|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RECEITA ORTODOXA
Presidente Lula debate com Palocci aperto mais acentuado como alternativa a uma alta brusca dos juros
Meta fiscal de 2005 pode subir para 4,5%
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva discute com o ministro da
Fazenda, Antonio Palocci Filho, a
elevação da meta de superávit primário para 4,5% do PIB (Produto
Interno Bruto). Hoje, ela está em
4,25%.
Segundo a Folha antecipou anteontem, Palocci avalia que um
esforço fiscal maior é a saída para
impedir que a taxa básica de juros
(Selic) suba consideravelmente e
prejudique a retomada do crescimento. Por isso, ele já trabalha para que o superávit primário (receitas menos despesas, exceto o
pagamento de juros) deste ano seja, na prática, superior a 4,25%.
Representantes do Banco Central, do Ministério da Fazenda e
do Tesouro admitiram ontem que
a elevação do esforço fiscal é uma
hipótese a ser considerada. Essa
discussão já vitaminou o mercado
financeiro ontem. O dólar e o risco-país, em queda, voltaram aos
níveis de janeiro.
Lula está sendo convencido por
Palocci da necessidade de um esforço fiscal mais acentuado neste
e no próximo ano para atenuar a
necessidade de elevar a taxa básica de juros, movimento que começou na quarta-feira, com a alta
da Selic em 0,25 ponto percentual.
A taxa passou de 16% para
16,25% ao ano, e o BC avisou que
vai elevá-la ainda mais. O governo
já contabiliza nova alta de 0,25
ponto percentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).
Nesse contexto, há um debate
sobre oficializar já no próximo
ano um superávit primário superior a 4,25% do PIB ou simplesmente fazer economia maior sem
admitir de público. O superávit
primário, toda a economia do setor público para o pagamento de
juros da dívida, é a principal meta
do atual acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), que
se encerra em dezembro.
A eventual elevação do superávit em 0,25 ponto percentual do
PIB, algo da ordem de US$ 4 bilhões por ano, teria efeito positivo
nas constantes articulações de Lula e de Palocci para tentar frear
uma alta brusca dos juros, crê o
governo.
No entanto, a elevação do superávit em 0,25 ponto percentual é
complicada de ser absorvida politicamente pelo PT e pelos setores
do governo que entoam discurso
público contrário aos juros altos.
Por isso, não há ainda uma decisão do presidente.
No ano passado, o superávit fiscal ficou em 4,37% do PIB -R$
66,173 bilhões -,acima da meta
de R$ 65 bilhões. Entre janeiro e
julho deste ano, o superávit foi de
R$ 52,796 bilhões, 5,59% do PIB.
Nos 12 meses encerrados em julho, fechou em R$ 74,641 bilhões
(4,65% do PIB).
Como os gastos reais do Orçamento público se concretizam
mais no segundo semestre, a cifra
de 5,59% deverá cair. No entanto,
ao final do ano, a tendência é que
seja superior à meta.
Nas conversas reservadas, Palocci admite que o superávit primário deste ano pode ficar em
torno de 5% do PIB -a tendência
é que seja um pouco menos.
Com a meta de 4,5% do PIB, haveria na prática uma economia
um pouco maior que a meta. Dificilmente há uma execução real de
100% do Orçamento público.
A decisão do Banco Central de
elevar a taxa de juros para conter
pressões inflacionárias e tentar
cumprir a meta de inflação estabelecida pelo próprio governo para o ano que vem -cujo centro é
4,5%- foi muito contestada pelo
setor produtivo brasileiro. Antes
de tomada, a decisão já fora criticada, entre outros, pelo ministro
José Dirceu (Casa Civil).
Argumentos
Com um dinheiro extra em caixa, o ministro teria mais argumentos para convencer o Copom
a não elevar os juros de modo significativo. A redução de gastos
públicos, assim como a alta de juros, contribui para frear a atividade econômica e, conseqüentemente, a inflação.
Com a elevação da Selic nesta
semana em 0,25 ponto percentual, a taxa real de juros está em
9,5% ao ano, descontando-se da
Selic a previsão oficial de inflação
para os próximos 12 meses (6,2%
segundo o IPCA, Índice de Preços
ao Consumidor Amplo). Nos cálculos da equipe econômica, essa
taxa real, embora alta, está entre
as menores dos últimos anos.
Texto Anterior: Aviação: Varig aumenta oferta para América do Sul Próximo Texto: Dólar e risco voltam ao nível de janeiro Índice
|