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Governo estuda aperto se crise aumentar
Medidas como conter gasto público e avançar a reforma da Previdência seriam adotadas para acalmar os mercados
Guido Mantega irá apresentar avaliação da conjuntura em reunião na segunda da coordenação política, no Planalto
VALDO CRUZ
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A equipe do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva estuda reforçar a política econômica,
com um aperto adicional nas
áreas fiscal e monetária, caso a
crise no mercado financeiro se
prolongue e acabe afetando a
economia como um todo.
Internamente, ainda não há
um diagnóstico fechado sobre a
gravidade da situação e os possíveis impactos na economia
brasileira, mas as declarações
públicas iniciais de que o país
estaria protegido das turbulências -e poderia até se beneficiar da alta do dólar- já deram
lugar a afirmações menos otimistas e mais cautelosas.
Na próxima segunda-feira, a
tradicional reunião da coordenação política no Palácio do
Planalto será dedicada a uma
apresentação do ministro Guido Mantega (Fazenda) sobre a
conjuntura econômica, que
passou a inspirar mais pessimismo desde a última terça-feira, quando houve a última
discussão sobre o tema entre
Lula e principais auxiliares.
Segundo a Folha apurou,
avalia-se na área econômica
que, se necessário, o governo
tem boas condições para lançar
medidas para controlar o nervosismo dos investidores. Mas
deve aguardar ainda a evolução
dos indicadores nos próximos
dias, para evitar que uma medida precipitada dê à crise uma
dimensão ainda maior.
Os instrumentos à disposição são velhos conhecidos da
era das crises financeiras que
assolaram o país nos anos 1990
e no início desta década, mas
seus efeitos, na visão da equipe
econômica, tendem a ser menos dolorosos graças aos ganhos dos últimos anos de expansão da economia global.
Mesmo antes do agravamento da atual crise, o BC já dava
sinais de que o cenário externo
poderia levar a uma redução no
ritmo de redução de sua taxa de
juros -no mês passado, três diretores usaram esse argumento para defender uma redução
de 0,25 ponto percentual da
Selic, em vez do 0,5 ponto
aprovado por quatro votos.
Só virão medidas mais drásticas se a alta do dólar ameaçar
o controle da inflação -o dólar
baixo barateia os importados e
reduz os preços. Mas, ainda
que seja preciso endurecer
mais a política monetária, a taxa de juros atual, de 11,5% ao
ano, está muito longe dos patamares de crises anteriores. Ao
menos neste ano, o crescimento não está ameaçado, considera a área econômica.
Uma necessidade de aperto
nos juros pode ser evitada ou
atenuada com aumento do superávit primário, a parte da receita destinada ao abatimento
da dívida pública. Até agora,
não se fala em números, mas
avalia-se que o anúncio de meta maior acalmaria o mercado.
Pela lógica já seguida em ocasiões semelhantes, o aumento
do aperto fiscal tem o objetivo
de garantir que a dívida pública
não sairá do controle em caso
de alta do dólar e/ou dos juros.
O primeiro risco praticamente
inexiste hoje porque, nos últimos anos, foi reduzida a zero a
parcela da dívida vinculada à
variação cambial, de 39% no
início do governo Lula -e o BC
conta com reservas recordes de
US$ 160 bilhões, que não encorajariam apostas contra o real.
Há ainda à disposição do governo um conjunto de projetos
com apelo no mercado que
atualmente estão parados, mas
podem ganhar força se a crise
se prolongar. Classificado por
auxiliares de Lula de "estoque
de medidas conservadoras", lá
estão a reforma da Previdência,
rejeitada na campanha eleitoral e empurrada para um fórum "com a sociedade". O item
seguinte é o projeto que limita
a 1,5% por ano a expansão dos
gastos com pessoal acima da
inflação. Incluída no PAC, ela
enfrenta resistência da base
sindicalista do governo e não
prosperou no Congresso.
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