São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 2006

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Dólar ajuda varejo, e vendas crescem 2,3% em agosto

Puxado por supermercados, desempenho é o melhor desde janeiro deste ano

Para IBGE, renda em expansão, inflação menor, importados com preço mais baixo e crédito maior explicam o crescimento


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

As vendas do comércio varejista, em volume, cresceram 2,32% de julho para agosto na comparação livre de influências típicas de cada período. Foi o melhor desempenho do setor desde janeiro deste ano (4,41%) e interrompeu uma seqüência de dois meses em queda, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Na comparação com agosto de 2005, o crescimento foi de 6,27%. No acumulado de 2006 (janeiro-agosto), as vendas subiram 5,3%. A divulgação do resultado ocorre no momento em que especialistas diziam esperar um resultado tímido no mês e para o terceiro trimestre. A previsão se apoiava na lenta queda dos juros nas lojas e no esgotamento da capacidade de endividamento do trabalhador.
No entanto, para Reinaldo Pereira, economista do IBGE, o incremento da renda, a inflação mais baixa, a competição provocada por produtos importados e a ampliação do crédito explicam o bom resultado. Em agosto, a renda média do trabalhador das seis principais regiões metropolitanas do país subiu 0,7% sobre julho e 3,5% ante agosto de 2005.
Sob efeito da alta do rendimento e da retração dos preços, as vendas dos supermercados e das demais lojas de alimentos e bebidas aumentaram 0,68% de julho para agosto. A alta foi de 7,48% na comparação com agosto de 2005.
A rede de supermercados Pão de Açúcar, uma das maiores do país, disse ontem que as vendas em agosto começaram a dar sinais de recuperação e, em setembro, subiram 2,6%.
Após dois meses de retração nas vendas, o ramo de móveis e eletrodomésticos se recuperou, disse o IBGE. Houve expansão de 7,7% em agosto na comparação com julho. Segundo Pereira, a retomada aconteceu porque os consumidores pagaram dívidas em junho e julho e voltaram às compras em agosto.
Já a invasão de produtos importados de baixo preço teve impacto no desempenho do setor de tecidos, vestuário e calçados -as vendas subiram 3,63% de julho para agosto. "O dólar barato ajudou, sem dúvida, o comércio neste ano", avalia Carlos Thadeu de Freitas, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio). O ingresso de importados de preço baixo, disse ele, amplia a concorrência e força a queda dos itens nacionais.
O economista da CNC acredita que no final do ano as vendas do comércio se manterão aquecidas especialmente por causa da valorização do real. A retração das vendas em junho e julho, segundo Freitas, foi pontual: "Os consumidores pisaram no freio para pagar dívidas, ter condições de tomar novos financiamentos e voltar a comprar no Natal", disse.
Freitas espera que o crédito impulsione com força o consumo no final de 2006. "Apesar de os juros estarem elevados, há muita liquidez. Os bancos estão ávidos para aumentar o volume de crédito, o que será favorável para o comércio."
Menos otimista, Maurício Moura, economista chefe da consultoria Gouvêa de Souza & MD, diz que existem "sinais de alerta" para o final do ano. Citou o fato de o desemprego se manter num patamar elevado e o alto nível de inadimplência -que tende a diluir o efeito positivo do pagamento do 13º salário sobre o consumo.
As análises de especialistas de consultorias como Tendências, RC Consultores e Gouvêa de Souza continuam apontado para uma expansão de 4% a 4,5% no comércio no país em 2006 -mesmo com o dado positivo de agosto. Além disso, economistas lembram que esse crescimento no varejo é desigual: há regiões com expansão mais acelerada que outras.
Segundo o IBGE, o setor de veículos já se beneficiou da expansão do crédito com juros menores e prazos de pagamento mais longos. As vendas das concessionárias subiram 0,54% de julho para agosto e 10,19% sobre agosto de 2005.
No ano, a alta ficou em 4,67%. "Hoje, já é possível comprar um veículo em 60 meses e com juros mais baixos", disse Pereira.


Colaborou ADRIANA MATTOS, da Reportagem Local

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