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São Paulo, sábado, 18 de outubro de 2003

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LUÍS NASSIF

O capital humano

Na coluna de ontem apresentei alguns dados do trabalho do economista Paulo Tenani sobre capital humano. Tenani é Ph.D. pelo Departamento de Economia da Universidade Columbia, em Nova York, e autor do livro "Human Capital and Growth".
Vamos a outros pontos relevantes de seu trabalho.
Tenani constata que o Brasil tentou crescer entre 1955 e 1981 acumulando capital físico, na fase de industrialização, via substituição de importações. As diferentes políticas implementadas pelo governo sempre procuraram estimular a poupança e o investimento doméstico -à custa de uma menor taxa de consumo presente.
No entanto, constata ele, esse tipo de crescimento -baseado no acúmulo de um único insumo de produção- enfrenta uma difícil restrição econômica: ele é sujeito a retornos decrescentes de escala e, por isso, eventualmente, tende a se extinguir. "À medida que o processo de industrialização via substituição de importações ia avançando no Brasil -e o capital físico sendo acumulado-, a produtividade marginal desse fator de produção diminuía, exaurindo, com isso, o crescimento econômico."
Em 1981, depois de 20 anos de crescimento ininterrupto, a economia brasileira decresceu 4,5%, iniciando um período de mais de duas décadas de estagnação econômica.
Continua Tenani: foi também acumulando capital físico que o Brasil tentou retomar o crescimento a partir de 1994. Nessa etapa, poupança e investimento externo cumpririam o papel antes atribuído à poupança e ao investimento doméstico.
Além do mais, pelo prometido, o conjunto de reformas que seriam implementadas no período -fiscal, tarifária, sistema financeiro e Previdência- também era direcionada ao capital físico; em particular à sua alocação mais eficiente e à sua produtividade.
"Porém, assim como ocorreu com a industrialização via substituição de importações, à medida que o capital físico estrangeiro fosse sendo acumulado -por meio de privatizações e investimentos diretos-, sua produtividade marginal também declinaria, gerando um tipo de crescimento que novamente viria a se exaurir."
O argumento de Tenani é que a única maneira de um país crescer de forma sustentada é acumulando, conjuntamente, ambos os insumos de produção: capital físico -por meio da poupança e investimento- e capital humano -por meio da educação.
A dinâmica que surge da interação entre "poupança" e "educação" nesse tipo de crescimento é, por si só, interessante -pois a produtividade marginal do capital humano acaba por também afetar a do capital físico e vice-versa.
Essa conclusão tem consequências importantes, especialmente em relação aos indicadores tradicionalmente utilizados para medir o potencial de crescimento de um país: "poupança sobre o PIB" e "investimento sobre o PIB".
Se capital humano é chave para o crescimento econômico, esses indicadores -que apontam unicamente para a contribuição do capital físico- são apenas uma parte da história. Pequenas variações nas taxas de crescimento -quando acumuladas por gerações- causam efeitos sobre o bem-estar social, que são tão grandes a ponto de tornarem todos os outros problemas macroeconômicos comparativamente insignificantes", diz ele.

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