São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2008

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A semana em que o risco virou realidade

Nos últimos dias, cenário de desaceleração da economia global se confirmou, do Reino Unido e da Alemanha ao Japão

Ausência de uma política econômica e de taxas de câmbio coordenada entre os diversos bancos centrais está tendo custos reais


DO "FINANCIAL TIMES"

Os desequilíbrios econômicos globais continuam. Essa situação precisa mudar. A perspectiva vem sendo de problemas desde que o arrocho do crédito começou, no verão norte-americano passado, mas foi na semana que passou que as coisas realmente se agravaram do Reino Unido ao Japão, passando por quase todo o mundo. Durante décadas, um desaquecimento que acontecesse em nível mundial só podia ter uma causa, uma recessão nos EUA. Hoje isso já não é verdade. Parafraseando Tolstói, cada economia infeliz é infeliz à sua própria maneira. A economia japonesa começou a se contrair, e a queda nas exportações não é a única culpada por isso: a demanda doméstica está enfraquecida, e a confiança dos consumidores nunca esteve menor. Os problemas econômicos da Espanha levaram o primeiro-ministro, José Luis Rodriguez Zapatero, a interromper suas férias de verão. O problema principal no país foi um boom da construção de imóveis residenciais, um excedente insustentável de novos imóveis e o subseqüente colapso do setor da construção civil, que garantia um em cada oito empregos no país. O boom imobiliário no Reino Unido terminou por uma razão diferente: os bancos não querem mais jogar o jogo. Enquanto isso, o ressurgimento do setor de exportação da Alemanha parece ter sido sufocado pelo euro forte e, possivelmente, pelo primeiro trimestre inesperadamente bom: a economia encolheu 0,5% no segundo trimestre. Apesar dessa grande gama de situações de apuro diferentes, existe um fio condutor comum a todas elas: a alta vertiginosa dos preços das commodities, somada à volta da inflação, está prejudicando os consumidores e deixando os bancos centrais de mãos amarradas. Isso sugere que pode haver um sol escondido atrás das nuvens de tempestade. Os preços das commodities começaram a cair, embora elas ainda estejam longe de estarem baratas. Essa queda é conseqüência do enfraquecimento da demanda, é claro, mas é também um antídoto. Contudo, é cedo para afirmar que a retração não passa de um pequeno acidente de percurso provocado pelo petróleo. Os preços do petróleo ainda podem subir muito. De qualquer maneira, teriam que cair muito mais para voltar aos níveis aos quais o mundo se acostumou. Enquanto isso, os desequilíbrios globais não desapareceram, e a ausência de uma política econômica e de taxas de câmbio coordenada está tendo custos reais. O refrão hoje repetido pelos bancos centrais é que cada um deles está lutando para enfrentar a inflação importada. Pode ser essa a impressão que se tem, mas o mundo como um todo não pode importar inflação. Globalmente, a política monetária vem se mostrando frouxa demais para refrear a alta dos preços. Uma culpada evidente tem sido a combinação de juros baixos nos EUA com o fato de vários países em desenvolvimento, especialmente a China, atrelarem suas moedas ao dólar. Como a China não vai se sujeitar ao choque de uma mudança repentina para taxa de câmbio flutuante, os ministros financeiros mundiais precisam discutir -seriamente, desta vez- de que outra maneira será possível combater os desequilíbrios globais. A recente valorização do dólar -e, portanto, do yuan- oferece aos chineses uma oportunidade de consolidar parte da valorização em relação ao euro e à libra. Eles precisam aproveitar essa chance.


Tradução de CLARA ALLAIN


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