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entrevista
Caixa deveria abrir capital, diz economista
DA REPORTAGEM LOCAL
Especialista em bancos
públicos, o economista Armando Castelar Pinheiro,
professor da UFRJ, não vê
juros "insustentáveis" nos
bancos públicos, mas reconhece que eles podem ter assumido um risco elevado.
"O prejuízo de um banco
público é ganho para alguém,
que foi beneficiado com juros menores.
No caso dos
bancos públicos, quem está
pagando a conta é o contribuinte", pondera. Para evitar
abusos, defende que a Caixa
abra seu capital na Bolsa.
FOLHA - Os bancos públicos tiveram um papel durante a crise?
ARMANDO CASTELAR - Tiveram,
sim, mas esse papel também
poderia ter sido exercido pelos bancos privados, se tivesse reduzido mais o compulsório, por exemplo. Você
também teria conseguido isso via instrumentos de regulação. Não era a única maneira de atingir esse objetivo.
FOLHA - Os bancos públicos estão com taxas insustentáveis?
CASTELAR - Nada indica isso
até o momento, mas eles
avançaram em um mercado
visto como de maior risco pelos bancos privados.
FOLHA - Qual o maior risco?
CASTELAR - É a inadimplência. Foi por essa razão que os
bancos privados mantiveram a carteira constante.
Não é que eles não gostem de
ganhar dinheiro [com crédito] ou que não tenham dinheiro para emprestar. Eles
tinham a visão de que o risco
era alto. Se a Caixa e o BB
cresceram nesse vácuo, eles
entraram num mercado de
risco maior. Se esse risco vai
se comprovar [em perdas], a
gente ainda vai ver. Tudo indica que até agora está bem.
FOLHA - O contribuinte pode
perder com isso?
CASTELAR - O prejuízo de um
banco público é ganho para
alguém, que foi beneficiado
com juros menores. Se uma
empresa tem um custo mais
alto, é sinal que um fornecedor saiu ganhando. No caso
dos bancos públicos, quem
está pagando a conta é o contribuinte, que deixou de ganhar mais. O governo está
dando dinheiro para alguém,
e a sociedade não está sabendo para quem é. Parece-me
uma forma não democrática
para transferir dinheiro.
FOLHA - O que poderia ser feito?
CASTELAR - O governo deveria considerar abrir o capital
da Caixa. Tem a vigilância
dos investidores, dos analistas de mercado, e a transparência para a sociedade é
muito maior. A sociedade sabe muito mais do banco público quando ele é aberto do
que quando é 100% do governo. A empresa ganha muito
em fiscalização e fica blindada de ingerência política.
Como acontece de forma
não transparente, é um prato
cheio para a corrupção. O
correto é o banco dar lucro, e
o governo entrar com recursos do Orçamento para fazer
projetos sociais.
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