçamento de famílias miseráveis.
No Brasil, os ganhos obtidos pelo pobres no segmento rural seriam totalmente eliminados pelo
empobrecimento maior dos miseráveis nas cidades. Em países
como Índia e China, onde a esmagadora maioria dos pobres vive
no campo, a redução do número
de miseráveis com a eliminação
dos subsídios e liberalização do
comércio seria enorme: de 74,6%
e 47,1%, respectivamente, ao longo dos próximos 15 anos.
"De fato, o Brasil não terá os ganhos esperados na redução da pobreza. Mas poderá ser beneficiado
por um crescimento maior gerado pelo setor exportador", disse
Cline à Folha.
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