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São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2003

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CONTAS EXTERNAS

Remessa de dólares de brasileiros que vivem no exterior supera exportações de vários produtos em 2002

Emigrantes mandam US$ 2,6 bi ao Brasil

ANDRÉ SOLIANI
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

O Brasil recebe mais dólares dos brasileiros que vivem no exterior do que das vendas externas individuais da grande maioria de seus produtos, inclusive aviões e carros. Em 2002, os emigrantes mandaram para o país US$ 2,6 bilhões.
As exportações de apenas dois produtos -minério de ferro (US$ 3,049 bilhões) e soja (US$ 3,031 bilhões)- superaram o valor das remessas de dólares das pessoas que vivem fora. As vendas de aviões, o terceiro item da pauta de exportação, renderam menos -US$ 2,335 bilhões.
A contribuição dos emigrantes passou a ter peso nas contas externas brasileiras a partir de 1990, quando foram enviados para o país US$ 874,9 milhões. A média das remessas na década de 80 era de US$ 199,7 milhões por ano, menos do que a média mensal de 2002 (US$ 218,9 milhões).
A década passada foi marcada pelo número crescente de brasileiros que deixaram o país em busca de uma melhor oportunidade de vida. O fenômeno, segundo a pesquisadora do Nepo (Núcleo de Estudos de População da Unicamp) Teresa Sales, começou nos anos 80.
Em Governador Valadares (MG), cidade pioneira na exportação de brasileiros, o pico da emigração foi nos últimos três anos da década de 80. "Foi o triênio da desilusão", diz a pesquisadora, autora do livro "Brasileiros Longe de Casa".
Segundo ela, depois de sucessivos planos econômicos fracassados, de uma década de baixo crescimento e da espiral inflacionária, muitos brasileiros passaram a buscar alternativas fora do país.
Nos anos 90, a frustração com o governo de Fernando Collor (1990-1992), no qual houve confisco de poupanças, e a contínua falta de crescimento fizeram com que as emigrações crescessem.
Não existe uma pesquisa com um número confiável de quantos brasileiros vivem no exterior, segundo o cônsul do Brasil em Miami, Lúcio Amorim. O Itamaraty estima em 1,96 milhão de pessoas.
"O perfil econômico da maioria dos que deixaram o país é de classe média e classe média baixa", afirma a pesquisadora do Nepo.
Amorim, cônsul de uma das regiões que mais recebem brasileiros, confirma a declaração de Sales com base na sua vivência diária em Miami. "O brasileiro está aqui para juntar dinheiro. É uma comunidade que trabalha duro em serviços pesados", diz.
Os EUA são o destino preferido dos brasileiros. O segundo lugar é disputado entre o Japão e o Paraguai. Os "brasiguaios", no entanto, não estão entre os que mais mandam dinheiro para o Brasil. O grosso dos dólares vem dos Estados Unidos e do Japão.
Além de ajudar os parentes que ficaram no Brasil, como filhos, mulher ou marido, os emigrantes investem no país. "Muitos compram sua casa própria enquanto estão trabalhando no exterior", diz Sales. "Há um bairro em Governador Valadares no qual quase todas as casas foram construídas com dinheiro de remessas."
O aumento de brasileiros vivendo fora do país obrigou o Itamaraty a rever sua política consular. O Ministério das Relações Exteriores começou a mudar o perfil dos consulados ainda na década de 70. Segundo Amorim, no passado, os consulados se concentravam em áreas portuárias, pois eram responsáveis em controlar o comércio exterior.
Com o fim de suas atribuições na área de comércio exterior, os consulados das áreas portuárias fecharam. Novos foram abertos nas regiões de emigração de brasileiros. "Ainda há uma carência de consulados para atender a demanda", diz Amorim.
Na opinião de diplomatas, a remessa de dólares dos brasileiros justificaria mais gastos com os consulados.


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