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São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2003

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FOLHAINVEST

MERCADO FINANCEIRO

Focado na meta de inflação, BC deve reduzir a Selic em só 1,5 ponto percentual, dizem especialistas

Para analistas, juros terão corte conservador

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais conservadorismo. Analistas dizem que o corte dos juros poderia ser mais agressivo, mas que o Copom (Comitê de Política Monetária) deve reduzir a taxa básica, a Selic, em 1,5 ponto percentual na reunião que acaba na quarta-feira.
Analistas avaliam que o Banco Central está mais focado nas metas de inflação do que na evidente debilidade da atividade econômica. E continuaria preocupado em mostrar credibilidade.
O consenso numa queda de 1,5 ponto percentual refere-se ao que o mercado acredita que o BC fará, dado o conservadorismo com que tem conduzido a política monetária. Não reflete, dizem eles, a taxa compatível com a inflação e a atividade econômica do país.
O espaço para redução dos juros sem acarretar alta contínua dos preços, segundo economistas, seria de, pelo menos, dois pontos percentuais -essa opinião é dividida até por analistas considerados conservadores.
"A maioria acha que será 1,5 ponto percentual não porque projeções indiquem que a redução não possa ser maior, mas porque essa é a leitura do conservadorismo com que o BC tem se comportado. Mas poderia cair até três pontos percentuais, o que seria uma conta técnica", diz Guilherme da Nóbrega, do Banco Fibra. "Não estão definindo a taxa consistente com a economia, mas a que seria boa para mostrar credibilidade", afirma Nóbrega.
"Não há necessidade disso. O BC já a tem e pagou caro para conquistá-la", diz Walter Mendes, do Itaú. "O Copom poderia agora ser menos conservador e olhar mais para a atividade econômica, que está muito fraca."
Para analistas, o BC continuaria fiel ao papel clássico de autoridade monetária, mais voltado para o controle da inflação do que para a atividade econômica. "Por mais independente que seja um banco central, ele deve olhar para o resto", diz Mendes.
Embora considerem natural o receio de volta da inflação, economistas qualificam de excessivo o conservadorismo da autoridade monetária. O BC estaria de novo olhando para trás, para a inflação passada, e não para a futura.
A expectativa de inflação para o ano caiu a 9,9%, abaixo da taxa de 10,8% buscada pelo Banco Central, de acordo com o Relatório de Inflação de março.
"Eles praticamente tinham abandonado a meta e, agora, ela pode estar entrando de novo em seu alvo", diz Nóbrega. "Estão dando mais peso à inflação do que à necessidade de crescimento, quando a inflação está basicamente resolvida e o país pode crescer um pouco."

Referência
A Selic é uma referência dada pelo Banco Central. Ninguém toma dinheiro emprestado a taxas de juros iguais a Selic. Ela é uma balizadora das taxas mais longas.
Os juros de longo prazo (360 dias, "swap" pré-DI anualizada), os mais importantes para a economia, voltaram a cair na semana passada. Mas a taxa de juros reais (taxas de um ano, "swap" de 360 dias, em relação à inflação) subiu pela primeira vez neste ano após a última reunião do Copom.
"Para empurrar para baixo essa taxa de um ano, seria preciso um corte superior a 1,5 ponto percentual. Nesse patamar, a queda poderia ser irrelevante para a atividade econômica", diz Alexandre Póvoa, do Banco Modal.
"Quanto maior a agressividade, com consistência, do BC, mais a curva de juros de um ano tenderá para baixo." Segundo o economista, os juros reais estão em quase 14% ao ano.



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