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BENJAMIN STEINBRUCH
Beleléu
Medidas no câmbio são
urgentíssimas, a menos que se
pretenda deixar a indústria
exportadora ir para o beleléu
NO AUGE da atual crise global,
no início de dezembro, uma
moedinha de R$ 1 era suficiente para comprar apenas US$
0,39. Agora, a mesma moedinha já
compra US$ 0,53.
Isso mostra que no pós-crise permanece a tendência de valorização
do real que já predominava antes de
setembro do ano passado. Quando
veio a crise, houve uma rápida elevação do dólar, que chegou a R$ 2,55
no início de dezembro. Mas, de lá
para cá, a tendência se inverteu e a
moeda brasileira já teve uma apreciação de 38% em relação ao dólar.
Volto a esse tema do câmbio porque moeda forte, ao contrário do
que pode sugerir o senso comum,
tem um potencial destrutivo muito
grande para qualquer economia. O
real forte tende a corroer a competitividade de produtos brasileiros de
exportação e a incentivar importações. Isso já é danoso quando a economia mundial está em crescimento. Na atual fase recessiva, o efeito
cambial aumenta ainda mais as perdas decorrentes da contenção global
do consumo.
Espalha-se a ideia de que quase
nada pode ser feito para segurar a
apreciação do real ou para atenuar
seus efeitos. Essa tendência seria
inexorável, argumenta-se, dadas a
desvalorização do dólar no mercado
internacional e a atratividade do
mercado brasileiro a capitais externos.
Não há como defender uma política chinesa de controle de câmbio -o
valor do dólar permaneceu estável
na China durante toda a crise global
até agora, em torno de 6,8 yuans. Isso não faria sentido para uma economia aberta como a brasileira. Mas
há, sem dúvida, uma série de medidas que o Brasil pode tomar. A primeira é a continuidade da redução
da taxa interna de juros. A Selic de
8,75% ainda proporciona uma diferença enorme entre as taxas internas e externas de juros. E isso atrai
capital especulativo.
O juro real brasileiro ainda é um
dos mais elevados do mundo e o país
não pode perder uma oportunidade
histórica de colocar pela primeira
vez em décadas sua taxa em linha
com as demais grandes economias.
Novas reduções na Selic, portanto,
atenuariam a apreciação do real.
Pode-se, também, examinar a
adoção de algum tipo de controle de
capital especulativo, como a exigência de um período mínimo de permanência para investimentos em
Bolsa ou de renda fixa -o saldo líquido dos investimentos estrangeiros na Bovespa já passa de US$ 13 bilhões neste ano.
Nada impede, ainda, que se faça
uma desoneração emergencial da
cadeia exportadora. A eliminação de
impostos diretos e indiretos e a redução de encargos sociais sobre folhas salariais são medidas que não
precisam esperar pela encalhada reforma tributária. Certamente seriam bem acolhidas pelo Congresso
iniciativas nesse sentido, para que as
exportações de manufaturados não
continuassem a cair. Só a indústria
automobilística, por exemplo, perdeu cerca de US$ 4 bilhões em exportações em relação ao ano passado, em parte por causa da queda de
demanda global, mas também em
razão da menor competitividade de
seus preços.
Câmbio é coisa séria porque a
apreciação da moeda tem como sequela a inevitável perda de mercados e o aumento de importações de
máquinas e produtos de consumo.
Tudo isso transfere empregos para o
exterior. Medidas nessa área são urgentíssimas. Não podem ficar para
mais tarde, a menos que se pretenda
deixar a indústria exportadora ir para o beleléu.
BENJAMIN STEINBRUCH, 55, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do
conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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