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Minoritários recorrem contra perda cambial
Acionistas procuram escritórios de advocacia para cobrar reparação de empresas que tiveram prejuízos com operações
Também cresce a busca
feita pelas companhias por seguros para cobrir gastos com honorários de advogados e possíveis indenizações
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O potencial de estrago da crise financeira no setor empresarial brasileiro não se restringe
às perdas com a disparada do
dólar. Enquanto as companhias expostas à variação da
moeda estrangeira procuram
escritórios de advocacia para
reaver o pagamento de suas dívidas, os acionistas minoritários querem reparação pelo
prejuízo, e se intensifica a movimentação na indústria de seguro para cobrir possíveis processos contra os executivos das
companhias.
Nos últimos meses, aumentou a demanda nas corretoras e
seguradoras especializadas em
apólices que cobrem os gastos
com honorários de advogados e
possíveis indenizações, chamados de D&O. Paulo Baptista, gerente de produtos financeiros
da corretora Marsh, com foco
nesse segmento, diz que tem ao
menos 20 consultas em análises. Os clientes querem avaliação mais detalhada dos contratos e checar quais as operações
são cobertas pela apólice.
Segundo ele, esses pedidos
têm aumentado nos últimos
seis meses, mas se intensificaram nos últimos 60 dias, período em que a crise internacional
se agravou. "Comparando historicamente, o número cresceu
muito em função da crise", explicou. Mas, como há defasagem para aparecer o efeito das
turbulências financeiras recentes no balanço das empresas,
ele diz que a expectativa é de
uma demanda ainda maior.
"Estamos na fase de avaliação do potencial de perdas. Sem
dúvida haverá perda, mas não
dá para dimensionar isso ainda", afirmou, ressaltando que
nenhum dos clientes acionou o
seguro porque ainda não há
processos na Justiça. "No nosso entender, isso é questão de
tempo, quando as perdas ficarem evidentes e os investidores
pedirem ressarcimento, sobretudo os acionistas minoritários
e os investidores institucionais,
como fundos de pensão".
A Sadia, uma das primeiras
empresas a assumir publicamente prejuízo (de R$ 760 milhões) com operações em dólar,
já convocou para o dia 3 de novembro uma assembléia geral
extraordinária a pedido dos
acionistas minoritários, comandados pela Previ -o fundo
de pensão do Banco do Brasil,
que tem 7,32%.
Eles querem explicações sobre as operações e, se possível,
mover uma ação de responsabilidade com eventual pedido de
ressarcimento. A Amec (Associação de Investidores no Mercado de Capitais) já está promovendo reuniões com acionistas minoritários da Aracruz,
que também anunciou perdas
que podem chegar a R$ 2 bilhões com operações em derivativos, para seguir o mesmo
caminho.
Segundo o superintendente
da Amec, Edson Garcia, a convocação de uma assembléia é o
primeiro passo antes de decidir
entrar na Justiça. "Na assembléia vai se discutir se a administração da empresa entrará
com ação contra os responsáveis. Se ela não quiser, os acionistas minoritários, que juntos
representem 5% do capital social, podem mover a ação."
Os seguros feitos pelas empresas servem para cobrir reparações e gastos imprevistos
com o processo judicial em função da atuação dos representantes do Conselho de Administração e principais executivos. Esse é um mercado relativamente novo no Brasil. Movimenta cerca de R$ 100 milhões,
o que representa 0,2% do mercado de seguros no país.
As estimativas são as de que
de 3.000 a 4.000 empresas tenham apólices como essas. Elas
custam entre US$ 3.000 e US$
5.000 para cada US$ 1 milhão
de cobertura. Segundo Batista,
numa empresa de capital aberto de médio porte essa cobertura fica entre US$ 10 milhões a
US$ 20 milhões.
Independentemente da discussão com acionistas minoritários, as empresas com empréstimos atrelados ao dólar e
perdas no mercado de derivativo já estão recorrendo a escritórios de advocacia para avaliar
se podem rever os pagamentos
ou processar os bancos que fizeram as operações.
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