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Brasil e UE apontam risco de "desordem"
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SALAMANCA
Os presidentes da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da
Silva, concordaram ontem em
empenhar-se para o êxito da conferência ministerial que a Organização Mundial do Comércio fará
em dezembro em Hong Kong,
sob pena de haver "uma grande
desordem internacional no comércio", caso não se chegue a um
acordo.
O relato da reunião entre os dois
dirigentes foi feito aos jornalistas
pelo assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia.
A Conferência Ministerial é a
instância máxima de decisões da
OMC, e a que se fará em Hong
Kong destina-se a dar impulso decisivo à Rodada Doha, o mais recente ciclo de negociações comerciais, lançado em 2001 na capital
do Qatar, mas estancado desde
então.
Se Hong Kong também fracassar, Lula e Barroso vêem o risco
da explosão de acordos bilaterais,
que, em geral, são mais favoráveis
aos países ricos, que podem impor suas condições. No caso do
Brasil, por exemplo, a melhor
chance de obter concessões na
área agrícola tanto da União Européia como dos Estados Unidos
é no âmbito global.
De todo modo, Barroso insistiu
num ponto que não agrada ao governo brasileiro: para obter concessões agrícolas, o Brasil terá que
fazê-las em bens industriais e serviços. Para o governo brasileiro,
tais concessões já foram feitas
unilateralmente ou em rodadas
anteriores, sem que a agricultura
tivesse entrado no pacote com o
mesmo grau de liberalização.
Lula, de todo modo, disse que o
importante, para Hong Kong, era
"criar um ambiente positivo em
lugar do clima permanente de recriminações entre as partes", como vinha acontecendo até o início
da semana.
Na segunda-feira, no entanto,
os Estados Unidos apresentaram
a sua proposta de abertura agrícola, que o Brasil considerou "insuficiente, mas positiva".
Lula não elogiou, no seu discurso na sessão plenária da Cúpula
Ibero-Americana, a proposta dos
Estados Unidos, ao contrário do
que Marco Aurélio Garcia anunciara na véspera. Limitou-se a dizer: "Não podemos perder a
oportunidade que nos oferece a
Rodada Doha para construir um
mundo mais justo e equilibrado".
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