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Dólar vai a R$ 1,86 e tem maior valor em 1 ano
Com turbulência externa, moeda americana sobe 2,41% e vai a R$ 1,86; analistas vêem possibilidade de cotação ir a R$ 2
Estrangeiros vendem papéis brasileiros em busca de maior segurança; alta do dólar no mês vai a 14,25% e, no ano, acumula 5,12%
DA REPORTAGEM LOCAL
O dólar atingiu sua mais elevada cotação em um ano, ao se
apreciar em 2,41% diante do
real ontem e encerrar vendido
a R$ 1,868. No mercado, o entendimento é que a moeda
americana ainda não atingiu
seu teto e que rumar para R$ 2
nas próximas semanas não é algo impossível de acontecer.
Na abertura das operações de
ontem, a moeda americana
chegou a alcançar R$ 1,89, mas
não se sustentou por muito
tempo nesse patamar.
A disparada recente do dólar
o levou a acumular valorização
de 14,25% apenas neste mês.
Neste ano, a moeda americana
passou a registrar alta de 5,12%.
A pressão cambial fez com
que o Banco Central deixasse
de realizar na semana passada
leilões para comprar moeda,
como vinha fazendo desde o
ano passado. Ao menos por enquanto, os analistas não contam com intervenções do BC
para tentar segurar a escalada
das cotações.
"Não dá para falar em teto
para o dólar neste momento.
Há desmonte de posições contra o real, e não é impossível
que a moeda venha a bater em
R$ 2", afirma Jason Freitas
Vieira, economista-chefe da
UpTrend Consultoria Econômica. "Atravessamos um momento grave da crise, e não há
muito o que fazer", afirma.
O fortalecimento que o real
vivia nos últimos tempos -a
moeda chegou a ficar abaixo de
R$ 1,60 neste ano- refletia em
parte operações feitas por investidores internacionais. Esses investidores captavam recursos em mercados que praticavam baixas taxas de juros, como o Japão, para reaplicá-los
em títulos brasileiros. Como
aqui se praticam as mais elevadas taxas reais de juros (descontada a inflação) do planeta,
o país se tornou um pólo de
atração para o capital externo
especulativo, o chamado "carry
trade".
Mas, com o agravamento da
crise internacional, os investidores têm desfeito essas operações, o que tem depreciado o
real. Dessa forma, se a crise
continuar se agravando, o real
pode seguir perdendo valor.
"O cenário internacional tem
afetado o câmbio de forma mais
intensa nesses dias, com a necessidade de repatriação de recursos", afirma Alexandre Ferreira, vice-presidente de tesouraria do banco WestLB.
"Neste momento de pânico é
difícil falar em teto para o dólar.
Mas entendo que a moeda está
já em uma cotação elevada, podendo atrair, nesse nível, compradores de real. Vejo o real
mais forte nas próximas semanas", afirma Ferreira.
"Já vimos no passado que podemos ter movimentos extremos no câmbio. Porém, dólar a
R$ 2 é exagero", diz ele.
Em 2002, no auge das turbulências que marcaram o período eleitoral do processo que levou Lula à presidência, o dólar
foi fortemente pressionado e
encostou em R$ 4.
Como os juros no Brasil seguem em processo de elevação,
é possível que, se a crise amenizar, os investidores internacionais voltem a apostar a favor do
real, dizem analistas.
(FABRICIO VIEIRA)
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