São Paulo, terça-feira, 18 de agosto de 2009

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entrevista

Caixa deveria abrir capital, diz economista

DA REPORTAGEM LOCAL

Especialista em bancos públicos, o economista Armando Castelar Pinheiro, professor da UFRJ, não vê juros "insustentáveis" nos bancos públicos, mas reconhece que eles podem ter assumido um risco elevado. "O prejuízo de um banco público é ganho para alguém, que foi beneficiado com juros menores.
No caso dos bancos públicos, quem está pagando a conta é o contribuinte", pondera. Para evitar abusos, defende que a Caixa abra seu capital na Bolsa.

 

FOLHA - Os bancos públicos tiveram um papel durante a crise?
ARMANDO CASTELAR
- Tiveram, sim, mas esse papel também poderia ter sido exercido pelos bancos privados, se tivesse reduzido mais o compulsório, por exemplo. Você também teria conseguido isso via instrumentos de regulação. Não era a única maneira de atingir esse objetivo.

FOLHA - Os bancos públicos estão com taxas insustentáveis?
CASTELAR
- Nada indica isso até o momento, mas eles avançaram em um mercado visto como de maior risco pelos bancos privados.

FOLHA - Qual o maior risco?
CASTELAR
- É a inadimplência. Foi por essa razão que os bancos privados mantiveram a carteira constante. Não é que eles não gostem de ganhar dinheiro [com crédito] ou que não tenham dinheiro para emprestar. Eles tinham a visão de que o risco era alto. Se a Caixa e o BB cresceram nesse vácuo, eles entraram num mercado de risco maior. Se esse risco vai se comprovar [em perdas], a gente ainda vai ver. Tudo indica que até agora está bem.

FOLHA - O contribuinte pode perder com isso?
CASTELAR
- O prejuízo de um banco público é ganho para alguém, que foi beneficiado com juros menores. Se uma empresa tem um custo mais alto, é sinal que um fornecedor saiu ganhando. No caso dos bancos públicos, quem está pagando a conta é o contribuinte, que deixou de ganhar mais. O governo está dando dinheiro para alguém, e a sociedade não está sabendo para quem é. Parece-me uma forma não democrática para transferir dinheiro.

FOLHA - O que poderia ser feito?
CASTELAR
- O governo deveria considerar abrir o capital da Caixa. Tem a vigilância dos investidores, dos analistas de mercado, e a transparência para a sociedade é muito maior. A sociedade sabe muito mais do banco público quando ele é aberto do que quando é 100% do governo. A empresa ganha muito em fiscalização e fica blindada de ingerência política.
Como acontece de forma não transparente, é um prato cheio para a corrupção. O correto é o banco dar lucro, e o governo entrar com recursos do Orçamento para fazer projetos sociais.


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